Carlos Lyra também morava em Copacabana, na Rua Bolívar, e começou a tocar violão aos 19 anos, por causa de uma perna quebrada quando servia no Exército. Sua mãe, com pena dos quatro meses de imobilidade receitados pelos médicos, resolveu presenteá-lo com um violão. Carlinhos começou a estudar com o método de Paraguassu e, mais tarde, quando saiu do Exército, teve aulas de violão clássico com um sargento da Aeronáutica chamado José Paiva. "Foi ele quem me ensinou a fazer arpejos, escalas e a tocar com uma postura correta, muito necessária na Bossa Nova", conta o compositor. Quando entrou para o Colégio Mallet Soares, Carlos Lyra conheceu Roberto Menescal e Luís Carlos Vinhas e com eles formou um trio estranhíssimo: dois violões e um piano. Mas ainda era tudo levado na brincadeira. O colégio Mallet Soares era a escola certa para eles: até os professores tocavam violão e alguns chegavam a estimular os alunos a matar aula para fazer um som. "Tínhamos um professor chamado César que tocava violão muito bem, e saía com a gente para tocar", conta Lyra. Foi no Mallet Soares que ele começou a compor. Maria Ninguém, clássico da Bossa Nova, foi criada durante as aulas de Francês de dona Iolanda. Além das reuniões na casa de Nara Leão, a turma também frequentava os bares e boates onde se apresentavam Dick Farney, Lúcia Alves, Johnny Alf, Tito Madi, João Donato e Dolores Duran. "Eles foram os precursores da Bossa Nova, prepararam o terreno para a gente" reconhece Lyra. No meio da década de 50, algumas casas noturnas eram o esconderijo da boa música. Num pequeno barzinho numa rua atrás do cinema Rian, chamado Tudo Azul (pela cor dominante de sua decoração interior), Tom Jobim era o pianista efetivo, e figuras conhecidas da noite do Rio não deixavam de aparecer por lá. Naquele local, Rubem Braga fez a célebre apresentação de Vinícius de Moraes a Lila Bôscoli, com a famosa introdução: "Vinícius de Moraes, apresento-lhe Lila Bôscoli. Lila Bôscoli, apresento-lhe Vinícius de Moraes. E seja o que Deus quiser". E foi. Os dois acabaram se casando. Havia também o Clube Tatuís, em Ipanema, onde, além das atividades esportivas, a grande atração eram as jam sessions. O violonista Candinho sempre tocava ali e volta e meia Tom Jobim aparecia para uma "canja". Também as serenatas noturnas nos barquinhos do Posto 6 e os arrastões no Posto 5 eram programas obrigatórios para eles. Nas tardes de domingo, um grupo de músicos, entre eles Gusmão, Freddy Falcão, Durval Ferreira, Maurício Einhorn e Pecegueiro tocavam música moderna no Hotel América, na Rua das Laranjeiras. Os fins de semana musicais no Clube Leblon, com Eumir Deodato, Pecegueiro, Jayme Peres, Waldemar Dumbo e Ed Lincoln, era outro local de encontro entre diversos músicos que viriam a ser importantes nomes da Bossa Nova. Menescal conheceu seu futuro parceiro Ronaldo Bôscoli numa reunião musical na casa do veterano compositor Breno Ferreira, autor de Andorinha Preta. Menescal era amigo do filho de Breno. Sérgio Ferreira, às vezes ia à casa do colega para observar o que faziam Breno e seus amigos. Menescal ia, olhava, gostava e aprendia. "Mas ainda não era a música que eu queria. Na verdade eu queria uma coisa que ainda não sabia o que era", lembra. Numa dessas reuniões, cansado da rodinha que se formara na sala, Menescal resolveu sair para pegar uma cuba-libre - a famosa mistura de rum com refrigerante, a bebida da Bossa Nova -, quando em outro aposento escutou um som diferente. "Era a música com que eu sonhava exatamente o que eu queria ouvir. Só aqueles acordes já me abriram a cabeça." A música vinha da varanda. Curioso, Menescal chegou mais perto. Quem tocava era o violonista Elton Borges, e o jornalista Ronaldo Bôscoli cantava Fim de Noite, uma de suas primeiras composições com Chico Feitosa. Menescal ficou ali escutando, maravilhado. No dia seguinte, na casa de Nara, não parava de falar sobre a música. Mas ele não sabia nem o nome de Ronaldo e somente um ano mais tarde voltariam a se encontrar. Bôscoli passava na praia e foi abordado por Menescal, que o convidou a conhecer a turma na casa de Nora. Ronaldo concordou e disse que ia aparecer com um amigo, Chico Feitosa. (...) Continua na próxima postagem. Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996.
Boa leitura - Namastê
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