Sobre Coltrane, escreve o crítico André Francis: "Não poucos medíocres julgaram poder imitar Coltrane. Ora, tocar como ele exige uma fé enorme. Coltrane era puro, generoso, gostava do mundo; seu rosto espelhava calma e franca formosura. Os que o imitam não passam de aproveitadores. (...) Em tudo a vida de John Coltrane é exemplar. Nenhum escândalo, nenhuma fraqueza, quase nenhuma anedota frívola: música, isso sim, acima de tudo. (...) Muitos há que tocam e agem como ele (...) Mas falta-lhes a mesma fé." Dificilmente se poderia acrescentar algo a tais palavras". John Coltrane como saxtenorista mais cultuado do jazz um bom jazofilo já sabe e degusta de sua ousada e inédita exploração do espaço sonoro jazzístico - poucos bebem. Trane desenvolveu um estilo próprio onde predominavam as chamadas "Sheets of Sound" ou folhas/camadas de som num português arranhado, que se compunham de longas frases de notas rápidas tocadas em legato. Coltrane embarca numa radicalização da harmonia que o leva à beira do atonalidade. Também fragmenta e desconstrói os temas deixando-os quase irreconhecíveis sob um congestionamento de frases torturadas. Embora vindo do hard bop - o Coltrane de 1955 a 1965 já podia ser considerado em certo sentido um precursor do free jazz. Coltrane começou no início com o jazz modal ao lado de Miles seu primeiro mentor. Quem observar os solos de Trane no disco Blue Train (1957) e depois compará-los com os solos do Giant Steps (1959) gravado na mesma época que o Kind of Blue de Miles, poderá perceber uma considerável evolução que transformou seu fraseado bebop em um estilo próprio de fraseado: através do estudo intensivo em busca de uma identidade cada vez mais própria, suas improvisações ficaram cada vez mais viscerais, seus voos mais virtuosos e seus discos passaram a ser mais originais. Como o jazz modal era um conceito que fazia o uso das escalas modais gregas ao invés de usar a convencional sequência de cifras para harmonizar a música, Trane passou a improvisar uma sequência absurda de notas ligadas em combinações de escalas, as quais mudavam a todo o momento (essa característica mudou o seu swing e deixou seus solos mais compridos, intensos e dinâmicos). Essa técnica de tocar uma sequência absurda de notas ligadas já tinha sido rotulada pelo crítico Ira Gliter um pouco antes como "sheet of Sounds (camadas de sons); e esse seu conceito harmônico de improvisar sequências de modos de escalas, ou seja, improvisar escalas que mudavam a todo o momento, chamaram de "Coltrane Changes" (mudanças de Coltrane). Como exemplo a faixa título do disco Giant Steps de 1959. Na década de 50, tirando o fato de Coltrane ter se casado com uma moça convertida à religião islâmica chamada Naima (a qual, ele dedicou a faixa Naima no disco Giant Steps), há poucos vestígios do uso temático das suas descobertas religiosas em suas composições. Já na década de 60, com o surgimento do free jazz de Ornette Coleman, Coltrane não só começou a levar sua música ao caminho da improvisação livre como também usou e abusou de temáticas que levaria sua obra ao cúmulo do misticismo: trata-se de uma fase mais "free" e "spiritual", que influenciaria muitos outros músicos daquela época e da década de 70. Aliás o disco mais "sóbrio" e convencional que Coltrane gravou de 1960 até 1967 foi o Duke Ellington and John Coltrane de 1962 em colaboração com o lendário pianista e bandleader Duke Ellington, um dos maiores mestres do início do jazz. Mas Trane já havia gravado por exemplo um disco chamado Avant-Garde com o trompetista Don Cherry em 1960 - onde ele inaugurava sua preferência pelo estilo de Free Jazz de Ornette Coleman e começava a deixar de lado as reminiscências do bebop e hard bop - e também já tinha gravado Olé Coltrane e África Brass (1961), discos com peças e arranjos interessantes para um insula conjunto orquestral que incluía músicos fantásticos como os trompetistas Freedie Hubbard e Booker Little, contrabaixista Art Davis, o saxofonista e flautista Eric Dolphy e os músicos que constituiria o seu legendário e clássico quarteto: o pianista McCoy Tyner, o baterista Elvin Jones e o contrabaixista Jimmy Garrison, com os quais Trane gravaria o seu mais famoso álbum, chamado A Love Supreme (uma devoção ao Deus, Todo Poderoso). Esses discos gravados de 1960 à 1964, foram "obras de transição" para o período mais selvagem, free, cósmico e místico que Coltrane passaria a explorar a partir de 1965 através de discos temáticos como Ascencion, Om, Cosmic Music, Kulu Se Mama, Meditations, Interstellar Space e Expression. Essa fase de 1965 até sua morte em 1967 a qual ele inicia apresentando-se com seu amigo saxtenorista Pharoah Sanders e com sua segunda esposa e harpista Alice Coltrane, foi influenciada por músicos vanguardistas como Ornette Coleman, Sun Ra, John Gilmore e principalmente pelo som selvagem e ríspido do saxtenorista Albert Ayler. The Other Village Vanguard Tapes são fragmentos do show realizado no famoso clube Village Vanguard em 1961. Gravado em 02,03,04 e 05 de Novembro de 1961 no Live at the Village Vanguard - New York City.
Faixas:
CD1
01 - Chasin' the Trane
02 - Spiritual
03 - Untitled Original
CD-1
01 - India
02 - Greensleeves
03 - Spiritual
Eric Dolphy - Clarinete (Apenas faixa. 02)
Reggie Workman - Baixo Acústico
Jimmy Garrison - Baixo Acústico
Elvin Jones - Bateria
McCoy Tyner - Piano
Boa audição - Namastê.
3 comentários:
Gostei do novo visual do blog.
Agradeço sua visita.
Excelente postagem. Coltrane é maravilhoso.
Beijos.
Babei...!
maravilha de blog.grato pelas postagens.
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