quarta-feira, 8 de julho de 2009

1953 - Ensemble - Chet Baker

“Na primavera de 1959, meu caso de Nova York veio à tona e peguei seis meses de prisão na ilha de Rikers. Passei 10 dias na enfermaria, antes de ser integrado à “população”. Recebi a tarefa de instrutor no departamente de música. Havia lá uns outros 12 músicos. Ficávamos o dia todo no ginásio – ensaiando ou jogando basquete. De noite, na ala das celas, jogávamos pôquer, xadrez, bridge, líamos, ou assistíamos a uma dupla de grandes dançarinos; lembro-me de que um deles era chamado de “Baby Lawrence”. Fui libertado em quatro meses (bom comportamento), e parti imediatamente para a Europa. Halema e Chetie foram comigo. Participei do Festival de Comblain La Tour, e viajei para Itália. Comecei a tomar Jetrium, um remédio alemão que não precisava de receita. Voava de Milão para Munique sem bagagem, enchia os bolsos do meu pesado sobretudo com caixas de Jetrium injetável (efeito duplo, 13,5 miligramas por centímetro cúbico), e voltava à Itália. Jetrium era a coisa mais próxima de heroína que eu havia encontrado, mas logo fui ficando resistente à droga, pois estava usando de 1000 a 1200 miligramas por dia. Fiquei em péssimo estado – branco como giz, sem fome, e tendo calafrios terríveis e freqüentes. Meus amigos me convenceram a procurar um médico. Depois de me examinar e analisar, o doutor me deu quatro ou seis meses de vida se continuasse a tomar Jetrium. Falei com o pessoal do lugar onde estava trabalhando, chamado Santa Tecla, e internei-me na clínica de Villa Turo, em Milão, para uma sonoterapia. Dormi durante 7 dias, alimentado, intravenosamente, por enormes garrafas penduradas em cima de mim. Passei a me sentir muito bem, e consegui – com a ajuda do consulado americano – sair trinta dias antes do previsto. Retornei ao Santa Tecla e, certa noite, conheci Carol. Ela trabalhava no Olympia, um dos maiores clubes do mundo (1600 lugares), como uma das quatro apresentadoras (cada uma anunciava um segmento do show). De vez em quando, eu pegava meu Alfa e corria para o Olympia, entre os sets, só para zanzar entre os bastidores. Era uma coisa de louco! Havia um montão de moças indo e vindo, escassamente vestidas. Era o máximo! Gamei por Carol, e ela deixou o show para viajar comigo. Os jornais italianos fizeram a maior fofoca comigo e Carol. Halema mandou Chetie para a casa dos meus parentes e ficou me seguindo por uns tempos. Tínhamos cenas terríveis nos clubes quando ela aparecia. Passei a procurar médicos diferentes a cada semana para obter receitas. Tinha um bom médico logo do outro lado da fronteira, na Suíça. Mas procurava manter meu vício sob controle.
Quando estava trabalhando no La Bussola, um clube bacana e caro, de alto nível, na praia de Focette, a menos de dois quilômetros de Viareggio, conheci o dr. Lippi Francescomi. Ele era diretor de uma pequena clínica em Lucca. Instalei-me na Clínica Santa Zita, e fiquei tomando grandes doses diárias de vitaminas e outros medicamentos, mais doses decrescentes de Palfium.
Nessa época, estava ficando muito difícil me picar – as veias, baleadaças, estavam esaparecendo. O dr. Francesconi levou-me ao clube todas as noites, esperava que eu tocasse e voltava comigo para a clínica. Carol e eu nos encontrávamos noite após noite. Tínhamos um quarto numa pensione, a Villa Gemma. O gerente tentava me ajudar. Antes do meu retorno à clínica; tinha um médico que receitava Palfium para mim, em seu nome. Um outro bom amigo, um advogado em visita à Itália, também me arranjava receita. Uma vez, tive de ir ao clube durante o dia. O dr. Francesconi não podia sair comigo; aluguei um Fiat e fui para a praia. Parei num posto de gasolina a fim de me aplicar uma injeção. Demorei uns quarenta e cinco minutos para fazer a cabeça. Havia acabado de me recuperar, e já ia sair, quando bateram na porta. O frentista chamara a polícia. Tive de ir com eles até a delegacia. Ligaram para o dr. Francesconi, que explicou a minha situação e me levou de volta à clínica. No dia seguinte, a manchete do jornal local foi "Chet Baker Preso em Banheiro de Posto de Gasolina". A notícia ia em frente: a polícia teria derrubado a porta, o banheiro estava coberto de sangue etc etc.
Fonte: Memórias Perdidas por Chet Baker.
Ensemble apresenta um Chet à frente de novas canções com uma das melhores sessões ritmicas da Costa Oeste. Com a pressão da gravadora (Blue Note) para preencher lacuna, força Baker a reunir de última hora canções ainda não prontas e de quebra ligeiras no tocar. Gravado menos de dois meses do lendário "Chet Baker Sings sessões", onde o publico ficou enfeitiçado com os vocais de Baker ate então não conhecidos. "Ensemble" montra o jovem Baker como um hardcore jazz de extrema ousadia. Pouco se saber deste álbum que na verdade nem costa na discografia oficila de Baker. Tudo leva a crer de se tratar de uma coletânia com arranjos do saxofonita Jack Montrose (1928- 2006). Gravado no Capitol Studios, Hollywood, California (12/1953).

Faixas:
01 - Bockhanal
02 - Ergo
03 - Moonlight Becomes You
04 - Headline
05 - Dandy Line
06 - Little Old Lady
07 - Goodbye
08 - Pro Defunctus
09 - Bockhanal (Alternate Take)
10 - Moonlight Becomes You (Alternate Take)
11 - Dandy Line (Alternate Take)
12 - Little Old Lady (Alternate Take)
13 - Goodbye (Alternate Take)

Musicos:
Chet Baker - Trompete
Herb Geller - Sax. Alto e Tenor
Jack Montrose - Sax. Tenor
Bob Gordon - Sax. Barito
Russ Freeman - Piano
Joe Mondragon - Baixo Acustico
Shelly Manne - Bateria

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Boa audição - Namastê.

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