quinta-feira, 21 de julho de 2022

Fatos biograficos de Lady Day


 Por ser negra e pobre, Billie enfrentou dificuldades desde muito pequena, passando por todos os infortúnios possíveis. Ainda criança, aos 10 anos, foi violentada por um vizinho, afastada da mãe e internada em uma casa de correção. Quando saiu, aos doze anos, começou a trabalhar como faxineira e lavava assoalhos em prostíbulo (para sua alegria, a patroa da casa deixava que ela ouvisse os discos de Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola). Aos catorze anos, morando novamente com sua mãe, em Nova York, caiu na prostituição. A entrada na música veio em um momento de desespero: sob ameaça de despejo e sem dinheiro para pagar as dívidas de sua mãe, saiu às ruas à noite e ofereceu-se para trabalhar como dançarina em um bar. A tentativa de se mostrar apta ao trabalho deixou o pianista do local com pena, tamanha sua falta de jeito, e ele a perguntou se ela sabia cantar. Saiu de lá com emprego fixo. Billie fez parte das big bands de Artie Shaw e Count Basie, sendo uma das primeiras negras a cantar com uma banda de brancos, e no auge da segregação racial. Na maioria de suas turnês nos anos 1930, Billie não enfrentava preconceito apenas na plateia, mas por seus próprios contratantes e nos hotéis que a recebiam para os shows. Era obrigada a entrar pela porta dos fundos e, na estrada, nas paradas comuns aos viajantes, ela ficava do lado de fora dos restaurantes. Nos estados mais racistas, no sul do país, muitas vezes era obrigada a fazer suas necessidades na rua. O pai de Billie morreu quando, enfermo, vagava pelo Texas a procura de um hospital que não se recusasse a atendê-lo pelo fato de que se tratava de um negro. Não encontrou e quando enfim conseguiu provar em um hospital militar que tinha servido ao exército norte-americano e podia ser atendido, já não havia mais tempo para ajudá-lo.  “Strange Fruit”, imortal na voz de Billie, é a primeira canção de protesto explícito contra o racismo e os linchamentos de negros comum no sul dos Estados Unidos em tempos de segregação. De forma extremamente poética, a canção ilustra o modo como eles eram exibidos ao público, pendurados em árvores como frutos estranhos. Billie levou essa realidade aos bares e bordéis, o que a rendeu uma porção de inimigos. Billie afirmava se sentir totalmente exausta e deprimida sempre que acabava de cantar “Strange Fruit”- o que ficou ainda pior depois da morte do pai (a partir daí, a música era sempre a última dos shows). Mesmo com todo o sofrimento, ela garantia que permaneceria cantando porque, décadas depois, negros continuavam morrendo pela mesma razão: apenas por serem negros. Uma vez Billie foi agredida em um bar após seu show por estar conversando com um homem branco, seu amigo. “Não somos obrigados a ver isso, isso é um absurdo”, exclamou o agressor, frisando que se o branco gostaria de estar com uma mulher negra, que o fizesse em privado. Billie sempre foi passada para trás em suas finanças – o que era ainda pior em uma época em que as artistas negras costumavam ser lesadas em contratos e direitos autorais. No caso de Billie, isso se tornou ainda pior por seus relacionamentos com homens abusivos. Entre seus principais amores estão Joe Guy, traficante e músico, e Louis McKay, um membro da máfia violento e agressivo. Extremamente deprimida, Billie se entregou completamente ao álcool e à heroína nos anos 1940. E se já era difícil ser mulher, se já era difícil ser negra, era praticamente impossível ser drogada quando se era mulher e negra. Nenhuma perseguição a artistas com problemas com narcóticos se comparou ao que Billie sofreu na mão dos policiais quando já estava muito enferma. Foi presa três vezes e morreu em um quarto de hospital algemada à cama, com dois policiais na porta.

Boa leitura - Namastê

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