Billie Holiday é reconhecida como a maior intérprete que o jazz já produziu. Com interpretações intensas e com sentimento encantou o público e mudou a arte dos vocais para sempre. Mais de meio século depois de sua morte é difícil acreditar que as vocalistas de jazz antes de seu surgimento raramente personalizavam suas canções; na verdade, apenas as cantoras de blues como Bessie Smith e Ma Rainey davam a impressão de que tinham vivido o que estavam cantando. Billie Holiday fez a leitura desta tradição do blues e revolucionou o jazz e o pop tradicional, rasgando a tradição de décadas se recusou a comprometer sua arte. Em sua autobiografia, ela admitiu que sempre quis ser uma cantora como Bessie Smith e ter o sentimento de Louis Armstrong, e que muitas vezes tentou cantar como um trompete. mas, na verdade, seu estilo era praticamente ela própria. A tragédia pessoal e as drogas marcaram a sua vida. Mas todo o lixo que ela viveu era transformado pelo seu canto. Surras, prisões, droga pesada, mais o drama de uma cantora negra naquele tempo, quando muitas vezes nos hotéis onde se hospedava, no auge da carreira, era ‘convidada’ a subir pelo elevador de serviço para que não se misturasse com os brancos. Tudo isso foi transformado em interpretações históricas. Quando se ouve Billie cantar, sente-se que ela está contando sua história. Era linda, louca, sexy e livre. Billie é a minha deusa. Com seu estilo brilhando em cada gravação, a sua perícia técnica também se destacou em comparação à grande maioria de seus contemporâneos. Muitas vezes entediada e cansada das velhas canções que ela era forçada a gravar no início de sua carreira, Billie brincava com a melodia e rejuvenescia as canções com harmonias emprestadas de seus instrumentistas favoritos, Louis Armstrong e Lester Young. A sua notória vida privada com uma série de relações abusivas, dependência de substâncias químicas e períodos de depressão, sem dúvida, ajudaram seu status lendário. ‘Lover Man’, ‘Don't Explain’, ‘Strange Fruit’ e sua própria composição ‘God Bless the Child’, que versa sobre a pobreza, estão entre os seus melhores desempenhos e permanecem entre as apresentações mais sensíveis já registradas. Mais do que a capacidade técnica, mais do que a pureza da voz, o que fez Billie Holiday uma das melhores vocalistas do século foi o seu temperamento implacavelmente individualista. A vida caótica de Billie Holiday, supostamente, começou em Baltimore quando ela nasceu como Eleanora Fagan Gough. Seu pai, Clarence Holiday, foi um adolescente guitarrista de jazz que mais tarde tocou na Orquestra de Fletcher Henderson. Sua mãe também foi uma jovem adolescente, e se por causa de inexperiência ou negligência, muitas vezes deixava a filha com parentes indiferentes. Billie foi expulsa da escola católica com 10 anos, depois que admitiu ter sido estuprada, e condenada a ficar presa até a idade adulta foi liberada depois de dois anos por um amigo da família. Com a mãe, ela se mudou em 1927, primeiro para New Jersey e, logo depois para o Brooklyn. Em New York, Billie ajudava a mãe como empregada doméstica, mas logo começou a se prostituir para ter uma renda adicional. E já cantava em clubes do Harlem desde 1930. Teve um pouco de publicidade no início de 1933, quando o produtor e caçador de talentos John Hammond, também no início de uma carreira legendária, escreveu sobre ela em uma coluna para o mais antigo jornal sobre música já existente, o ‘Melody Maker’, do Reino Unido, e trouxe Benny Goodman a uma de suas apresentações. Depois de gravar uma demo na Columbia Studios, Billie se juntou ao pequeno grupo de Goodman para fazer sua estreia comercial com a música ‘Your Mother's Son-In-Law’. Apesar de não voltar ao estúdio por mais de um ano, Billie passou 1934 galgando os degraus da competitiva cena dos bares de New York. No início de 1935, ela fez sua estreia no Teatro Apollo, e apareceu em um filme com Duke Ellington. Durante a última metade de 1935, finalmente entrou em um estúdio novamente e gravou quatro sessões. Com uma banda supervisionada pelo pianista Teddy Wilson, ela gravou uma série de canções obscuras e esquecíveis da Tin Pan Alley, nome dado à editora de música de New York e seus compositores que dominaram a música popular dos Estados Unidos no final do século 19 e início do século 20. Em outras palavras, músicas disponíveis apenas para uma banda obscura de afroamericanos dos anos 30. Durante a era do swing, as editoras de música mantinham as melhores músicas estritamente nas mãos de orquestras populares e cantores brancos. Apesar da qualidade pobre das canções, Billie energizou essas canções. No final de 1937, gravou vários números com um pequeno grupo, mais uma descoberta de John Hammond, a orquestra de Count Basie. O saxofonista tenor Lester Young, que tinha conhecido brevemente Billie alguns anos antes, e o trompetista Buck Clayton se tornaram seus parceiros. E juntos gravaram o seu melhor trabalho e Billie deu o apelido de ‘Pres’ a Young, enquanto ele a apelidou de ‘Lady Day’ por sua elegância. Na primavera de 1937, ela começou a excursionar com Basie como o complemento feminino de seu vocalista masculino, Jimmy Rushing. A associação durou menos de um ano. Embora oficialmente ela tenha sido despedida da banda por ser temperamental e pouco confiável, a verdade é que o alto escalão do mundo editorial ordenou a ação depois que ela se recusou a cantar clássicos de blues dos anos 20. Menos de um mês depois de deixar Basie, ela foi contratada por Artie Shaw, um dos primeiros exemplos de uma mulher negra que apareceu com um grupo branco. Apesar do apoio contínuo de toda a banda, no entanto, promotores e patrocinadores de rádio logo começaram a contestar Billie, com base em seu estilo de cantar pouco ortodoxa, e também por ser negra. Após uma série de indignidades Billie deixou a banda com desgosto. Mais uma vez, a sua percepção foi valiosa, a maior liberdade lhe permitiu dar um show em um novo clube chamado ‘Café Society’, a primeira boate popular com um público inter-racial. Lá, Billie Holiday aprendeu a canção que iria catapultar sua carreira para um novo nível: ‘Strange Fruit’. ‘Strange Fruit’ é uma canção que condena o racismo americano, especialmente o linchamento de afro-americanos que ocorreu principalmente no sul dos Estados Unidos, mas também em outras regiões do país. ‘Strange Fruit’ foi composta como um poema, escrito por Abel Meeropol, um professor judeu de colégio do Bronx, sobre o linchamento de dois homens negros. Ele a publicou sob o pseudônimo de Lewis Allan. Abel Meeropol e sua esposa adotaram, em 1957, Robert e Michael, filhos de Julius e Ethel Rosenberg, acusados e condenados por espionagem e executados pelo governo dos Estados Unidos. Embora Billie inicialmente manifestasse dúvidas sobre a inclusão de tal música em seu repertório, ela o fez confiando em seus poderes de sutileza. E ‘Strange Fruit’ logo se tornou o destaque em suas apresentações e foi gravada. Uma vez liberada, ‘Strange Fruit’ foi proibida por muitas estações de rádio. Billie continuou a gravar e atingiu novamente grande sucesso com a sua mais famosa composição de 1941, ‘God Bless the Child’ e em 1944 com ‘Lover Man’, uma canção escrita especialmente para ela e seu terceiro grande hit. Billie logo se tornou prioridade para a ‘Decca Records’, ganhando o direito de material musical de alta qualidade e seções de cordas de luxo para suas gravações. Apesar de estar no alto da popularidade, a vida emocional de Billie começou um período turbulento. Já fortemente viciada em álcool e maconha, começou com o ópio com seu primeiro marido, Johnnie Monroe. O casamento não durou, e o vício na heroína veio com o segundo casamento com o trompetista Joe Guy. A morte de sua mãe a afetou profundamente, e em 1947 ela foi presa por posse de heroína e condenada a oito meses de prisão. Infelizmente, os problemas continuaram depois de sua libertação. As drogas tornaram impossíveis as suas apresentações. Atormentada ela seguiu em frente. Embora os estragos de uma vida dura estivessem refletidos em sua voz, muitas das gravações de Billie doa anos 50 são tão intensas e belas quanto sua obra clássica. Em 1954, Billie excursionou pela Europa com grande sucesso, e sua autobiografia de 1956 trouxe ainda mais notoriedade. Ela fez sua última grande aparição, em 1957, na televisão em um especial com Ben Webster, Lester Young e Coleman Hawkins dando-lhe apoio. Durante seu último ano, ela fez mais duas apresentações na Europa antes de cair doente do coração e doença hepática em 1959. E foi presa por posse de heroína em seu leito de morte. Morreu no mesmo ano. O filme ‘Lady Sings the Blues’ de 1972 interpretado por Diana Ross ilumina a sua vida trágica e lhe deu muitos fãs de novas gerações. - Fonte: Pintando Musica
Boa leitura - Namastê
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