sexta-feira, 19 de junho de 2009

1988 - Live in Germany - Miles Davis

“Trane era o saxofonista mais ruidoso e mais rápido que eu já ouvi. Tocava rápido e alto, ao mesmo tempo, o que é difícil de fazer. Porque quando a maioria dos músicos toca alto, se trava. Já vi muitos saxofonistas se enrolarem tentando tocar assim. Mas Trane fazia isso e era fenomenal. Era como se estivesse possuído, quando levava aquele instrumento à boca. Era muito apaixonado – feroz – e ao mesmo tempo muito tranqüilo e delicado quando não estava tocando. Um cara puro. Jamais compôs coisa alguma durante o tempo que esteve em meu conjunto. Tudo que fazia era começar a tocar. A gente conversava muito sobre música nos ensaios e a caminho do trabalho. Eu lhe mostrava muita coisa, e ele sempre escutava. E eu dizia: - Trane, tome aqui estes acordes, mas não é pra tocar assim o tempo todo, não, sabe? Isso quer dizer que você tem dezoito, dezenove coisas diferentes pra tocar em dois acordes. Ele ficava ali sentado, de olhos arregalados, absorvendo tudo. Trane era um inovador, e a gente tem de dizer a coisa certa às pessoas desse tipo. Por isso que eu mandava que ele começasse no meio, pois era assim que sua cabeça funcionava mesmo. Ele buscava desafios, e se a gente lhe desse o troço errado, ele não escutaria. Mas era o único músico que podia tocar aqueles acordes que eu lhe dava sem fazê-los soar como acordes. Depois do trabalho, ele voltava pra seu quarto de hotel e praticava, enquanto todos os demais andavam pela rua. Praticava durante horas, depois de acabar de tocar três sets. E mais tarde, em 1960, quando lhe dei um sax soprano que conseguira com uma conhecida de Paris, uma antiquária, isso teve um efeito no seu tenor. Antes de ganhar aquele soprano, ele ainda tocava com Dexter Gordon, Eddie “Lockjaw” Davis, Sonny Stitt e Bird. Depois de ganhar o instrumento, seu estilo mudou. Depois disso, não tocava mais como ninguém a não ser ele mesmo. Descobriu que podia tocar mais suave e mais rápido no soprano que no tenor. E isso realmente o deixou ligado, pois não podia fazer no tenor o que podia no alto, porque o soprano é um instrumento direto, e como ele gostava do registro baixo, descobriu que também podia pensar e ouvir melhor com o soprano do que com o tenor. Quando tocava o soprano, depois de algum tempo, parecia mais uma voz humana, um lamento. Depois que gravamos aqueles últimos lados pra Prestige, em outubro de 1956, levei o grupo de volta ao Café Bohemia, e foi lá que aconteceu muita coisa entre Coltrane e eu. Essas coisas já vinham se acumulando há algum tempo. Cara, era uma merda ver o que ele fazia consigo mesmo, a essa altura já se achava realmente dependente da heroína, e também bebendo muito. Chegava atrasado e cabeceava no palco. Uma noite, fiquei tão puto com ele que lhe dei um tapa na cabeça e um soco na barriga, no camarim. Thelonious Monk estava lá nessa noite; fora ao camarim dar boa-noite e viu o que eu fiz com Trane. Quando viu que Trane não reagia e apenas ficava ali sentado como um bebezão, se revoltou. Disse a Trane: - Cara, do jeito que você toca saxofone, não tem de aceitar essa merda; pode vir tocar comigo quando quiser. E você Miles, não devia bater nele desse jeito. Eu estava tão puto que pouco ligava pro que Monk dizia, porque, pra começar, não era da conta dele. Despedi Trane essa noite, e ele voltou pra Filadélfia, pra tentar se livrar do vício. Me senti mal mandando-o embora, mas não via que mais podia fazer nas cincunstâncias. Por mais que eu gostasse de Trane, nós não andávamos juntos depois que deixávamos o estrado, porque tínhamos estilos diferentes. Antes, era porque ele vivia afundado na heroína, e eu acabara de sair dessa. Agora ele estava limpo e quase não saía, voltava direto pro hotel, pra praticar. Sempre levara a música a sério, e sempre praticara muito. Mas agora era quase como se estivesse numa espécie de missão. Me dizia que já fizera muita confusão, perdera muito dinheiro e não dera muita atenção à sua vida pessoal, à sua família e, acima de tudo, à sua música. Portanto, só se preocupava em tocar sua música e crescer como músico. Era só no que pensava. Não podia ser seduzido pela beleza de uma mulher, porque já fora seduzido pela beleza da música, e era fiel à sua esposa. Quanto à mim, depois que acabava a música, eu saía logo buscando a dona boa com quem ia ficar naquela noite. Cannonball Adderley (vocal) e eu conversávamos e saíamos às vezes, quando eu não estava com alguma mulher. Philly e eu ainda éramos amigos, mas ele vivia se enchendo de droga, ele, Paul e Red. Mas éramos todos amigos e todos nos dávamos muito bem juntos.” (“Miles Davis, a Autobiografia” - pp 180, 194 e 195).
Confesso que este arquiivo é um presentão aos amantes do genio e perfeccionista Miles Davis na fase anos 1980. Isso até assistir aos DVDs “Live in Germany" de 1988 gravado no Munich Phillarmonic Concert Hall durante o festival Münchner Klaviersommer88, trazendo além do próprio Miles em performasse ja conhecidas, destaque do maravilhosos momentos do saxofonista e flautista Kenny Garrett, da iniqualavel percussionista Marilyn Mazur, o baterista Ricky Wellman e seu solo de quase 10 minutos na antologica "Carnival Time", e do baixista JosephFoleyMcCreary com seu famoso baixo azul com afinação alta e efeito de distorção, simulando uma guitarra. Em 2005 foi lançado um álbum triplo, que inclui este show completo (no DVD faltam quatro faixas) e uma faixa bônus gravada em 1970 no Isle Of Wight Festival. Uma boa diga é assistir ao DVD em sua integra e ver as ultimas cena de Miles com tanto euforrismo. Vale apena conferir. IM - PER - DÍ - VEL!!!!

Faixas
01 - Perfect Way
02 - Human Nature
03 - Tutu
04 - Splatch
05 - Heavy Metal (Prelude)
06 - Heavy Metal
07 - Don’t Stop Me Now
08 - Carnival Time
09 - Tomaas
10 - New Blues
11- Portia

Musicos:
Miles Davis – Trompete & keyboards
Kenny Garrett – Sax. alto & Flauta
Joseph “Foley” McCreary – Baixo Acustico(Lead)
Benjamin Rietveld – Baixo Acustico
Bobby Irving – Keyboards (lead)
Adam Holzman – Keyboards
Marilyn Mazur – Percussão
Ricky Wellman – Bateria

Download Here - Click Aqui
Boa audição - Namastê.

2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu Namastê!

Anônimo disse...

Namastê o link esta morto tens alojado noutro sitio ?

Valeu