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domingo, 14 de julho de 2019

1963 - Stan/Gilberto - Stan Getz & Joao Gilberto



Artista: Stan Getz & João Gilberto
Album: Getz / Gilberto
Lançamento: 1963
Selo: Verve
Gênero: Bossa Nova, Brazilian Songs, Latino Jazz
“Eu quero que o Brasil faça silêncio para ouvir João Gilberto. Que os brasileiros 
ouçam mais João Gilberto” - Maria do Céu Harris

Boa audição - Namastê

domingo, 30 de junho de 2019

1998 - Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim - Frank Sinatra & Tom Jobim



Album: Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim
Artista: Frank Sinatra & Tom Jobim
Lançamento: 1967
Selo: Universal Music Group International 
Gênero: Bossa Nova, Vocal Jazz, Latino Jazz
Sinatra e Jobim (“Tone”, como The Voice chamava o maestro) gravaram outro trabalho juntos. Em 1969, reuniram-se para um novo álbum. O resultado, irregular, saiu na compilação Sinatra and company, que veio a público somente em 1971. Outras três faixas deste mesmo encontro em estúdio permaneceram inéditas até 2010, quando foi lançado o álbum duplo Sinatra/Jobim: The complete Reprise recordings, que reuniu as gravações feitas em 1967 e em 1969. Desta maneira, é o trabalho de anos atrás que deve permanecer do encontro dos dois gigantes da música. Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim é um álbum deveras silencioso, para ser degustado aos poucos. Sem pressa, e por muitas e muitas vezes.
Boa audição - Namastê

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Encontro clássicos Tom Jobim & Frank Sinatra

Enquanto tomava chope com amigos no mesmo bar celebrizado por “Garota de Ipanema”, Tom Jobim recebeu o mais surpreendente telefonema de sua vida. Do outro lado da linha, ninguém menos que Frank Sinatra "The Voice” que queria gravar um disco só com músicas de Tom que topou na hora. Foi uma conversa curta:

"Quero fazer um disco com você e saber se você gosta da idéia" - perguntou Sinatra ao telefone.
"É uma honra" - respondeu Tom.

O cantor sugeriu que Tom tocasse violão. Apesar de não gostar da idéia Tom aceitou. Mas também fez um pedido de colocar um um baterista brasileiro por nome de "Dom Um Romão" que foi prontamente aceito pelo cantor, depois de comentar: "Não tenho tempo para aprender canções novas e detesto ensaiar. Vamos ficar com as mais conhecidas, os clássicos". Quando se recuperou da surpresa Tom lembrou-se da esnobada que um editor nova-iorquino lhe dera três anos antes envolvendo indiretamente a figura de Sinatra. Em 1963, Tom procurou um agente em Nova York e reclamou com ele da má qualidade das versões americanas de suas músicas. "Como é que o Frank Sinatra vai gravar minhas músicas com essas letras?", ponderou Tom. "E quem é que disse que o Frank Sinatra vai gravar suas músicas", replicou o agente com um debochado sorriso nos lábios. Em janeiro de 1967 hospedou-se no Sunset Marquis de Los Angeles para dar início ao trabalho, afinal adiado porque Sinatra refugiara-se em Barbados para esquecer mais uma desavença conjugal com Mia Farrow. Enquanto esperava repassou todos os arranjos com Ogerman, compositor, arranjador e regente alemão, compôs mais duas músicas (“Wave” e “Triste”) e quase morreu de tédio. Enquanto esperava um sinal de Sinatra, Tom escreveu várias cartas a Vinícius e numa delas autodefiniu-se como "um infeliz paralisado num quarto de hotel, esperando o chamado para a gravação, naquela astenia física que precede os grandes acontecimentos, vendo televisão sem parar e cheio de barrigose". E assinava: "Astênio Claustro Fobim". As gravações começaram às 20h do dia 30, no Studio One da Warner Western Sound em Sunset Strip. Por precaução, Sinatra gravou primeiro duas das três canções americanas incluídas no repertório, “Baubles, Bangles and Beads” e “I Concentrate on You”, com as quais só não tinha intimidade em ritmo de Bossa Nova. A primeira de Tom que ele encarou foi “Dindi”, seguida de “Change Partners”. A última faixa da noite foi “Inútil Paisagem”. Apesar do natural nervosismo do brasileiro a sessão transcorreu num clima de extrema afabilidade. Nas duas noites seguintes não seria diferente. A crítica americana elegeu o encontro de Sinatra e Jobim o álbum do ano. Nas vendas perdeu apenas para “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles. Um segundo disco com os dois seria gravado dois anos depois, em 1969 com o título de “Sinatra & Company”, com arranjos de Eumir Deodato. Àquela altura, Tom e o cantor já haviam se tornado amigos. Quando dos preparativos de um especial sobre Sinatra no A Man and His Music, co-estrelado por Ella Fitzgerald, para a rede de televisão NBC em setembro de 1967, Francis Albert não se esqueceu de convidar Antonio Carlos. Sinatra, aliás abriu o programa cantando “Corcovado”.
Gravado em 30 de Janeiro e 01 de Fevereiro de 1967, Hollywood - Los Angeles, pelo selo Reprise Records. Produção de Sonny Bulke. Em 1968, Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim foi indicado para o Grammy de Álbum do Ano.
Boa leitura - Namastê

domingo, 23 de junho de 2019

2010 - Sinatra/Jobim: The Complete Reprise Recordings - Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim

Album: Sinatra/Jobim: The Complete Reprise Recordings
Artista: Frank Sinatra & Tom Jobim
Lançamento: 2010
Selo: Universal Music Group International 
Gênero: Bossa Nova, Vocal Jazz, Latino Jazz
O cantor (Sinatra) sugeriu que Tom tocasse violão. Apesar de não gostar da idéia Tom aceitou. Mas também fez um pedido de colocar um um baterista brasileiro por nome de "Dom Um Romão" que foi prontamente aceito pelo cantor, depois de comentar: "Não tenho tempo para aprender canções novas e detesto ensaiar. Vamos ficar com as mais conhecidas, os clássicos".
Boa audição - Namastê

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Encontro clássico de Tom & Frank com bossa-nova e jazz

“Eu não cantava tão suavemente desde que tive laringite”. Naquele 30 de janeiro de 1967 ele se saiu com esta. Pela primeira vez na carreira, The Voice teve que colocar o pé no freio. E também pela primeira (e única) vez em 52 anos de vida, Frank Sinatra assinava seu nome de batismo em um registro fonográfico. Francis Albert Sinatra se encontrava, em estúdio, com o brasileiro Antonio Carlos Jobim. O encontro do maior cantor norte-americano com o pai da bossa nova - o título do álbum reúne os nomes completos dos dois autores - ganhou agora nova edição, comemorativa de 50 anos. Álbum curto (não chega a 30 minutos) com dez canções, reúne sete do próprio Jobim (The girl from Ipanema, Dindi, Meditation, How insensitive, entre outras) e três standards norte-americanos (Change partners, I concentrate on you e Baubles, bangles and beads). A reedição traz duas faixas bônus: o medley Quiet night of quiet stars/Change partners/I concentrate on you/The girl from Ipanema tirado do programa de TV A man and his music + Ella Jobim (também de 1967) e uma gravação inédita de The girl from Ipanema, feita durante o registro de Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim. A sonoridade é bossa nova com roupagem mais sofisticada, já que os arranjos ficaram sob a responsabilidade do alemão Claus Ogerman. O disco foi um sucesso de público e crítica, permanecendo 28 semanas nas paradas da Billboard. Indicado ao Grammy, perdeu, com justiça, o gramofone de ouro de álbum do ano para Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Sinatra estava meio atrasado na bossa. Havia cinco anos, desde o histórico concerto no Carnegie Hall, que a batida brasileira havia virado febre nos Estados Unidos. Ainda que um pouco tardio, o álbum pode ser considerado fundamental. A principal razão é por trazer Sinatra em um momento especial. Sua interpretação é bastante sutil, de uma técnica vocal que até então parecia inédita em sua longa trajetória. Em completa sintonia com Jobim e seu violão suave, destaca-se ainda o baterista Dom Um Romão. “Um brasileiro que parecia, ao mesmo tempo, estar alerta e drogado”, escreveu Stan Cornyn no encarte do álbum. Executivo da Warner, ele trabalhou diversas vezes em álbuns de Sinatra. Sinatra e Jobim (“Tone”, como The Voice chamava o maestro) gravaram outro trabalho juntos. Em 1969, reuniram-se para um novo álbum. O resultado, irregular, saiu na compilação Sinatra and company, que veio a público somente em 1971. Outras três faixas deste mesmo encontro em estúdio permaneceram inéditas até 2010, quando foi lançado o álbum duplo Sinatra/Jobim: The complete Reprise recordings, que reuniu as gravações feitas em 1967 e em 1969. Desta maneira, é o trabalho de anos atrás que deve permanecer do encontro dos dois gigantes da música. Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim é um álbum deveras silencioso, para ser degustado aos poucos. Sem pressa, e por muitas e muitas vezes.
Boa leitura - Namastê

domingo, 16 de junho de 2019

1993 - João Gilberto & Astrud Gilberto, Maria Toledo, Stan Getz ?– Bossa Nova Sambalero - VA

Artista: VA (Compilation)
Album: Bossa Nova Sambalero
Lançamento: 1993
Selo: Saludos Amigos
Gênero: Bossa Nova, Brazilan Songs, Latino Jazz

Não sei se eu sou assim. Não tem essa história de som perfeito. O que tem é você fazer uma coisa, vir um sujeito e desfazer. E aí você não gostar do que o cara fez. Então você é chamado de perfeccionista. Certa vez estava gravando um disco na Polygram (João, lançado em 1991), na Barra, e dizia: ‘Puxa, está diferente’. E eles diziam: ‘Não está, é a mesma coisa’. Gravava, no outro dia estava mudado. Bom, eu peguei o maestro Guerra-Peixe (César Guerra-Peixe, que morreu em 1993, aos 79 anos) e fomos à gravadora num dia bem cedinho. Escolhemos as músicas. No outro dia tinham mudado. O disco saiu do jeito que não é. Ficou como na América se diz, sem a mordida. Tira a garra, o que pega. Eles sabem muito bem mexer no negócio, não fica nada, não transmite. Aí viro exigente.                                - João Gilberto -

Boa audição - Namastê

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Outras Bossas são coisa nossas - Parte II

Entre 1958 e 1961, Tom Jobim produziu a maioria de suas canções clássicas, que ficariam identificadas como bossa nova: "Chega de Saudade" (com Vinicius de Moraes, 1958), "Desafinado" (com Newton Mendonça, 1958), "Esse Seu Olhar" (1958), "A Felicidade" (com Vinicius de Moraes, 1959), "Eu Sei Que Vou te Amar" (com Vinicius de Moraes, 1959), "Samba de Uma Nota Só" (com Newton Mendonça, 1960), "Meditação" (com Newton Mendonça, 1960), "Corcovado" (1960), "Insensatez" (com Vinicius de Moraes, 1961), "Água de Beber" (com Vinicius de Moraes, 1961) e "Garota de Ipanema" (com Vinicius de Moraes, 1961). Eis as mais emblemáticas - a lista, é claro, estende-se cancioneiro afora. Com Vinicius, o poeta moderno que aos poucos migrou da poesia escrita para a poesia cantada, Tom criou canções elegantes e sofisticadas que abriram um diálogo com a grande poesia modernista de sua geração - João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles. Com o também pianista Newton Mendonça, seu amigo de infância e adolescência musical, Tom compôs sobretudo canções irônicas, paródicas ou metalingüísticas, como as canções-manifesto "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". A bossa nova de Tom, Vinicius, João Gilberto e Mendonça descortinou uma área de permeabilidade inédita na cultura brasileira: sob a forma da canção popular urbana de sucesso, criou-se uma arte ao mesmo tempo "popular" e "sofisticada". O projeto de modernização do Brasil de Juscelino Kubitschek, no final dos anos 50, tinha a bossa nova como trilha sonora. JK, o "presidente bossa nova", soube capitalizar tudo de bom que o país produzia nas áreas das artes e dos esportes (o Brasil começava então a fixar sua imagem de país do futebol), moldando uma identidade nacional em que a soft evasive mist da bossa nova, os dribles de Garrincha e Pelé e o perfil empreendedor da política nacional pareciam fazer parte da mesma jogada. Por outro lado, esse período representou um momento de utopia de modernização conduzida por intelectuais e artistas progressistas e criativos, cujo símbolo maior foi a construção de Brasília, projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer - com música de inauguração encomendada à dupla Tom e Vinicius: Sinfonia da Alvorada. O desdobramento mais próximo da bossa nova pode ser identificado na efervescência cultural e política da segunda metade da década de 1960. Ao mesmo tempo popular e sofisticada, essa música forneceu parte dos elementos musicais e poéticos para os movimentos artísticos do período, quando as oposições dualistas entre democracia e ditadura militar, modernização e atraso, desenvolvimento e miséria, passado arcaico colonizado e processo moderno de industrialização e "raízes" culturais versus cultura de massas internacional passaram a ser compreendidas como integrantes de uma lógica contraditória e paradoxal, sobretudo pelos artistas e intelectuais que criaram a Tropicália. É nesse sentido, pensando de modo amplo em seus desdobramentos, que se pode dizer da bossa nova que ela abriu uma área de permeabilidade cultural inédita no Brasil. E para Tom Jobim tudo isso ganhou um sentido particular. O trânsito entre o popular e o erudito, a sinfonia e a canção ou o samba e o jazz, por exemplo, nunca foi problema para ele. Tom criou um gênero musical e ajudou a internacionalizá-lo, como veremos, de modo absolutamente pessoal e profundamente brasileiro, ao contrário de outros músicos bossa-novistas como Sérgio Mendes ou Eumir Deodato, que fixaram residência definitiva nos EUA. Mas a bossa nova, e mais especificamente a figura de Tom Jobim, seria acusada por parte da crítica nacional de não ser genuinamente brasileira. A reação do compositor ao pensamento dessa crítica mais conservadora (e ao conservadorismo generalizado do regime militar pós-1964) manifestou-se de modo irônico, numa verdadeira antologia de tiradas sobre o tema: "O inimigo do brasileiro parece que é o brasileiro mesmo"; "A gente faz uma batidinha de bossa nova; no dia que os americanos copiam, você é imediatamente acusado de os americanos já terem feito aquela batida"; ou aquela famosa boutade que lhe foi atribuída, cuja autoria Tom nunca assumiu ou negou completamente: "a melhor saída para o músico brasileiro é o Galeão".  - Por Cacá Machado 

Boa leitura - Namastê

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Outras Bossas são coisa nossas - Parte I

João Gilberto é um baiano, "bossa nova" de 26 anos. Em pouquíssimo tempo, influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores. Nossa maior preocupação neste long-playing foi que Joãozinho não fosse atrapalhado por arranjos que tirassem sua liberdade, sua natural agilidade, sua maneira pessoal e intransferível de ser, em suma, sua espontaneidade. Nos arranjos contidos neste long-playing Joãozinho participou ativamente; seus palpites, suas idéias, estão todos aí. Quando João Gilberto se acompanha, o violão é ele. Quando a orquestra o acompanha, a orquestra também é ele. João Gilberto não subestima a sensibilidade do povo. Ele acredita que há sempre lugar para uma coisa nova, diferente e pura que - embora à primeira vista não pareça - pode se tornar, como dizem na linguagem especializada: altamente comercial. Porque o povo compreende o amor, as notas, a simplicidade e a sinceridade. Eu acredito em João Gilberto, porque ele é simples, sincero e extraordinariamente musical. P.S.: Caymmi também acha. Foi assim que Antonio Carlos Jobim apresentou João Gilberto na contracapa de Chega de Saudade, LP de estréia do cantor baiano lançado em 1959. Nota-se que o post-scriptum indicava a legitimação de outro baiano, Dorival Caymmi, artista que acabou assumindo no Brasil a posição de uma espécie de pai da canção popular em seu sentido mais profundo e misterioso: suas canções se diluem em nossa memória como se fossem de todos nós, criações de uma memória coletiva. Sob a prosa despojada e carinhosa de Tom, existia a consciência e a certeza da originalidade desse disco. E também de sua filiação - profundamente brasileira. Tom assumiu a direção musical, o piano e os arranjos na maioria das faixas desse e dos dois LPs seguintes do cantor: O Amor, o Sorriso e a Flor (1960) e João Gilberto (1961). Em seu livro sobre João Gilberto, Walter Garcia vai ao xis do problema: O que é que o baiano tem para tamanha importância lhe ser atribuída tão cedo, no lançamento do seu primeiro LP, e somente aumentar nas décadas seguintes? O ritmo. [...] Ao final dos anos 50, é claro, esta não é a única novidade apresentada por João. De novo há o seu jeito balançado de cantar baixinho, as suas harmonias dissonantes, os arranjos despojados, o seu repertório que mescla uma jovem safra de compositores cariocas com velhos sambas já bastantes esquecidos e também o seu acompanhamento rítmico ao violão, depois conhecido como a batida bossa nova. O que João Gilberto fez foi esvaziar e estilizar a síncope do samba em sua batida de violão. E Tom fez algo parecido nos arranjos de seus discos. Não existe a presença do contrabaixo nas gravações - são os bordões do violão de João que criam a regularidade das acentuações dos tempos fortes. A bateria toca a caixa no contratempo, sem bumbo, junto com a condução sincopada da vassourinha. O piano entra em momentos escolhidos a dedo, literalmente, com acentuações rítmicas precisas ou realçando dissonâncias estruturais da condução harmônica, mas nunca, diga-se de passagem, como efeito ornamental. A interferência orquestral está presente nas madeiras, principalmente flautas, e nos metais, tocados suavemente (trompas, trombones e às vezes saxofone); na seção das cordas destacam-se as frases dos violinos, que em seus contracantos criam profundidade e espaço. Em suma, tudo orbita em torno do violão de João, com o máximo de fluidez e organicidade. Esse som era realmente novo e tinha bossa. E revelou-se "altamente comercial", preocupação que Tom explicitara na apresentação do LP. João Gilberto foi a fagulha que faltava para o estopim da bossa nova, segundo o próprio Tom: "Eu tinha uma série de sambas-canção de parceria com [Newton] Mendonça, mas a chegada de João abriu novas perspectivas: o ritmo que João trouxe. A parte instrumental - harmônica e melódica - essa já estava mais ou menos estabelecida". - Por Cacá Machado, (...) Continua na próxima postagem

Boa leitura - Namastê

 

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Milton Banana, o rei do ritmo e do batuque

  Edgar Nunes Rocca, o pioneiro Bituca, Edison Machado, Dom Um Romão, Wilson das Neves, Hélcio Milito, Chico Batera,Pascoal Meirelles, Jorge Autuori, Airto Moreira, Toninho Pinheiro, Ronald Mesquita, Rubinho Barsotti, Ivan “Mamão” Conti, e tantos outros. Não restam dúvidas: o Brasil dos anos 1960 e 70 foi prolífico em revelar grandes bateristas. Músicos inventivos e essenciais para reescrever a história do instrumento no País e compor um irresistível jeitinho brasileiro de conduzir pratos, bumbos e tambores. Tradição que teve em Antonio de Souza, ou melhor, Milton Banana, a figura de um desbravador. Acompanhando João Gilberto e Tom Jobim no histórico concerto da Bossa Nova realizado em Nova York, no Carnegie Hall, Milton fez mais que história. Deu ao instrumento novas possibilidades e estabeleceu rico diálogo entre as tradições rítmicas do samba e a riqueza técnica do jazz. Naquela noite de 21 de novembro de 1962, em Nova York, arrebatados pela revelação da beleza harmônica das canções interpretadas por João Gilberto, os músicos presentes na plateia – e não eram poucos – também devem ter dado um nó na cabeça ao descobrir o modo peculiar com que Milton construía sua elegante teia percussiva para o baiano e o jovem maestro Tom. Se a João é atribuída paternidade da batida bossa nova ao violão, o mesmo vale para Milton em relação a seu instrumento, visto que, como o baiano, ele propôs um salto de modernidade sem precedentes. Depois deles, aos músicos que lidavam com os dois instrumentos, como diria a bela canção de Ronaldo Bastos e Milton Nascimento, 'nada seria como antes'.
Boa leitura - Namastê

domingo, 26 de maio de 2019

2002 - The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms Vol.06/06 (Box set)

Artista: VA
Album: The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms - Vol.06
Lançamento: 2002
Selo: Rare Groove
Gênero: Bossa Nova, Jazz Instrument, Latin Jazz Vocals
Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'"
Boa audição - Namastê

quarta-feira, 22 de maio de 2019

O que é a 'Bossa Nova'

Recentemente dei uma entrevista sobre Bossa Nova para a BBC de Londres e sabendo que me dirigia a um povo culto me expandi à vontade, quase que em catarse. Ficou claro que a bossa nova é um fenômeno ainda não bem compreendido e sugere algumas considerações. Para começar existe uma grande afinidade com a Escola Provençal do século XIII, também conhecida como Fin Amors. Ali, Leonor de Aquitânia, mãe de Ricardo Coração de Leão, era destacada poeta e rodeada de trovadores e menestréis que ao som do alaúde (ancestral do violão) compunham trovas que eram sussurradas ao ouvido das mulheres. Também a Bossa Nova é sussurrada e nunca gritada. Romântica e elegante, nunca vulgar, está de acordo com a descrição do cineasta Luiz Buñuel: o discreto charme da burguesia. Sim porque a bossa nova nada mais é que um produto da classe média do Rio de Janeiro que se dirige à classe média do mundo inteiro. Classe média do Rio de Janeiro que abrigava, além dos cariocas, baianos como João Gilberto, capixabas como Roberto Menescal e Nara Leão, paraibanos como Geraldo Vandré, acreanos com João Donato e paulistas como Sérgio Ricardo e Wanda Sá e, futuramente, Toquinho. Cumpre notar que, durante minha vida artística, constatei uma coisa curiosa: que o talento artístico independe totalmente de inteligência, cultura, bom caráter e sanidade mental ou física. Conheci ou ouvi dizer de artistas dotados de indiscutível excelência e, no entanto, destituídos de uma ou outra das qualidades ou benefícios citados. Um compositor de Bossa Nova que se preza sofre uma série de influências que começam com o impressionismo de Ravel e Debussy, além de Bach, Villa-Lobos, Stravinsky, Brahms e Schumann. Sofre influência do bolero mexicano de Agustín Lara, Gonzalo Curiel e Maria Griber, bolero esse que no Brasil tomou o formato de samba canção. Da canção francesa de Charles Trenet e Henry Salvador. Em seguida vem a influência dos cinco grandes compositores norte americanos, Cole Porter, George Gerhwin, Jerome Kern, Irving Berlin e Richard Rogers estes, como nós, identificados com o jazz west coast de Gerry Mulligan, Chet Baker, Shorty Rogers, Barney Kessel, Stan Kenton e Modern Jazz Quartet. A Bossa Nova, enfim, deve seu nascimento a um efervescente surto cultural (e nãomovimento, como se diz erroneamente) que se processou no Brasil durante os anos 50 e que se manifestou no teatro com o Teatro de Arena de São Paulo, o TBC, o Teatro dos Quatro e o Oficina. Nas artes plásticas com Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Wesley Duke Lee , entre outros. Na arquitetura com Oscar Niemayer, Lucio Costa e Burle Marx. Na indústria automobilística, e nos esportes com Pelé e Garrincha nos mundiais de futebol, com Eder Jofre no box, Maria Esther Bueno no tênis, Ademar Ferreira da Silva no salto tríplice e até em beleza com a conquista do título de Miss Universo por Yeda Maria Vargas. A Bossa Nova foi, nada mais nada menos, que o fundo musical disso tudo. Quanto ao nome Bossa Nova, esse foi criado durante uma apresentação que fizemos, em 1958, na Sociedade Israelita: eu, Silvinha Teles, Menescal, Ronaldo Bôscoli e Nara Leão. Na porta do clube havia um cartaz com nossos nomes seguidos dos dizeres “...e os Bossa Nova”. Perguntei ao produtor e diretor social do clube o que significava aquilo. A resposta foi: Isso é um nome que inventei para vocês. Adotamos o nome e soubemos, mais tarde, que esse judeuzinho criativo se havia mudado para Israel. Depois disso nunca mais ouvimos falar dele.
Boa leitura - Namastê

domingo, 19 de maio de 2019

2001 - The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms Vol.05/06 (Box set)

Artista: VA
Album: The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms - Vol.05
Lançamento: 2001
Selo: Rare Groove
Gênero: Bossa Nova, Jazz Instrument, Latin Jazz Vocals

A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Novas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa nova passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.  Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do Pós-Guerra, de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop.
Boa audição - Namastê

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Carnegie Hall é Bossa Nova

O ritmo brasileiro da bossa nova se apresentou no Carnegie Hall, a mais tradicional sala de concertos de Nova Iorque, para um público de cerca de três mil pessoas, que superlotou a casa com entusiásticos aplausos. Durante o espetáculo, milhares de xícaras de café foram servidas, numa oportunidade de apresentar o cafezinho preparado à moda brasileira. Os ingressos já se encontravam esgotados uma semana antes do concerto. Os brasileiros João Gilberto, Bola Sete, Agostinho dos Santos, Carmem Costa, José Paulo, Luis Bonfá, Carlos Lira, Sérgio Mendes, Antonio Carlos Jobim, Miltinho Bana, C. Feitosa e Roberto Menescal comandaram o espetáculo. Além dos artistas brasileiros, participaram do show o pianista e compositor argentino Lalo Schifrin com o sexteto de que se valeu para difundir a bossa nova, Stan Getz, amigo de João Gilberto e um de seus mais entusiastas admiradores e grande propagador da bossa nova, e o quarteto de Oscar Castro Neves. O Itamarati recebeu despachos dos EUA informando que compareceram ao concerto 300 repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e críticos especializados de toda a América do Norte e da imprensa mundial, o que deveria garantir grande repercussão ao show de bossa nova. A nova música do Brasil.  Este novo gênero musical deriva das estruturas típicas do samba em harmonia com o jazz americano. A mulher do Presidente, Jacqueline Kennedy, a considerou "simplesmente maravilhosa", acentuando que "nunca houve coisa igual por aqui". Ela foi apresentada à bossa nova em um recital do sexteto de Paul Winter, que havia regressado de uma excursão pelo Brasil dois dia antes da apresentação no Carnigie Hall.

domingo, 12 de maio de 2019

2000 - The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms Vol.04/06 (Box set)

Artista: VA
Album: The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms - Vol.04
Lançamento: 2000
Selo: Rare Groove
Gênero: Bossa Nova, Brazilian Songs, Latin Jazz Vocals
                                                                   A pré-bossa
Antes da estréia do disco Canção do Amor Demais, em 1958, a Bossa Nova já dava seus primeiros passos na capital carioca. Artistas como Dick Farney, Johnny Alf, João Donato e Billy Blanco sedimentaram terreno e inspiraram nomes como Tom Jobim e João Gilberto. Em 1948 foi fundado no Rio de Janeiro, o fã-clube Sinatra-Farney, por admiradores do jazz americano. Uma de suas componentes era a que viria a ser a cantora Nara Leão. Dick Farney tocou em orquestras de jazz e música popular, chegando a ser uma das principais atrações do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Também se especializou no repertório norte-americano até lançar a canção Copacabana, de João de Barro e Alberto Ribeiro, em 1946. Ainda nos anos 40, esteve nos Estados Unidos, onde se apresentou com Nat King Cole, Davis Brubeck e Bill Evans, e fez apresentações na rádio NBC durante dois meses. Farney foi o primeiro cantor a gravar o sucesso mundial Tenderly (Walter Gross).
Boa audição - Namastê

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Curiosidades da Bossa Nova

O primeiro show profissional da turma inicial da Bossa Nova foi no Clube Universitário Hebraico do Brasil, no Flamengo, no Rio de Janeiro. No palco, Menescal, Lyra, Sylvinha Telles, Normando Santos, Luizinho Eça, Bebeto e Bôscoli. Na entrada, num quadro negro, lia-se: "Hoje, Sylvinha Telles e um grupo bossa nova". A secretária do clube colocou o termo "bossa nova" porque não sabia o nome do conjunto que iria tocar. Até então a expressão "bossa" já havia sido utilizada por outros músicos, como Noel Rosa, em 1932, para designar aquilo que era novo, diferente. E assim ficou. Trêmulos, aqueles moços e moças, exceto Sylvinha Telles, subiam a um palco pela primeira vez na vida, apresentando uma estranha combinação de jazz e samba.

A pré-bossa:
Antes da estréia do disco Canção do Amor Demais, em 1958, a Bossa Nova já dava seus primeiros passos na capital carioca. Artistas como Dick Farney, Johnny Alf, João Donato e Billy Blanco sedimentaram terreno e inspiraram nomes como Tom Jobim e João Gilberto. Em 1948 foi fundado no Rio de Janeiro, o fã-clube Sinatra-Farney, por admiradores do jazz americano. Uma de suas componentes era a que viria a ser a cantora Nara Leão. Dick Farney tocou em orquestras de jazz e música popular, chegando a ser uma das principais atrações do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Também se especializou no repertório norte-americano até lançar a canção Copacabana, de João de Barro e Alberto Ribeiro, em 1946. Ainda nos anos 40, esteve nos Estados Unidos, onde se apresentou com Nat King Cole, Davis Brubeck e Bill Evans, e fez apresentações na rádio NBC durante dois meses. Farney foi o primeiro cantor a gravar o sucesso mundial Tenderly (Walter Gross).
Boa leitura - Namastê

domingo, 5 de maio de 2019

2000 - The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms Vol.03/06 (Box set)

Artista: VA
Lançamento: 2000
Selo: Rare Groove
Gênero: Bossa Nova, Jazz Instrument, Latin Jazz Vocals
O primeiro show profissional da turma inicial da Bossa Nova foi no Clube Universitário Hebraico do Brasil, no Flamengo, no Rio de Janeiro. No palco, Menescal, Lyra, Sylvinha Telles, Normando Santos, Luizinho Eça, Bebeto e Bôscoli. Na entrada, num quadro negro, lia-se: "Hoje, Sylvinha Telles e um grupo bossa nova". A secretária do clube colocou o termo "bossa nova" porque não sabia o nome do conjunto que iria tocar. Até então a expressão "bossa" já havia sido utilizada por outros músicos, como Noel Rosa, em 1932, para designar aquilo que era novo, diferente. E assim ficou. Trêmulos, aqueles moços e moças, exceto Sylvinha Telles, subiam a um palco pela primeira vez na vida, apresentando uma estranha combinação de jazz e samba.

Boa audição - Namastê

2000 - The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms - Vol.02/06 (Box Set)

Artista: VA
Album: The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms - Vol.02
Lançamento: 2000
Selo: Rare Groove
Gênero: Bossa Nova, Jazz Instrument, Latin Jazz Vocals
Fim do movimento, da bossa à MPB Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 - época em que surgiu um pop rock nacional renovado.  A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque, que apareciam com frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, realizado em São Paulo em 1966, 'Disparada', de Geraldo, e 'A Banda', de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
Boa audição - Namastê

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Noites tropicais: solos, improvisos e memórias musicais - Parte III (Final)

No rádio. Mas funcionava: o público em casa ouvia o artista americano e também a gritaria do público do auditório delirando com as dublagens que Tony Tornado e Gerson King Combo faziam de Chubby Checker e Little Richard. Depois havia o concurso de dança, animado e comentado por Imperial, e finalmente começava a música ao vivo: anunciado estrepitosamente por Imperial como “o Elvis Presley brasileiro”, Roberto Carlos, acompanhado pelos Snakes, com Erasmo Esteves no violão e nos backing-vocals. Em casa os ouvintes da Zona Norte e dos subúrbios ficavam incendiados com a gritaria e animação do estúdio. E a festa continuava: “E atenção, brotos, porque vem aí o Little Richard brasileiro!”, anunciava Imperial. E Tim Maia entrava e cantava um rock explosivo acompanhado pelos Snakes e levantava o auditório. Tim era amigo de Erasmo desde criança na Rua do Matoso, na Tijuca, quando ainda se chamava Tião e entregava marmitas da pensão de seus pais, dona Maria e seu Altivo, considerado no bairro um mestre dos temperos. Antes de música, o pequeno Tião aprendeu a comer bem e sempre foi gorducho. Quando saía para entregar as marmitas, pendurava-as num cabo de vassoura que levava nos ombros, como um pescador chinês de carnaval. Todos os dias na hora do almoço ele saía para fazer as entregas e, balançando suas latas, passava pelo Largo da Segunda-feira, onde sempre rolava animada pelada. Era irresistível. Em campo, Tião era o mais pesado e, às vezes, o mais violento: ia na bola como quem vai num prato de comida. O exercício lhe abria o apetite e Tião abria as marmitas e tomava uns goles de sopa aqui, beliscava um pastel ali, umas bocadas de arroz e feijão acolá, um pedaço de doce, e com as marmitas mais leves seguia para a entrega. Tanto quanto de comida, Tião gostava de música. Começou a aprender violão sozinho, ensinou três acordes para Erasmo e os dois tentavam tardes inteiras, em vão, fazer no violão as complexas harmonias do “Desafinado” de João Gilberto, que adoravam. Quando depois Tião foi para os Estados Unidos, se correspondia com Erasmo assinando “Tim Jobim” e recebia abraços de “Erasmo Gilberto”. Tião tinha 16 anos quando resolveu que iria para os Estados Unidos. Começou a dizer para todo mundo que ia morar com uma família americana num programa de intercâmbio, fez uma campanha de arrecadação de fundos na família e conseguiu, depois de suplicantes visitas, convencer o bondoso pároco da igreja da Tijuca a completar o que faltava para a passagem de avião, só de ida. Tião tinha falado tanto para tanta gente e dado tantos detalhes da sua “família americana” que acabou ele mesmo acreditando em sua ficção e se decepcionando: na chegada a Nova York ninguém o esperava no aeroporto. Em Manhattan e depois na vizinha Tarryton, Tião virou Tim e trabalhou de garçom, entregador de pizzas, aprendeu inglês, conheceu a música negra americana, cantou em grupos vocais, fez pequenos furtos e experimentou fartamente tudo que era droga leve e pesada. Uma noite, com três crioulos amigos, foi preso em Daytona Beach, onde estavam fumando maconha dentro de um carro roubado. Passou uma temporada na cadeia em Daytona e foi deportado para o Brasil. Na Tijuca, de tanto cantar o rock “Bop-a-lena”, Tim ganhou o apelido de “Babulina”. Mas “Babulina” também era o apelido de um garotão do Rio Comprido, um mulato atlético chamado Jorge, que também cantava “Bop-a-lena”, tocava violão e fazia parte da gangue “Os cometas”. Nas rodas da Praça da Bandeira, ponto de encontro das turmas da Matoso e do Rio Comprido, já se comentava que Tim iria ter problemas com Jorge, que se considerava o dono do apelido por cantar a música há mais tempo. Mas tudo se resolveu pacificamente e Jorge acabou participando de uma serenata com Tim e Erasmo, no Beco do Mota, debaixo da janela da generosa Lilica, que costumava receber a turma toda em sua cama, um por um. Chegavam a se formar alegres e ansiosas filas de dez, doze garotos à sua porta, e muitos jovens tijucanos e rio-compridenses tiveram com ela a sua iniciação sexual. Mas naquela noite acabaram todos na delegacia por reclamação dos vizinhos e o violão foi apreendido: a serenata não era de valsas e canções mas de twist e rock and roll. Com suas festas de rua, na Casa da Beira e na Vila da Feira, os clubes portugueses da área, com suas quermesses e suas festas juninas, a vida na Zona Norte era animada e Jorge estava em todas com seu violão, cantando “Bop-a-lena” e sempre agradando as meninas, até que começou a fazer suas próprias músicas, passou a usar o nome de Jorge Ben e começou a tentar a vida nos bares de Copacabana. Tudo virou Bossa Nova, do presidente à geladeira, do sapato à enceradeira, a expressão ficou muito maior do que a música que a originara. Amplificada pela publicidade, caiu na boca do povo para designar tudo que era (ou queria ser) novidade: eventos e promoções, comidas e bebidas, roupas, veículos, imóveis, serviços e pessoas que nada tinham a ver com música e muito menos com a música de João Gilberto e Tom Jobim. Não havia mais possibilidade de qualquer controle: se tudo era bossa nova, então nada mais era bossa nova. Até a bancada da UDN na Câmara tinha a sua “bossa nova”. Era preciso fazer alguma coisa: Ronaldo chegou a pedir a um advogado, meu pai, que redigisse os estatutos de um “Clube da bossa nova”, que daria shows, discos e um jornalzinho para seus sócios. Carlos Lyra registrou a marca “Sambalanço” e lançou seu disco na Philips com este título. A Odeon dispensou a “Turma” e resolveu gravar apenas um disco com quatro faixas, então chamado compacto duplo, com o conjunto de Roberto Menescal. Os dois discos passaram longe do sucesso popular mas provocaram intermináveis discussões nas rodas musicais de Copacabana. O disco de Carlinhos, além de “Rapaz de bem”, de Johnny Alf, tinha outras boas músicas, como “Maria ninguém” e “Ciúme”, arranjadas em estilo “jobiniano” e com a batida da bossa nova, mas metade do disco — talvez a melhor — era de toadas e sambas-canções. E a performance do cantor não era entusiasmante. No de Menescal, ótimas músicas, como “Céu e mar”, de Johnny Alf, mas nem cantor tinha: guitarra, baixo, bateria, piano, flauta e trompa produziam um balanço animado, um timbre diferente e tocavam arranjos bem jazzísticos, bem Copacabana. E eu ouvia os dois discos o dia inteiro. - Fonte: Incerto do livro, Noites tropicais: solos, improvisos e memórias musicais, Nelson Motta - Editora Objetiva, 2000 - 461 páginas
Boa leitura - Namastê

domingo, 28 de abril de 2019

2000 - The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms Vol.01/06 (Box set)

Artista: VA
Album: The Bossa Nova Exciting Jazz Samba Rhythms - Vol.01
Lançamento: 2000
Selo: Rare Groove
Gênero: Bossa Nova, Brazilian Songs, Latin Jazz Vocals
 Mudanças
Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista Zé Ketti. Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como João do Vale. Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP "Os Afro-sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell.  Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo], Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros...

Boa audição - Namastê