quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Johnny Alf – gênio desconhecido da Bossa

"A primeira vez que ouvi Johhny Alf eu devia ter uns 15 anos. Entrei na casa de um amigo, Ivan Silveira, cujo quarto era no sótão de uma casa de vila em Ipanema, e ele escutava “Céu e mar”, do recém lançado disco “Diagonal”. Fiquei perplexo, quase atônito, dado à quantidade de notas musicais dissonantes que encheram meus ouvidos e ao vocal fora do comum, repleto de glissandos, be-bops e outras bossas. O que era aquilo? Era música brasileira? A princípio estranhei. Na segunda faixa, já estava adorando. E mandei a ortodoxia pra casa do caralho, para sempre. O Ivan sumiu, não sei que fim levou, mas sou grato a ele até hoje. Alfredo José da Silva, o Johnny Alf, é o menos conhecido dos grandes compositores da música popular brasileira. Anunciado por Ronaldo Bôscoli no famoso show da Faculdade de Arquitetura em 1959 como “alguém que faz bossa nova desde que nasceu”, ele foi exaltado pelo escritor (hoje também compositor) Jorge Mautner em seu livro “Kaos” - 1964, como o supra-sumo da vanguarda. No início dos 70, tive o privilégio de bater longos papos com João Gilberto em Nova York, em seu quarto no Hotel Bolívar. Perguntado sobre Alf, João parou, refletiu um pouco e concluiu: “Johnny é tudo”. João Silvério Trevisan me disse que o poeta Roberto Piva, outro dos admiradores mais antigos de Alf, tem (ou teve) toda uma teoria sobre sua obra, que seria feita para entendidos (no sentido homossexual que essa expressão teve nos anos 50 e 60). A capa do LP “Nós” parece confirmar: em primeiro plano, um perfil de Alf com uma camisa coloridíssima. Ao fundo, desfocado, um belo rapaz caminha em sua direção. Deu até ameaça de processo. Caetano Veloso recentemente compôs “Amor mais que discreto’, uma espécie de resposta à belíssima “Ilusão à toa”, uma canção sobre dois homens “que brincam com o próprio sexo”. Em 65 o jornalista Ramalho Neto (“Historinha do desafinado”) o declarou o verdadeiro pai da Bossa Nova. Podemos afirmar, sem medo de errar, que ele representa uma das duas correntes que formou esse movimento, a outra sendo João Gilberto. Se esse está próximo do cool-jazz dos músicos brancos de San Francisco (Chet Baker e Gerry Mulligan), o Alf descende do nervoso be-bop dos negros de Nova York. Um é a linha reta, o outro a linha sinuosa. Uma completa a outra, e com as duas que desenhamos o mundo. Tom Jobim sintetiza as duas. Ruy Castro, autor do melhor estudo sobre a bossa nova, escreveu que ouvir e ver Johnny Alf numa boate intimista “é uma das grandes experiências pelas quais pode passar qualquer pessoa que goste de música”. Protestando contra uma platéia de granfinos que falava pelos cotovelos durante um de seus shows na Paulicéia, Vinicius de Moraes teria gritado: “Johnny, vamos embora pro Rio, que São Paulo é o túmulo do samba!” Após assisti-lo em 96 no Free Jazz Festival, o crítico americano Larry Birnbaum o definiu na revista Jazziz como “brilhante”. Como vemos, Johnny Alf não é pouca coisa. No entanto sua carreira tem altos e baixos, e emplacou poucos sucessos no rádio, notadamente “Eu e a brisa” e “Olhos negros”. Tem personalidade tímida e arredia, e canta geralmente em boates, de preço salgado para as novas gerações. Assim, apesar de influenciar toda uma geração de músicos (entre eles Ellis Regina, Leni Andrade e Alaíde Costa), é geralmente pouco lembrado. Conheci-o nos anos 90, apresentado por um amigo comum, o falecido Carlinhos, dono de um sebo na Rua Sete de Setembro, no Rio. Logo me perguntou se eu possuía a versão completa de três horas do filme “Solaris” do Andrei Tarkovsky. E me deu um vhs pirata com o primeiro “Show boat”, o do James Whale, com a Helen Morgan e o Paul Robeson. Ficamos amigos. Anos depois, com uma bolsa da Rockfeller Foundation, obtida por intermédio do jornalista Carlos Alberto de Mattos, tive o prazer de trabalharmos juntos. O resultado foram dois vídeos de 45 minutos cada um (“Um retrato de Johnny” e “Cult Alf” feitos 12 anos atrás), que originaram dois cds. Como João Gilberto, Johnny Alf é lacônico e evita entrevistas. Mas para surpresa geral, abriu-se para mim, falando por mais de uma hora sobre os mais diversos assuntos. Com exclusividade para Cronópios, disponibilizo na Internet essa raridade para todos os interessados. Mas quem avisa, amigo é. Podem reproduzir à vontade, desde que me creditem a autoria. Tenho as gravações originais e a lei dos copyrights existe para ser cumprida. Divirtam-se."

Entrevista inédita - 1996

"Nasci no Rio em 1929. Minha mãe trabalhava como doméstica numa casa de família e eles ajudaram na minha educação, então recebi aulas de piano clássico dos 10 aos 14 anos. Gostava de George Gershwin, George Shearing e ouvia muita música brasileira no rádio, Ari Barroso e outros. Sempre fui muito ligado em Custódio Mesquita, Valzinho, Peter Pan, que tinham uma harmonia mais sofisticada. Esse último era cunhado da Emilinha Borba, então volta e meia ela gravava as coisas dele no lado B dos discos 78, já que no lado A vinham os grandes sucessos, as rumbas e os boleros. Essa é a essência do meu trabalho. No início dos anos 50 eu criei na Tijuca o Sinatra/Farney Fanclube, que chegou a ser freqüentado pelo Carlos Manga, a Nora Ney, a Dóris Monteiro. Eles trabalhavam na Rádio Nacional e me indicaram para fazer um teste na famosa cantina do César de Alencar em Copacabana. Fui lá e antes de terminar a segunda música, já estava contratado. Na estréia a cantora Marlene me deu uma gorjeta, que na moeda de hoje em dia, seria uma verdadeira fortuna. Foi assim que virei profissional. Em 1952 eu gravei três discos 78, mas não tiveram nenhum sucesso, não venderam nada. Nesse ano, a Mary Gonçalves, que era atriz e cantora, resolveu gravar seu primeiro disco, um 10 polegadas, com 8 músicas, e escolheu 4 minhas, um desconhecido. Algumas hoje em dia são consideradas clássicas. Um crítico famoso da época, o Claribalte Passos não gostou, mas escreveu que “o menos pior do disco são as músicas de um tal de Johnny Alf”.

_ Quais foram seus primeiros sucessos?
_O que é amar”, “Escuta” e “Rapaz de bem” são de 1952, 1953.

_ Mas o seu primeiro LP foi gravado só em 1961.
_ O Milton Miranda, amigo meu desde o tempo que eu era amador, assumiu um cargo importante na RCA Victor e me convidou pra gravar com liberdade total. O resultado foi o “Rapaz de bem”.

_ No segundo você só canta, não toca piano. Por que?
_ Em 64 eles me deram novamente carta branca. Eu era muito amigo do Celso Murilo, um pianista que, como eu, trabalhava na noite. Eu o convidei pra fazer os arranjos. Acho que esse disco, “Diagonal” é um dos meus melhores, porque o Celso analisou bastante o meu modo de cantar e escreveu tudo a partir daí.

_ Foi essa a época do disco inédito em inglês?
_ Exatamente. Doze faixas da Bossa Nova, cinco do Tom, quatro minhas, duas do Menescal e uma do Sérgio Ricardo. Nunca foi lançado, parece que por causa do contrato do Tom nos Estados Unidos com o Ray Gilbert, amigo do Aloysio de Oliveira, que monopolizou a obra dele por mais de 20 anos. Eu gravei outras traduções, então já viu...

_ Agora fale do que você fez em 1966 numa pequena gravadora, a Mocambo.
_ Eu era amigo do José Briamonte, e ele, como o Celso, queria fazer arranjos e nunca tinha chance. Então eu chamei. Embora ele fosse meio conservador, fez uns arranjos jazísticos, muito bons. Entre os músicos estão o Airto Moreira e o Hermeto Paschoal, mas como eles eram de outra gravadora, o nome não consta da ficha técnica.

_ O seu disco seguinte, “Ele é Johnny Alf”, da Odeon, é meio diferente dos outros, mais extrovertido, mais feliz, tem um coro vocal e muitas músicas inéditas. Elas foram feitas durante os 5 anos que você ficou sem gravar?
_ Era a minha produção daquela época. “Pensando em você” eu fiz pensando na Maria Bethânia, mas ela não gravou, acho que nem sabe disso. Foi gravado em São Paulo em 1971, mas o som é carioca. Fez sucesso.

_ No ano seguinte você fez o “Nós”.
_ Dessa vez o produtor foi o Simão Khoury. Ele convidou o Ivan Lins, Gilberto Gil, Egberto Gismonti e outros pra fazer músicas inéditas pra eu cantar. Mas o Gismonti disse que só aceitava se pudesse gravar “Plenilúnio”, uma música que eu fiz prum festival e continuava inédita. Então ele fez um arranjo bem sinfônico, o Vítor Assis Brasil tocou sax, uma beleza.

_ Em 1978 você voltou a trabalhar numa gravadora pequena...
_ Sempre fui muito rebelde. E recusei a proposta da Odeon de dividir um disco com a cantora Márcia, então saí e fui para a Chantecler.

_ Nesse (“Desbunde total”) tem várias inéditas e uns arranjos do João Donato.
_ Ele fez as bases.

_ Depois desse você ficou 12 anos sem gravar. Qual o motivo?
_ As gravadoras passaram a me ver como artista maldito, veneno de bilheteria. As pessoas gostavam, mas ninguém queria gravar comigo. Esse é o preço que se paga quando a gente só faz o que acha que deve fazer.

_ Olhos negros”, de 1990, é cheio de convidados. Caetano, Gal Costa, Emílio Santiago, Chico Buarque, Leni Andrade cantam seus grandes sucessos. Quem escolheu esse povo todo, você ou a gravadora (Philips)?
_ Eu e o produtor Líber Gadelha escolhemos juntos.

_ Agora vamos falar um pouco do seu método de trabalho. Quando você compõe, o que vem primeiro, a música ou a letra?
_ Não tem regra. Às vezes é uma, às vezes é outra. Comecei a compor com 13, 14 anos de idade, influenciado por Chopin, Tchaykovsky e os musicais de Hollywood. Uma vez fiz uma letra e a música surgiu só 9 meses depois. É uma coisa mágica. Posso estar muito bem aqui e de repente a inspiração baixar na minha cabeça, eu memorizo e em casa passo para o pentagrama. “Plenilúnio”, por exemplo, eu estava dormindo, acordei de repente, e escrevi a música que estava sonhando. Outras vezes é diferente. Nos anos 60 eu trabalhava na boate Plaza e alguém me desafiou a compor um baião e eu fiz o “Céu e mar”. Aí o cara disse: “mas é baião moderno!” E eu respondi: “Mas é baião, meu bem”. Eu sou sozinho, não tenho família. Então me dedico totalmente ao meu trabalho. Quando componho, ponho toda minha alma e minhas experiências pessoais. Tudo é autobiográfico.

_ Como você classifica sua obra: samba, jazz, samba jazz, bossa nova, ou uma mistura de tudo isso?
_ Pra mim isso não tem importância. Música não tem nome, meu querido, música é som. Não sei como classificar minha obra. Mas eu amo jazz e sua influência é forte, principalmente no relacionamento com os músicos. Eu dou liberdade para cada um fazer o que sabe com seu instrumento.

_ Mas você é um dos precursores da Bossa Nova.
_ Quando a Bossa Nova começou, eu já tinha mudado pra São Paulo, pro João Sebastião Bar. Eu adoro o Rio, mas a vida me jogou em outra direção. Eu não participei do movimento, mas já conhecia o João Gilberto e o João Donato. E o Tom Jobim. Desde 1950. Nós costumávamos, com a Dolores Duran, ver o sol nascer em Copacabana, depois que as boates fechavam.

_ Nunca foi convidado a se juntar ao movimento?
_ Dizem que me procuraram pro show do Carnegie Hall, mas não me encontraram. O principal produtor deles, o Aloysio de Oliveira, não gostava do meu trabalho, não sei por que... A mulher dele, a Silvinha Telles, pra gravar “Ilusão à toa” num disco da Elenco teve de penar...

_ Fora a música, você tem outros interesses?
_ Sou muito fechado. Adoro ir ao cinema, ficava às vezes da primeira até a última sessão. Quando estreou o “Branca de Neve” do Walt Disney, com a dublagem da Dalva de Oliveira, eu assisti semanas a fio... Depois que eu cresci, descobri o trabalho dos grandes cineastas, como Tarkovsky e Antonioni, e amei. Sou desses que adora filmes com planos longos, sem diálogo. São como a vida. É isso que eu procuro no cinema. Não é só diversão. Para mim esses filmes revelam o outro lado das coisas que eu gostaria de participar, mas não posso, por ser sozinho. O cinema me alimenta. Eu me alimento de Arte.

_ Mas, mesmo conhecendo o Carlos Manga, famoso diretor da Atlântida, você não participou de nenhum filme nacional.
_ Minha única contribuição foi em 1958 num filme da Derci Gonçalves, “A baronesa transviada”, do Watson Macedo. O Bill Farr canta “O que é amar”. Mas nunca fiz nada diretamente pra cinema.

_ Como você quer encerrar nossa entrevista?
_ Miles Davis disse que o músico tem de se atualizar. Ele era grande, se atualizou e voltou ao topo. Acredito que é isso aí. Infelizmente, a maioria dos veteranos da minha geração é cheia de preconceito, acham que a música só presta até os Beatles. Depois é tudo uma porcaria. Eu não concordo com isso. Gosto do que está acontecendo e do que está pra acontecer. Mesmo no caos que é o mundo atual, muita coisa boa continua a ser feita. Certo? Um músico como eu analisa cada coisa com muito cuidado, e o objetivo não é o hit-parade, mas a liberdade de expressão. Essa é a melhor maneira de fazer um trabalho positivo, honesto e espontâneo. Por isso eu digo como a Marilyn Monroe, “eu quero ser maravilhoso”. E vou continuar tentando...

Pé na estrada

Depois de 1990, Johnny Alf ficou mais 6 anos sem gravar, e sua carreira fonográfica parecia ter entrado numa espécie de limbo. Volta e meia gravava uma participação no songbook de alguém (como a sensacional versão de “Ela desatinou” do Chico), mas ficava nisso. Isso foi quebrado em 1997 com um CD inusitado, “Letra & música de Noel Rosa por Johnny Af & Leandro Braga”, produção de Almir Chediak para Lumiar Discos, onde Alf apenas canta, não toca piano nem fez as bases dos arranjos, responsabilidade do companheiro de aventura. É uma tentativa ousada, pois a única coisa que une a obra do grande sambista à do precursor da Bossa Nova é o fato dos dois terem nascido em Vila Isabel. O resultado não é bom. Os arranjos do Leandro não são nem tradicionais nem modernos, são simplesmente medíocres. O repertório também é redundante, só com “grandes sucessos”. E a inédita parceria com Paulo César Pinheiro é bem fraca. Os vocais são muito bons, mas o resultado total deixa muito a desejar. Também inusitado, e igualmente frustrado é “As sete palavras de Cristo na cruz” (Paulinas Comep), de 1999. São 8 temas instrumentais de sua autoria, intercalados com poesias do bispo Dom Pedro Casaldáglia, e uma parceria dos dois juntos. Raras vezes na discografia da MPB houve um encontro tão estapafúrdio, do espírita Johnny Alf com um bispo da Teologia da Libertação. Não houve liga entre partes tão heterogêneas. Se a parte instrumental é nuançada e sutil, a falada é empostada como um sermão de montanha. Uma curiosidade fonográfica. Não é o que acontece com “Cult Alf” (1997, Natasha Records) e “Eu e a bossa” (1998, RobDigital), produzidos por mim a partir de um show ao vivo numa pequena boate no Rio de Janeiro. Aqui temos Johnny Alf em seu habitat favorito. Acompanhado de um trio acústico, onde se destaca o saxofonista Idriss Boudrioua, com faixas sem limite de tempo (algumas ultrapassam 10 minutos de duração), o repertório inclui seus grandes sucessos, ao lado de inéditas, instrumentais, e homenagens a Vinicius de Moraes, Dick Farney e Villa-Lobos (as belíssimas “Melodia sentimental” e a “Cantilena” daBachiana nº 5). Sua versão de “Desafinado” é uma pauleira só, exatamente o contrário da do João Gilberto, e tão boa quanto. Raridades. O vocal está soberbo e nunca antes tinha sido dado tanto espaço para os solos de seu piano sensacional. Foram dois fracassos de vendagem, mas tenho o maior orgulho de incluí-los no meu currículo. Em 11 de Setembro de 2001, dia do atentado das Torres Gêmeas, Johnny Alf iniciou em Nova York a gravação de um cd produzido por César Mariano, e com a participação de grandes músicos como Ron Carter, Hector Costita e outros. Embora finalizado, nunca foi lançado, ao que parece por problemas técnicos não identificados. Também excelente é “Johnny Alf sings and plays with his quintet”, produzido em outubro de 2002 por Jun Itabashi para o selo japonês Bossanovologia, e lançado no Brasil em 2004 pela Guanabara Records com o nada imaginativo título de “Mais um som”. São 15 inéditas, entre elas uma das suas melhores em muitos anos, “Tema da cidade longe”, uma obra prima, e os dois temas gêmeos (“Noite sem lua” e “Céu de estrelas”) que o Paulinho Jobim me disse um dia que o Tom adorava e, embora compostos no início dos anos 50 para Dolores Duran, nunca tinham sido gravados. De tanto eu insistir, ele acabou incluindo. Esse é o seu último disco lançado no mercado. A mixagem diminuiu o volume de sua voz, mas, mesmo assim o resultado é emocionante. Infelizmente não consegui convencer nenhuma gravadora (entre elas a Biscoito Fino e a Trama) a bancarem “Avatar”, um disco de estúdio. A concepção era simples: as primeiras faixas seriam lentas e apenas com piano. Pouco a pouco, entrariam os outros instrumentos e o andamento ficaria cada vez mais rápido, até explodir num samba sincopado com grande orquestra. No repertório, inéditas de sua autoria, e também maravilhas que canta em shows e não gravou, entre elas: “Aeromoça” de Billy Blanco, “Tudo que aprendi de amor” de Fátima Guedes e a velha seresta “Noite cheia de estrelas”, imortalizada pelo tonitroante Vicente Celestino (Johnny a transforma numa cascata de lindíssimas sutilezas). Infelizmente, dado ao estado de saúde do Alf, paraplégico e deprimido numa clínica em Santo André (mas recebendo ótimo atendimento médico), dificilmente esse disco será gravado. Mas eu ouvi, pelo telefone, ele ensaiando para mim a letra do clássico samba do Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, “Quando eu me tornar saudade”. Esse privilégio ninguém me tira. Fecho esse artigo com essa letra, mensagem pouco sutil a todos que não o prestigiaram em vida, e certamente chorarão lágrimas de crocodilo depois que ele se for:

Mas depois que o tempo passar Sei que ninguém vai se lembrar Que eu fui embora Por isso é que eu canto assim Se alguém quiser fazer por mim Que faça agora."

Fonte: João Carlos Rodrigues - Cronópios

PS: Faleceu em 04 de Março de 2010 aos 80 anos no hospital estadual Mário Covas em Santo André (SP), onde durante três anos, se tratou de um câncer de próstata. Ele vivia em uma casa de repouso na cidade. Uma grande perda para a musica e para a historia da Bossa Nova.

Boa leitura - Namastê.


domingo, 26 de setembro de 2010

Momento Trane

John Coltrane na casa do o crítico de jazz Ralph Gleason - 1960
Fotografado por: Jim Marshall

John Coltrane, Rudy Van Gelder's Studio, New York - 1963
Fotografado por: Jim Marshall


John Coltrane, The Guggenheim Museum, New York, NY - 1960
Fotografado por: William Claxton


John Coltrane, Cannonball Adderley, Paul Chambers & Miles Davis, Newport Jazz Festival, Newport, RI - 1958
Fotografado por: Frank Driggs Collection

John Coltrance & Johnny Hartman, Van Gelder Studio, NJ - 1963
Fotografado por: Joe Alper

John Coltrane & Lee Morgan, 1960
Fotografado por: Francis Wolff





segunda-feira, 20 de setembro de 2010

As lentes de Art Kane sobre a perspectiva do Jazz

Eram cerca das 10 da manhã de um dia de Verão de 1958, na 126th Street, entre a Fifth e a Madison no Harlem, 57 músicos de Jazz, representando três gerações, posaram para a câmara de Art Kane (1925-1995), fotógrafo free lance da revista Esquire magazine (publicada em janeiro de 1959), que se tornou uma das mais famosas da história da música. Nela, figuraram três gerações de jazzmen que praticavam estilos tão próximos e diversos como dixieland, new orleans, swing, bop, cool e pós-bop, juntos no mesmo enquadramento, representam o traço de união entre todas as formas e estilos, algo que para Joe McPhee e companhia é muito importante. O documentário "A Great Day in Harlem" - 1994 de Jean Bach, um produtor de rádio de Nova York, contou a história por trás da foto em seu documentário "um grande dia no Harlem", que foi indicado ao Oscar em 1995. O filme conta a incrível história da foto, através de entrevistas com os personagens, detalhes de produção, o comportamento dos músicos e demais envolvidos, fotos alternativas e algumas imagens em filme feitas no dia da foto. Apesar de ser mais conhecido como um dos melhores retratistas norte-americano, das décadas de 60 e 70, Art Kane não é somente isso. Sua fotografia relata toda a mudança social e política da época, opinando, delatando e persuadindo com suas imagens simples e poderosas. Art Kane nasceu em New York em 09 de Abril de 1923. Durante a II Guerra Mundial, serviu à US Army na Europa. Aos 27 anos se graduou na Cooper Union School of Art e tornou-se diretor de arte da revista Seventeen. Deixou a revista em 59 e dedicou seu tempo totalmente à fotografia. Tenha um grande senso de cor e composição que vem de sua grande experiência e conhecimento da área de layout, impressão e artes gráficas. Ministrou vários workshops fotográficos pelo mundo; passou inclusive muito tempo no Brasil entre 1976 e 1977, trabalhando em um livro de fotografia para a Time-Life, gostando muito da terra tupiniquim como chamava carinhosamente o Brasil. Morreu com 69 anos em 03 de Fevereiro de 1995 e infelizmente nenhum destes workshops foram documentados em filme ou vídeo.

Curiosidades:
- A foto inspirou vários “covers” com outros grupos de pessoas (músicos, artistas, pessoas comuns), no mesmo local ou em outras cidades.
- Das crianças que aparecem na foto só uma foi identificada. Taft Jordan Jr, filho do trompetista Taft Jordan (10).
- No filme “o Terminal”, Viktor (Tom Hanks) fica preso no aeroporto de N.York quando se dirige a cidade com o objetivo de completar o sonho de seu falecido pai: obter os autografos de todos os músicos presentes na foto. Ele, um amante do jazz, encontra a foto em um jornal hungaro em 1958 e escreve para os músicos pedindo autografos. Ele recebe quase todos. Ao pai de Viktor Navorski só faltava a assinatura de Benny Golson (02).
- Em 1998, o poeta, escritor e fotógrafo Gordon Parks prestou a devida homenagem ao trabalho de Art Kane, reunindo na mesma rua, à mesma hora, rappers e músicos hip-hop. Chamou-lhe Another Great Day.
- Art Kane retratou Bob Dylan, Stones, Frank Zappa, Janis Joplin, The Who, Jim Morrison, Aretha Franklin e uma enormidade de modelos -como fotógrafo de moda. Mas nada que se compare ao que fez no Harlem. As revistas Vogue e Bazaar publicaram seus primeiros ensaios feitos com uma lente grande angular e efeitos produzidos com imagens prismáticas.



Músicos:
01 - Hilton Jefferson, 02 - Benny Golson, 03 - Art Farmer, 04 - Wilbur Ware, 05 - Art Blakey, 06 - Chubby Jackson, 07 - Johnny Griffin, 08 - Dickie Wells, 09 - Buck Clayton, 10 - Taft Jordan, 11 - Zutty Singleton, 12 - Red Allen, 13 - Tyree Glenn, 14 - Miff Molo, 15 - Sonny Greer, 16 - Jay C. Higginbotham, 17 - Jimmy Jones, 18 - Charles Mingus, 19 - Jo Jones, 20 - Gene Krupa, 21 - Max Kaminsky, 22 - George Wettling, 23 - Bud Freeman, 24 - Pee Wee Russell, 25 - Ernie Wilkins, 26 - Buster Bailey, 27 - Osie Johnson, 28 - Gigi Gryce, 29 - Hank Jones, 30 - Eddie Locke, 31 - Horace Silver, 32 - Luckey Roberts, 33 - Maxine Sullivan, 34 - Jimmy Rushing, 35 - Joe Thomas, 36 - Scoville Browne, 37 - Stuff Smith, 38 - Bill Crump, 39 - Coleman Hawkins, 40 - Rudy Powell, 41 - Oscar Pettiford, 42 - Sahib Shihab, 43 - Marian McPartland, 44 - Sonny Rollins, 45 - Lawrence Brown, 46 - Mary Lou Williams, 47 - Emmett Berry, 48 - Thelonius Monk, 49 - Vic Dickenson, 50 - Milt Hinton, 51 - Lester Young, 52 - Rex Stewart, 53 - J.C. Heard, 54 - Gerry Mulligan, 55 - Roy Eldgridge, 56 - Dizzy Gillespie, 57 - Count Basie,

Fontes: www.harlem.org ,www.artkane.com & www.a-great-day-in-harlem.com .
Boa leitura - Namastê.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Curiosidades do Jazz

Art Kane - A Great Day in Harlem, 1958, para a Esquire magazine.


Original Dixieland Jazz Band - primeiro grupo de jazz a
gravar um disco em 26 de Fevereiro de 1917.



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Momento Armstrong

Louis Armstrong, Aquarium, New York, N.Y., ca. July 1946
Fotografado por: William Gottlieb
Louis Armstrong, Aquarium, New York, N.Y. ca. July 1946
Fotografado por: William Gottlieb
Louis Armstrong, Carnegie Hall, New York, N.Y. Apr. 1947
Fotografado por: William Gottlieb

Louis Armstrong, Carnegie Hall, New York, N.Y. Feb. 1947
Fotografado por: William Gottlieb

Louis Armstrong, Aquarium - New York, N.Y. July 1946
Fotografado por: William Gottlieb

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Score

Diana Ross

Diana Ross - Billie Holiday. Lady Sings The Blues / 1972

1972 - Billie Holiday: Lady Sings The Blues - Score

Biografias dificilmente agradam aos fãs e conquistam um grande público ao mesmo tempo. E não é qualquer diretor ou escritor que pode traduzir a voz marcante e a vida conturbada de uma que, arrisco dizer, foi uma das maiores cantoras de jazz de todos os tempos: Billie Holiday. Lady Sings The Blues, 1972 (O Ocaso de uma Estrela), tentou e levou cinco indicações ao Oscar e um Globo de Ouro. Dirigido por Sidney Furie e protagonizado por Diana Ross, mostra, ainda que de forma incompleta, a trajetória de Lady Day, passando da infância como Eleanor Gough e da ascensão como Billie Holiday até seu declínio – uma história trágica demais para ter sido imaginada. Foi baseado em sua autobiografia, que leva o mesmo título de uma canção composta pela própria em meados dos anos 50. Foi com essa voz levemente rouca e surpreendentemente expressiva que Holiday conquistou críticos e platéias, ainda não acostumados a ver brancos e negros dividindo os palcos – chegar até eles é que foi seu grande desafio. Começou a trabalhar como empregada doméstica aos seis anos, foi violentada por um vizinho aos dez e internada em um reformatório cujos métodos de correção eram severos mesmo para a época: reza a lenda que, certa vez, Billie teve de passar a noite trancada em um quarto com o cadáver de uma menina. Aos doze limpava o chão de bordéis, para logo se tornar prostituta e acabar presa. Os detalhes mais sórdidos foram ocultados no filme, que se contentou em exibir Billie ouvindo blues em uma vitrola, deslizando rapidamente pela infância perdida. Sem nenhum dinheiro, sendo ameaçada de despejo e cansada do que tinha de se submeter para sobreviver, Eleanor se apresenta a um bar como dançarina, mas seus passos não convencem o proprietário. Quando sugerida pelo Pianista Richard Pryor) que cantasse, ela não entendeu. Nunca pensara em lucrar com algo que gostava tanto de fazer. Mas cantou. Cantou e agradou tanto que, naquela noite, voltou para casa com cinquenta e sete dólares no bolso e um emprego, o que foi precisamente o início de sua carreira. Um acréscimo à cena: a agora cantora Billie Holiday conhece Louis McKay (Billie Dee Williams), uma maneira simples encontrada para substituir todos os seus amantes por um marido que a acompanharia em suas apresentações, suas crises e sua morte. Buscando um espaço no meio musical em um período marcado pela segregação racial, Billie compõe a canção Strange Fruit, um protesto indignado contra as manifestações racistas que escandalizou seu público e foi proibida em muitas rádios.
Assim que entra em turnê, perdemos o foco da mulher para uma verdadeira maratona atrás do merecido reconhecimento, o envolvimento com drogas e as diversas tentativas de prosseguir cantando sendo uma dependente química. Apesar do inegável talento, Billie Holiday não suportaria a pressão. Exausta pelo preconceito, uso desenfreado de heroína, álcool, conflitos amorosos e familiares, problemas com a polícia, empresários corruptos, depressão, internações – a soma de todas as pequenas tragédias de sua vida a levariam à overdose que pôs fim ao sonho da fama que, como ela mesma sempre soube, só chegaria quando não pudesse mais cantar. Mas cantou enquanto pode. Primeiro filme de Diana Ross, ela não só interpretou Holiday como substituiu sua voz na trilha sonora, fazendo jus à intensidade tão característica. Lady Sings the Blues mostra as fraquezas por trás do jazz, mas deixa a sensação de que falta alguma coisa. Fonte: Alice - Blog pipoca psicodelica soundtrack

Título original: Lady Sings the Blues
Lançamento: 1972 (EUA)
Direção: Sidney J. Furie
Duração: 144 min
Elenco: Diana Ross, Billy D. Williams, Richard Pryor, Paul Hampton, Sid Melton
Gênero: Drama


Prêmios e indicações:

BAFTA Film Awards
Melhor atriz – Diana Ross (indicada)

Globo de Ouro
Atriz revelação mais promissora – Diana Ross (vencedora)
Melhor atriz em filme dramático – Diana Ross (indicada)
Melhor trilha-sonora original – Michel Legrand

Oscar
Melhor atriz principal – Diana Ross (indicada)
Melhor roteiro – Chris Clark, Suzanne De Passe e Terence McCloy (indicados)
Melhor trilha-sonora adaptada – Gil Askey (indicado)
Melhor direção de arte – Carl Anderson e Reg Allen (indicados)
Melhor figurino – Bob Mackie, Ray Aghayan e Norma Koch (indicados)


Faixas:
01. The Arrest
02. Lady Sings The Blues
03. Baltimore Brothel
04. Billie Sneaks Into Dean & Dean's, Swingin' Uptown
05. Tain't Nobody's Bizness If I Do
06. Big Ben/C.C. Rider
07. All Of Me
08. The Man I Love
09. Them There Eyes
10. Gardenias From Louis
11. Cafe Manhattan/Had You Been Around, Love Theme
12. Any Happy Home
13. I Cried For You (Now It's Your Turn To Cry Over Me)
14. Billie & Harry, Don't Explain
15. Mean To Me
16. Fine And Mellow
17. What A Little Moonlight Can Do
18. Louis Visits Billie On Tour, Love Theme
19. Cafe Manhattan Party
20. Persuasion, T'ain't Nobody's Bizness If I Do
21. Agent's Office
22. Love Is Here To Stay
23. Fine And Mellow
24. Lover Man (Oh, Where Can You Be?)
25. You've Changed
26. Gimme A Pigfoot (And A Bottle Of Beer)
27. Good Morning Heartache
28. All Of Me
29. Love Theme
30. My Man (Mon Homme)
31. Don't Explain
32. I Cried For You (Now It's Your Turn To Cry Over Me)
33. Strange Fruit
34. God Bless The Child
35. Closing Theme

Strange Fruit


God Bless The Child


Boa audição - Namastê

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

História da “Garota de Ipanema”

Vinícius de Moraes fez a letra da música Garota de Ipanema inspirado numa moça que passava freqüentemente em frente ao Bar Veloso em Ipanema. Esta moça chama Heloísa Eneida Menezes Pais Pinto - mais conhecida como Helô Pinheiro. Garota de Ipanema é uma das canções mais famosas da bossa nova e sua gravação em inglês (letra de Norman Gimbel), pela cantora Astrud Gilberto em 1963, lançou The Girl from Ipanema como sucesso mundial. Acontece que por detras do Ming of desta musica esconde verdades pouco conhecida pelo publico e admiradores desta obras regravado por músicos de diferente melodias e ritmos. Mr. Arnaldo Agria Huss, poeta e escritor de fim de semana traz a luz fortíssimos relatos bem como uma força maior do blog Respire Turismo com suporte de camaradagem onde Vanesa Lopez abriu apoio para os amigos e visitante do Borboletas de Jade apreciasse sem moderação. Segue na integra a postagem feita nos cunho de Mr. Arnaldo e duplicado de Lady Vanesa.


"Apesar de já ter sido dito formalmente, muitas pessoas não acreditam e não se conformam: “Garota de Ipanema”, não foi feita por Tom Jobim e Vinícius de Moraes no bar que tinha o nome de Veloso e que hoje se chama Garota de Ipanema, na rua que era Montenegro e depois passou a ser Vinícius de Moraes, na esquina com a Prudente de Moraes (nenhum parentesco entre os dois). Para efeito de localização, a rua Vinícius de Moraes vai até a Avenida Vieira Souto, na orla de Ipanema, no Rio de Janeiro. A canção foi composta em 1962, chegando a ser considerada o hino da bossa nova, mais ainda do que “Chega de Saudade”, gravada por João Gilberto em 1958, que havia provocado uma verdadeira revolução na música popular. “Garota de Ipanema” pode ser considerada um dos maiores standards do século XX. Já foi e continua sendo gravada por tanta gente, que não se sabe como seus royalties são administrados pelas sociedades que cuidam disso. Oficialmente teria perto de 300 gravações, mas o número real deve estar perto do dobro disso, considerando-se as versões não autorizadas que vivem sendo feitas. Frank Sinatra a gravou e, claro, você sabe quem ele é. Mas saberia dizer quem é Floyd the Barber? Não? Pois é. Floyd é um cantor de rap. Diz-se que sua gravação de “Garota de Ipanema” é legalizada. Quanto ao número de execuções da canção, segundo dados oficiais, “Garota de Ipanema” rivaliza com “Yesterday”, de Lennon & McCartney, as duas ultrapassando a casa dos 5 milhões.
Hoje em dia os principais portais da internet contêm, cada qual, um mínimo de 600 mil entradas relativas a “The Girl from Ipanema”. Fora os sites em russo, grego, japonês, chinês, coreano, árabe e outras línguas para as quais o computador necessitaria ter os caracteres adaptados. “Garota de Ipanema” foi apresentada pela primeira vez em um show na Boate Bon Gourmet, em Copacabana, no Rio. Na noite de estréia, em agosto de 1962, não se sabia o que viria após Tom dedilhar algo no piano e João Gilberto cantarolar:

“Tom, e se você fizesse agora uma canção / Que possa nos dizer / Contar o que é o amor?”
Ao que Tom respondia:
“Olha Joãozinho, eu não saberia / Sem Vinícius pra fazer a poesia…”
O poeta (Vinícius) pegava o mote e dizia:
“Para essa canção se realizar / Quem dera o João para cantar…”
E João Gilberto, incrivelmente modesto, completava:
“Ah, mas quem sou eu? / Eu sou mais vocês / Melhor se nós cantássemos os três…”
E os três:
“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…”

Desnecessário dizer que esse foi um grande momento na vida de todos que estavam ali – um momento que perdurou por 45 dias, a ponto de se esquecer que nesse mesmo show também foram lançadas e cantadas outras músicas como, por exemplo, “Corcovado”, “Samba da minha terra”, “Insensatez”, “Samba de uma nota só”, que também vieram a ser grandes sucessos. Tudo isso foi gravado pelo advogado Jorge Karam, um apaixonado por música e que poderia ter gerado um grande disco, mas os participantes – não se sabe o motivo – nunca permitiram que isso fosse feito. E, assim, perdeu-se um espetacular documento histórico, principalmente pelo fato de que depois daqueles sucessos de 1962, Tom e Vinícius nunca mais comporiam juntos. O motivo alegado foram as viagens e de fato, Tom foi para Nova York e Vinícius voltou a exercer suas funções diplomáticas em Paris. Mas a primeira gravação oficial, em disco, de “Garota de Ipanema” foi feita por Pery Ribeiro, na Odeon, e o Tamba Trio, na Philips, no mês de janeiro de 1963. Ainda em 1963, mas no mês de maio, o próprio Tom Jobim lançou a canção nos Estados Unidos, no seu primeiro disco feito lá, chamado “The Composer of Desafinado”. Voltando ao nascimento de “Garota de Ipanema”, Tom e Vinícius nunca tiveram como estilo escrever músicas em mesas de bares, embora nesses mesmos bares tenham investido as melhores horas de suas vidas. A melodia foi composta de forma meticulosa por Tom, ao piano, na sua casa na Rua Barão da Torre, em Ipanema, e não tinha como destino inicial musicar a letra de Vinícius, mas, sim, uma comédia musical intitulada “BLIMP”, que Vinícius já tinha na cabeça, mas nunca pôs no papel. A letra foi escrita por Vinícius em Petrópolis e não nasceu se chamando “Garota de Ipanema”, e sim, “Menina que passa”, e toda a sua primeira parte era diferente. Depois, os dois se encontraram, e, finalmente, nasceu a canção por completo. O Veloso serviu apenas como referência, apesar de ostentar até hoje em suas paredes cópias da partitura da melodia e dar a ilusão de que uma mesinha de canto, hoje próxima aos sanitários, teria sido o exato local onde os dois ficaram para escrever a canção, ao ver a garota passar a caminho do mar. Quanto à famosa garota ela foi mesmo Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, depois conhecida como Helô Pinheiro. Foi no Veloso que Tom e Vinícius a viram passar inúmeras vezes, não apenas a caminho do mar de Ipanema na Vieira Souto, mas, também, a caminho do colégio, da costureira e do dentista. No início, Helô Pinheiro não imaginava que a canção era em sua homenagem, mas logo começou a desconfiar porque desde 1962, dois bem informados sujeitos da revista “FATOS E FOTOS” (Ronaldo Bôscoli, o repórter e Hélio Santos, o fotógrafo) viviam insistindo em fotografá-la num daqueles “duas peças” meio escandalosos para a época, mas que nos dias de hoje dariam para confeccionar inúmeros “fios-dentais”. Conseguiram a façanha, mas só depois que o pai de Helô, um general da linha-dura, certificou-se dos bons propósitos dos dois. Mas foi apenas três anos depois, em 1965, quando Helô já tinha 22 anos e estava de casamento marcado que Tom e Vinícius lhe revelaram que a canção fora dedicada a ela. Helô tornou-se famosa, o que criou um misto de orgulho e desconforto no general e no noivo, pois todos queriam conhecer “a coisa mais linda e mais cheia de graça”. Quiseram colocá-la como símbolo oficial da cidade pois o Rio comemorava naquele ano o seu quarto centenário. O pai general linha-dura e o noivo ciumento não deixaram. Assim como também não deixaram que participasse das filmagens do filme “Garota de Ipanema” realizado em 1967, e que foi a primeira grande produção em cores do chamado Cinema Novo. Pois bem, após essas proibições todas, o tempo passou, e todos decidiram tratar de outros interesses. O assunto já estava meio esquecido quando, 25 anos depois daquela tarde no Veloso, todos finalmente puderam apreciar – desta vez, por completo – os atributos da “Garota de Ipanema” original, na edição de maio de 1987 da Playboy brasileira. Apesar de que 25 anos não são 25 dias. Vai daí…
Esta é a verdade sobre o nascimento de uma das mais lindas canções da bossa nova e, por que não dizer, da música popular de todos os tempos. Garota de Ipanema continua a encantar até hoje quem a ouve pela primeira vez".

Girl From Ipanema - Astrud Gilberto & Stan Gatz


Boa audição - Namastê