quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A história da Bossa Nova - Parte XVI

Paulinho Nogueira foi um dos primeiros a despontar. Em São Paulo desde 1952, pensava ser desenhista publicitário, até que descobriu seu verdadeiro caminho e foi trabalhar como violonista na boate ltapoã. Segundo diz, “a gente estava sempre tocando nas casas noturnas, e só curtia mesmo a música quando acabava a função; aí é que a coisa esquentava...”. Professor de violão, não apenas se apresentava nos espetáculos do circuito universitário, como fazia “escada” para os artistas mais jovens, quando necessário. Theo de Barros começou tocando jazz na boate de jovem-guarda Lancaster, na Rua Augusta, alternando com um conjunto de rock. Tocou em várias casas noturnas, como Cambridge, Baiúca, João Sebastião e Ela, Cravo e Canela, Participou do grupo, das reuniões e das noites de Bossa Nova, e dirigiu Historinha, já na fase do Teatro Paramount, tendo preparado, para este espetáculo, arranjos que incluíam trompetes e violinos para o conjunto de Erlon Chaves. O cantor, violonista e compositor Sérgio Augusto estudava Química Industrial e trabalhava na noite para ajudar a custear os estudos. Freqüentador da turma carioca da qual nasceu a Bossa Nova, seu estilo de tocar violão chamava a atenção, assim como suas primeiras composições, dentre as quais Barquinho Diferente, gravada por Claudete Soares, Milton Banana Trio, Zimbo e outros. Fez parte do conjunto de Pedrinho Mattar quando este se apresentava com Claudete, no Ela Cravo e Canela e no João Sebastião Bar, tendo inclusive ali substituído Vera Brasil, Sérgio Augusto participava do circuito universitário e se apresentava no Le Barbare e no Estão Voltando as Flores. Segundo seu depoimento, “inesquecíveis eram os fins de noite na boate Bon Soir, quando todos os músicos deixavam seu trabalho e iam ouvir o violão e as canções de Walter Santos, ídolo de todos nós naquela época, sob cujo samba o sol nascia lá para os lados da antiga Praça Roosevelt”. Walter Santos, também baiano e também de Juazeiro, fez parte do back vocal do disco pioneiro de Elizeth Cardoso, ao lado de Tom Jobim e de João Gilberto, e foi presença do maior destaque nos primeiros anos da Bossa Nova em São Paulo, assim como outro conterrâneo, Geraldo Cunha, igualmente violonista, compositor e cantor, que participou do show O Fino da Bossa, e chamava público em inúmeras casas noturnas entre as quais o Le Barbare, o Jogral e, anos depois, o III Whisky. Entre tantos outros, Edgard Gianullo sempre teve pendores para os arranjos vocais, tendo liderado vários conjuntos com clara influência do jazz e da Bossa Nova, o mais recente dos quais o Quatro por Quatro. Participou da orquestra de Simonetti e acompanhou inúmeros cantores da moderna música popular brasileira. Apaixonado por música desde os catorze anos, em particular dos Anjos do Inferno, a maior diversão de sua turma era fazer novos arranjos para músicas antigas. “Aparecia até a Carmen, de Bizet, em ritmo de Bossa Nova”, comenta, citando inclusive que Vinícius e Tom costumavam freqüentar as reuniões desse grupo em São Paulo. Mesmo polarizada pela velha Praça Roosevelt, a Bossa Nova paulista a partir de 1961 passou a ter fora dela, não longe, porém em duas direções opostas, as casas noturnas mais marcantes em matéria de música popular brasileira, e de Bossa Nova em particular. Para os lados da Vila Buarque, próximo ao Mackenzie e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU: uma série de bares como o Le Barbare, o Manolo, o Ela, Cravo e Canela e particularmente o João Sebastião Bar, na Major Sertório, dirigido por Paulo Cotrim. Na Avenida Nove de Julho, não longe do Anhangabaú, o bar do Hotel Claridge, que depois virou Cambridge para aproveitar o maior número de letras quando teve de mudar o nome. Cotrim havia sido diretor artístico da boate Cave, numa época, entre 1959 e 1960, com música de qualidade e shows de bolso que tiveram grande sucesso. Era ligado aos movimentos de juventude católica e dono de uma pensão de estudantes na Rua Sabará, que era ponto de encontro de jovens lideranças intelectuais e artísticas. Anos mais tarde transformou-se em prestigiado cronista de assuntos gastronômicos. Sua proposta era a criação de um novo espaço, especialmente projetado para ser uma casa de música, de shows e de reunião, objetivo que alcançou, tornando-a no mínimo o local mais badalado da cidade. Foram suas atrações, entre muitas outras, Claudete Soares acompanhada por Pedrinho Mattar, com Sérgio Augusto (violão), Azeitona (baixo) e Hamilton (bateria); o Sambalanço Trio, do pianista César Camargo Mariano, Kleiber (baixo) e Airto Moreira (bateria) Pery Ribeiro; o Sexteto Brasileiro de Bossa Nova, liderado por Theo de Barros; e o Quarteto de Eli Arcoverde. Foi lá, por exemplo, a primeira apresentação pública de Gilberto Gil, então funcionário em São Paulo da Cia. Gessy-Lever. Entre os locais eleitos pela Bossa Nova, o João Sebastião Bar era, segundo a cantora Ana Lúcia, “uma Ipanema para os paulistas. Lá, na mesma noite, podia-se encontrar Lennie Date, Tônia Carrero, Tarcísio Meira e Glória Menezes ou a Condessa Pereira Carneiro”. Segundo ela, a maior atração da casa eram as “canjas”, além dos dois ou três conjuntos contratados e uns quatro cantores. “O Jô Soares, por exemplo, sempre aparecia para tocar bongô ..“. Já a história do Cambridge relataria principalmente as diferenças na composição dos conjuntos que ali se apresentavam, num clima mais calmo, para um público mais voltado à qualidade musical. Entre outros, deve-se lembrar o conjunto de Manfredo Fest, com Matias (baixo) e Heitor (bateria); o de Pedrinho Mattar, com Azeitona (baixo), Toninho Pinheiro (bateria) e Papudinho (pistom) acompanhando Claudete, e o da própria, acompanhada por Walter Wanderley, no quarteto vocal que formaram com a participação de Alaíde Costa. Logo a Bossa Nova começou a ser exportada. A Odeon lançou João Gilberto nos Estados Unidos através de uma montagem de gravações intitulada BraziI’s Brilliant. Em 1961, houve no Teatro Municipal do Rio um espetáculo de jazz com os músicos americanos Coleman Hawkins, Curfis Fuiler, Zoot Sims e Herbie Mann, entre outros. Fascinados com as possibilidades infinitas de improviso da Bossa Nova, eles voltaram para os Estados Unidos com algumas músicas para serem gravadas. O trompetista Alberto Castilho lembra que, em 1961, foi um dos músicos convidados a tocar no primeiro festival de jazz da América Latina, em Punta del Este, no Uruguai. O conjunto era formado por ele, Juarez Araújo (sax tenor), Paulinho Ferreira (sax barítono), Bill Horne (trompete) Pedro Paulo (contrabaixo), Sérgio Mendes (piano), Tião Neto (contrabaixo) e Oswaldinho Oliveira Castro (bateria). Participavam Argentina, Brasil, Uruguai e Chile. “Até o conjunto argentino já tocava Bossa Nova”, lembra Alberto, contando também que durante as apresentações do festival só se tocava jazz, mas nas jam sessions que aconteciam depois, nos bares de Punta del Este, a Bossa Nova era o grande acontecimento. (...) Continua na próxima postagem. Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996. 
Boa leitura - Namastê

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