segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Primeiro Casamento com Direito a Ópio em Queda Livre

No ano de 1939, Jimmy Monroe, irmão de Clark Monroe acaba de voltar da Europa. Depois de ter vivido em Londres, retorna de Paris onde dirigiu um clube na Praça Pigalle. Dotado de um rosto com traços finos e de um sorriso irresistível, ele se apresenta, ora como empresário, ora como antigo atleta. Ele esta casado com uma vedete da canção popular, Nina Mae McKinney (1913-1967) e retorna enfeitado todo de pena de pavão ao lado de uma magnífica londrina, que exibe por toda parte, como um sinal de sua classe européia. Suprema sofisticação, ele fuma ópio, um habito que trouxe de Paris onde se tornou a ultima moda. Bille sente uma paixão avalassadora. Quando um homem lhe agrada, ela não fica lançando olhares dengosos, ela fala diretamente. Billie hesita em saborear de imediato o que a vida lhe oferece. Get Higt em um homem, uma mulher, um copo de bebida, um joint. Quem poderia crer que Billie buscava uma relação durável, um homem que dissipasse sua amarguras de menininha abandonada, que a amasse e protegesse? Um sonho de comerciaria bem escondido sobre uma mascara de valentona. Porque não é esse tipo de homem que convém à sua natureza mais profunda. Jimmy Monroe e mais um belo homem que ela conheceu. Lembra vagamente de seu pai, Clarence Holiday. Ela adora o seu lado brilhante e charmoso, seu refinamento, sua silhueta esbelta. Monroe enviou na cabeça que vai ser seu agente musical. Ele conhece bem as Star ou pelo menos é o que ele diz, porque já se casou com uma.
_Para ser uma Star, vai ter que se comportar como uma. Cuidar mais de sua aparência, usar vestidos magníficos, jóias lindas, cobrir-se de peles. Tem de parecer uma. Ele aconselhava a usar uma peruca, com um coque longo acima da testa ou então no alto da nuca. Há muitas fotos que a mostra nessa época, muito elegante, com vestido de noite, fiadas de pérolas no pescoço, chapéu de festa ou gardênia, sapatos de palmilhas duplas com saltos altos. Freqüentemente um magnífico casaco de vison. Ela vai adquirindo uma paixão por peles de vison. Serão o ambiente de seu sucesso. Naturalmente ela vai precisar de um amante a sua altura. Jimmy Monroe é o homem ideal, o príncipe consorte de Lady Day, muito elegante em seus casacos justos. Ao redor dele gravita uma corte de novos amigos, em busca de pequenos favores que ela satisfaz generosamente. Jantares regados a bebidas, mesas fartas, noitadas alegres, café-concertos, aplauso, conhaque. E droga. No final dos anos 30, para se hip é preciso fumar ópio. É a época de festas elegantes e muito privadas em que artistas, escritores, músicos e ícones do jet-set se encontram ao redor de um ritual fascinante e se entregam a uma cerimônia exclusiva para o iniciados. O cachimbo de ópio circula de boca em boca, as longas horas da noite se estiram ainda mais na fumaça opiácea. Billie esta apaixonada. Ela experimenta por Jimmy a mesma atração que pelos cafetões de Baltimore, com seus sapatos bicolores, seus dedos cobertos de anéis, os olhos brilhando sob a aba caída dos chapéus. Esses homens que a haviam posto debaixo de suas asas protetoras desde que tinha 13 anos, esses homens cruéis mas capazes de ternura, que a cobriam de presentes cm o dinheiro que ela mesmo ganhava, mas que mais tarde a sabiam recompensar muito bem na cama. Se ela se atrevesse a resistir em qualquer coisa, dito e feito, Jimmy tem mão pesada. Isso ficou claro. Billie nem se quer protestou, só protegeu seu rosto. Os amigos viraram os próprios rostos para outro lado. Para Sadie, ela disse que tinha sido agredida por algum vagabundo. O ano de 1940 é frutífero em contratos, viagens, transmissões em rádios e gravadoras. Acompanhada pelo pianista Roy Eldridge, apelidado de Little Jazz por se muito baixinho, ela canta por dezoito semanas no Kelly´s Stable. O Swing Team de 1940 programa o cartaz na entrada do clube. Eles alcançam um sucesso estrondoso. Ela possuía ao mesmo tempo o poder de fazê-lo chorar e logo depois deixa-lo muito feliz, tinha um contato fabuloso com o publico . Percebi que, efetivamente, que ela já havia se tornado uma estrela – diria mais tarde Roy. Billie se apresenta igualmente fora de Nova York . Depois de cantar em Washington, ela permanece durante um mês no Hotel Sherman, Chicago. Suas apresentações de canto são retransmitidas pelas rádios. Numerosas estações a solicitam para emissões diretas. Uma única vez, ela recusa o convite, por ficar sabendo que Ella Frizgerald também foi incluída no programa. Lady Day não dividia sua posição de vedete com ninguém. Ainda haverá muitas sessões de gravações com Roy Eldridge dentro de uma serie Billie Holiday and Her Orchestra. Serão doze títulos. Entre eles Body and Soul, Ghost of Yesterday, Falling in Love Again. Ela ira gravar igualmente com a orquestra de Teddy Wilson e com Benny Carter. Billie, que fica de pé quando se trata de defender seus interesses, ganha agora trezentos dólares por semana e os gasta elegantemente com toda a banda de Jimmy Monroe. Em setembro, Billie retorna ao Apolo. Pela primeira vez, seu nome figura no topo do cartaz. O reconhecimento chegou precisamente nesta sala que a desprezou em sua estreia. Não é absolutamente uma pequena revanche. No mês de outubro, o Café Society a contata de novo. Pagando seu preço. Na noite da abertura, Billie não vem. Barney Josephson decide anular seu contrato, afirmando em altas vozes que pode perfeitamente passar sem ela. Mas ele logo muda de ideia. Embriagado pelo sucesso de sua formula, Josephson decidiu abrir um segundo Café Society na Rua 58, na Uptown. Billie, o pianista Art Tatum e toda orquestra de Joe Sullivan (1906-1971) são as garantias de seu sucesso. Desta vez, Billie se alterna entre os dois Café Society e circula de uma ponta da cidade à outra. O tempo exato de fumar um Joint dentro do taxi. Entretanto a colaboração com Art Tatum está longe de lhe ser conveniente. Um brilhante pianista, Art não é um acompanhante. Sua virtuosidade, a prolixidade de seus acompanhamentos não convém às respirações sutis de Billie, sua simplicidade e seus deslocamentos de compasso. Billie sai do Café Society no final de novembro e volta ao Kelly´s Stable e depois vai para a Uptown House de Clark Monroe. Nos domingos à tarde, ela volta a participar das jam sessions que Milt Gabler organiza no Jimmy Ryan´s Club. Ela não pode recusar coisa alguma àquele que lhe permitiu gravar Stranger Fruit. Ela encontra ai mais uma vez o querido Eddie Condon e os outros músicos de quem mais gosta: Joe Sullivan (1906-1971) , Bobby Hackett (1915-1976) Hot Lips Page (1908-1954) e Lester Young. Billie conta que assim que iniciaram seu relacionamento, a londrina telefona para Sadie, a fim de preveni-la contra Jimmy Monroe. Foi desnecessário. Sadie já encarava aquela ligação com os piores olhos possíveis. Billie, enamorada, tem a cabeça em outro lugar e se afasta de sua mãe. Isso não agrada nem um pouco a Sadie. Ela alerta Joe Glaser, o agente de Billie para que tome cuidado. Prevenido, ele logo começa a observar o gigolô de casaco de seda, as pequenas marcas no rosto dela e seu jeito de mulherengo. Um drogado ainda por cima. Para observar sua filha, Sadie lança mão de todos os argumentos. Será que bem lá no fundo ela acha que Billie não tem o direito a uma vida melhor que o dela?
- Ela nunca vai casar com você – repete-lhe com freqüência.
Todo homem representa um concorrente potencial que vai controlar Billie e tirar o dinheiro dela. De fato, ela contata que Billie, que ganha a vida tão bem, esta sempre dura. Sadie tem que reclamar muito para conseguir um punhado de dólares. Ela esta convencida de que sua filha não quer saber dela, mas isso é só por causa do Monroe que a mantem sob seu domínio através do poder da droga. Como se fosse para lhe dar razão, certa manhã ela surpreende Billie no momento em que misturava uma pasta suspeita em seu café. Irene Wilson, que a pouco se separara de seu marido, estava morando com elas.
- O que é isso que você esta pondo no café, Billie?
- Ah, não é nada. Só um negócio que não faz mal nenhum.
Um momento depois ela corre pro banheiro, quase morrendo de vomitar.
- Tudo que eu sei – acrescenta Irene - é que Jimmy Monroe a ensinou a fumar ópio. Mas em seguida ele começou a enchê-la de cocaína, também. A personalidade de Billie se transforma. Perde boa parte de sua alegria, torna-se mais grosseira com os amigos e com Sadie, que confidencia sua preocupação a Joe Glaser. Ela atribui seu comportamento ora ao homem, ora as drogas. Billie esta correndo perigo e tem de ser vigiada. Billie se encerra. Fica descansando em casa quanto escuta Rhapsody in Blue e Porgy and Bess. Mas também escuta Debussy (1862-1918). Ela gosta em especial do Prélunde à I´apresmidi d´um faune (bale de curta duração de autoria do compositor francês Achille-Claude Debussy). Provavelmente porque ele agrada tanto Billie. Sadie odeia Jimmy. Proíbe que ele entre em sua casa. Se ele pretende continuar se encontrando com sua filha, então que seja em outro lugar, não vai ser na casa dela. Billie, que ainda lhe guarda um certo rancor por causa de Sonny White, decide dar-lhe uma lição. Uma noite, ela não telefona para Sadie para lhe dar noticias. A noite inteira passa e nem sequer uma chamada. Sadie, esta apavorada. Finalmente Billie chega com um ar de insolente. Com as moas na cintura, Sadie já esta pronta pra passar-lhe um carão, mas Billie joga um sobre a mesa da cozinha. Uma certidão de casamento. Eles se casaram na véspera em Elkton, Maryland.
- E agora, ele pode vem aqui em casa?
Billie tinha 26 anos. Deixou Sadie deslocada e banhada em lágrimas, ela se instala com Jimmy Monroe em um quarto na Rua 110. Billie pode ter-se cobrado de sua mãe, mas se destaca bem depressa. A bela londrina não saiu da vida de marido. Quando ela trabalha, não faz a menor ideia de onde o marido esta passando a noite. Numa delas, Jimmy chega em casa com marcas de batom no colarinho da camisa. Pego em flagrante, ele a afoga em uma torneira de desculpas.
- Vou lhe pedir uma coisa. Não me venha com mentiras – exclama ela – Vá tomar um banho e me faça o favor de não me explicar mais nada.
Essa cena lamentável lhe dá uma idéia para um tema. Ela iria escrever com auxilio de Arthur Herzog a letra do clássico Don´t Explain , uma de sua mais belas canção.

Don´t Explain


Boa Leitura - Namastê.

Um comentário:

MJ FALCÃO disse...

Que bom ter voltado às histórias de Billie!
Hoje a propósito de Brack Obama falei de Strange Fruit...
Abraço e fique na paz!