segunda-feira, 17 de maio de 2010

As Raízes do Jazz - Uma Arte Indomável Parte II

Jazz Uma Arte Indomável

Os spirituals que surgiram no final do século XVIII, são ritmos primitivos criados pelos escravos e consistiam basicamente em cantorias acompanhadas de palmas. Essas músicas, juntamente com as canções gospel influenciaram o surgimento do blues. Só para dar dois exemplos o blues How long, how long (autoria de Leroy Carr, 1928) veio de um spiritual e o blues St. James’ infirmary (autor desconhecido) lembra Keep your hand on the plough (da cantora gospel Marion Williams). A segregação dos negros nos templos protestantes tornou-se evidente na segunda década do século XIX, o que levou ao surgimento da Igreja Episcopal Metodista Africana de Sion em 1816. As seitas metodistas negras tornam-se um movimento de massa no período da Guerra Civil (1861-1865), o que intensificou o caráter negro da música spiritual. A segregação dos batistas negros (entre 1865 e 1885) e as seitas shouting (segregadas), do início do século XX, como a Pentecostal. Holiness Church, a Churches of God in Christ e outras do mesmo gênero, levaram a inestimáveis contribuições religioso-musicais para o jazz. Mas o ritmo saiu das igrejas rumo à vida laica: o blues cantado, coração do jazz, surgiu em sua forma primitiva pouco antes da Guerra Civil, embora ainda na forma de doze compassos e sem o uso de harmonia européia. Era um canto apoiado por um ritmo de percussão constante; as estrofes eram de tamanho variável, determinado pela frase que o cantor tinha em mente; as pausas também variavam pois eram determinadas pelo tempo necessário para o cantor pensar em uma nova frase. O blues surgiu de fields-hollers, de work-songs (canção rítmica a cappella, cantada durante o trabalho) e de peças seculares de gospel. Com a abolição da escravatura (que ocorreu gradualmente nos Estados Unidos, ao longo do século XIX), o blues multiplicou-se graças ao surgimento dos menestréis-pedintes negros, geralmente cegos, que vagavam pelas estradas. Desse período, sobreviveram algumas gravações, realizadas no início do século XX. O blues marcou uma evolução não apenas musical, mas social: o aparecimento de uma forma particular de canção individual, comentando a vida cotidiana. O banjo, instrumento africano, era usado como acompanhamento. O blues ganhou forma instrumental nos pianos dos bares, casas de dança, tabernas e bordéis do sul, nos acampamentos de trabalhadores, nos alojamentos dos marinheiros. No final da década de 1870, o blues já existia como o conhecemos hoje. As primeiras mulheres a cantá-lo publicamente foram as prostitutas, como Mamie Desdoumes, em Nova Orleans. Elas tocavam piano nos salões de dança de Perdido Street, no início do século XX. Mas, afinal, por que o jazz surgiu no final do século XIX, em Nova Orleans? Para compreender esse fenômeno é preciso lembrar que nessa época, no mundo todo, houve um movimento revolucionário nas artes populares. Na Inglaterra, as casas de espetáculo separam-se de seus antecessores, os pubs, na década de 1840, chegando ao ápice em 1890. Foi também nesse período, na Grã-Bretanha, que surgiu outro fenômeno da cultura da classe trabalhadora: o futebol profissional. Na França, logo após a Comuna de Paris (1871), surgiu o chansonnier (cantigas) das classes operárias e, em 1884, apareceu o seu produto culturalmente mais ambicioso e boêmio, o cabaré de Montmartre. Na Espanha, uma evolução impressionantemente semelhante à norte-americana produziu o flamenco, que, como o blues, com o qual muito se parece, surgiu como canção folclórica, nos “cafés musicais” de Sevilha e Málaga. Todos esses acontecimentos possuem duas coisas em comum: surgiram nas grandes cidades e serviam de entretenimento para trabalhadores pobres. Ou seja, são produtos da urbanização. Eles adquiriram valor comercial, pois investir nessas atividades era lucrativo, e cultural, já que os pobres e imigrantes precisavam de algum tipo de distração. A classe operária pôde se divertir graças ao entretenimento profissional (teatro de variedades, circo, show de aleijões, eventos esportivos, canto e dança) e ao desenvolvimento das canções rurais ou urbanas amadoras. No caso do jazz e do blues, pode-se dizer que as apresentações das bandas desses estilos musicais multiplicam-se a partir do momento em que os catadores de algodão (yard and field negroes) tornaram-se mercado consumidor de proporções expressivas. Não se pode dizer simplesmente que o jazz nasceu em Nova Orleans, pois, de uma forma ou de outra, a mistura entre elementos musicais africanos e europeus estava se cristalizando em várias regiões dos Estados Unidos. Mas Nova Orleans merece o título de berço do jazz porque foi lá – e só lá – que a banda de jazz surgiu como um fenômeno de massa. Na década de 1910, a cidade tinha aproximadamente 90 mil habitantes negros e nada menos do que 30 bandas de jazz. Também é de Nova Orleans o legendário cornetista Buddy Bolden, que liderou a primeira banda de jazz, registrada historicamente em 1900. O jazz nasceu e logo iniciou sua extraordinária expansão em velocidade e abrangência. De 1900 a 1917, o jazz tornou-se a linguagem musical da população negra de toda a América do Norte. De 1917 a 1929, além de evoluir muito rapidamente, tornou- se dominante na cena musical urbana norte americana. E, finalmente, de 1929 a 1941, o jazz conquistou os públicos de elite da Europa e os músicos de vanguarda.
Por NEY VILELA

Boa Leitura - Namastê

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