Gardênia no cabelo Um manda-chuva do
showbiz da época, impressionado com uma jovem cantora queria que ela fosse contratada pelo
Lafayette Theatre, uma grande casa noturna de
Nova York animada pelas
big bands em dias de depressão e lei seca. Tentando convencer o dono do teatro, ele ouviu a pergunta sobre o estilo da moça. Não conseguiu responder e depois de algumas tentativas de definição, desistiu: “
Não sei o que é mas você tem de ouvi-la”. A cantora que já no começo de carreira escapava a rótulos e magnetizava os ouvintes era a única e maravilhosa
Billie Holiday. Depois de ser ouvida pelo figurão, ela foi contratada para um programa badalado da casa, um dos muitos que fez.
Billie pavimentou uma carreira de estrela com canções inesquecíveis e registros inigualáveis de
standards. Para muitos a maior cantora de jazz de todos os tempos. Mas, passados 50 anos depois sua morte e certamente uma das maiores influencias vocais entre as cantoras americanas, não é de se admirar se alguém repetir a mesma sentença. “
Não sei o que é, mas você tem de ouvi-la”. É preciso ouvir
clássicos como
Strange Fruit,
Body and Soul,
The Very Though of You,
Yesterdays,
My Old Flame e tantos, tantos outros na sua voz ligeiramente r
ouca, ao mesmo tempo
sensual e
emotiva,
suave e
marcante, além de um fraseado único, que nem as outras cantoras da orquestra conseguiam imitar. E os músicos continuavam pedindo para
Billie ensinar-lhes...
Lady Day, como seria apelidada, era realmente inclassificável. Com
Ella Fitzgerald e
Sarah Vaughan, formou a tríade das grandes cantoras de
jazz.
Ella e
Sarah tinham extensão e recursos vocais formidáveis, além de terem redimensionado o
swing, o
bebop e o
cool jazz.
Billie que aprendeu a cantar de ouvido, principalmente na
infância pobre em
Baltimore, tinha o dom de revestir as músicas que interpretava com uma atmosfera
bluesy – embora não fosse uma cantora de
blues –, essencialmente triste e comovente. Por isso apreciava tanto o trompetista
Lester Young, que conhecera em
jam sessions com o instrumento “
todo remendado com fitas adesivas e elásticos”.
Lester era tão surpreendente quanto
Billie, seus solos tão melancólicos que quando estavam juntos, pareciam dois instrumentos correspondentes:
voz e
sax . Foi
Lester, inclusive, quem lhe deu o famoso apelido. O “
duo” é um dos exemplos das boas parcerias que a cantora fez. Afinal não é qualquer um que tem no currículo gravações e apresentações com as orquestras de mestres como
Count Basie,
Benny Goodman (com quem fez sua primeira gravação, em 1933) e
Artie Shaw. Foi longe a menina pobre que nasceu
Eleanora Fagan, na
Filadélfia. Era filha de um guitarrista e banjista, que se separou da mãe quando
Billie ainda era bebê. Ela e a mãe sobreviveram de subemprego em
Baltimore, ate decidirem mudar para
Nova York, e se instalaram no
Harlem. Foi lá que se envolveu com prostituição, segundo ela. Um dia, pra evitar o despejo saiu de casa e acabou fazendo um teste para dançarina de casa noturna. Um desastre. Mas o pianista com pena certamente do seu desespero perguntou se ela sabia cantar. A garota cantava por prazer mas não sabia que sabia. Saiu de lá com dinheiro para pagar o aluguel – e seu primeiro “
contrato”. Daí, trilhou uma carreira de
shows em clubes e fez suas primeiras gravações. Participou do filme
New Orleans (em
1947), interpretando uma doméstica – e odiou! Em 1956, publicou a autobiografia
Lady Sings the Blues. A ideia foi do marido, o mafioso
Louis McKay. O objetivo era que a história chegasse aos cinemas, numa época de algumas cinebiografias de sucesso. Assim, o mercenário e violento
McKay – mas que, justiça seja feita, tentou livrar
Billie do vício da heroína – descolaria alguma grana. Mas o filme caso de uma Estrela só saiu em 1972. O papel principal foi para
Diana Ross. Fome e amor – Nem
Billie mesma sabia de onde vinha seu estilo. Dos discos de
Bessie Smith e
Louis Armstrong que, ainda garota, pagava para ouvir num dos bordéis de
Baltimore, reduto do
jazz, onde limpava escadarias das casas. “
O que posso dizer? Cantar, no meu caso, nada tem a ver com elaborar, arranjar, ensaiar. É só me dar uma canção que posso sentir. Existem algumas canções que sinto tão intensamente que não aguento cantá-las, mas isso é uma outra história. Interpretar canções como The Man I Love ou Porgy não é mais do que sentar no chinês e comer pato assado (prato que ela adorava). Eu vivi canções como estas. Quando as canto, vivo-as de novo”, disse. Não à toa, várias músicas do seu repertório poderiam muito bem fazer parte da trilha sonora de sua vida.
Don’t Explain foi feita depois que ela achou marcas de batom na camisa do primeiro marido,
Jimmy Monroe. “
Já me disseram que ninguém canta a palavra ‘fome’ como eu. Ou a palavra ‘amor’”, declarou
Billie, cuja influência se espalhou pela música americana. Sua música vem carregada de
experiências de uma vida trágica, que inclui
violência sexual aos dez anos,
amores conturbados, internações hospitalares e passagens pela
cadeia. Morreu jovem, aos
44 anos, no dia
17 de julho de 1959, envelhecida pelo excesso de drogas e álcool, com saúde precária, voz prejudicada, pobre. Tinha menos de um dólar no banco. As enfermeiras acharam outros
750 dólares presos a sua vagina com fita durex que ela antes do último sacramento mandou entregar ao jornalista
William Dufty, seu
ghost writer (Escritor-fantasma, pessoa que tendo escrito uma obra ou texto, não recebe os créditos de autoria). O funeral, com
2,5 mil pessoas, foi pago por um fã rico, bem como um lugar para a sepultura. Talvez, descontente com a própria decadência, se pudesse escolher a música para cantar aquele momento, seria
Please, Don’t Talk About Me When I’m Gone, uma canção de despedida amorosa que pode ser traduzida como “
por favor, não fale de mim quando eu tiver partido”. Mas isso é impossível. ___________
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01. A Fine Romance
02. I Can't Pretend
03. One, Two, Button Your Shoe
04. Let's Call A Heart To Heart
05. Easy To Love
06. With Thee I Swing
07. The Way You Look Tonight
08. Who Loves You?
09. Pennies From Heaven
10. That's Life I Guess
11. I Can't Give You Anything But Lo...
12. One Never Knows, Does One?
13. I've Got My Love To Keep Me Warm
14. If My Heart Could Only Talk
15. Please Keep Me In Your Dreams
16. He Ain't Got Rhythm
17. This Year's Kisses
18. Why Was I Born?
19. I Must Have That Man
20. The Mood That I'm In
21. You Showed Me The Way
22. Sentimental And Melancholy
23. My Lost Affair
Boa audição - Namastê.