O flautista americano Herbie Mann foi realmente o primeiro músico estrangeiro a adotar a bossa nova como fonte musical. Em Nova York convenceu o dono da gravadora Atlantic, Nesuhi Ertegun, a vir com ele ao Brasil para ouvir a nova música que, segundo Herbie, iria “incendiar o mundo”. Ertegun já conhecia Vinícius de Moraes do tempo em que este servira no Consulado do Brasil em Los Angeles. Ao saber que o poeta era um dos participantes do movimento, e depois de ouvir Herbie Mann contar o que ouvira no Brasil, não teve dúvidas, desceu no Rio e logo na segunda noite Lula Freire promoveu, a pedido de Herbie Mann, de quem já era amigo, um jantar em sua casa com a presença da nata da Bossa Nova. Chico Feitosa, Durval Ferreira, Menescal, Vinícius, Luizinho Eça, Baden Powell, Tom e Sérgio Mendes tocaram para Nesuhi e Herbie, que sacou da flauta e entrou direto no ritmo e no som da Bossa Nova. Lá mesmo combinaram que antes de retornar para Nova York deveriam gravar um disco do flautista com os músicos brasileiros. O resultado foi a gravação do disco Do the Bossa Nova com o americano e os músicos brasileiros Baden Powell, Gabriel, Papão, Juquinha, Paulo Moura, Pedro Paulo, Sérgio Mendes, Durval Ferreira, Otávio Bailly, Dom Um Romão e Luiz Carlos Vinhas. No estúdio, Nesuhi Ertegun comandava a parte técnica e Tom Jobim coordenava e dava sugestões sobre os arranjos. Não demorou muito e começou uma migração de músicos americanos para o Brasil em busca das composições de Bossa Nova. Paul Winter, Bud Shank e Cannonball Adderley colocaram o Rio em seu roteiro. Nos Estados Unidos o novo som do Brasil era o novo filão para as gravadoras e editores de música. Tudo era Bossa Nova. Até o que não era. O violonista brasileiro Laurindo de Almeida, que residia há anos na América e que não tinha rigorosamente nada a ver com a Bossa Nova, gravou um disco chamado Laurindo Almeida and the Bossa Nova all Stars. Os músicos eram excelentes jazzistas como Howard Roberts, Al Viola, Shelly Mane, Milt Holland, Chico Guerrero, Jimmy Rowles, Max Bennett, Bob Cooper, Don Fagerquist e Justin Gordon, mas quanto à Bossa Nova eram mais inocentes do que o próprio Laurindo de Almeida. O músico David Pike, mais esperto, gravou com os músicos Clark Terry e Kenny Burrell um disco com as músicas do pianista e grande compositor João Donato, que também morava na América. Donato voltou para o Brasil e foi imediatamente agregado ao movimento, até porque havia sido um dos primeiros a mudar o toque e as harmonias da música brasileira ainda no começo dos anos 50. A música de Tom Jobim rapidamente estourava na América: Charlie Byrd e Dizzy Gillespie gravaram composições suas e Stan Getz fez a famosa gravação de Desafinado, da qual vendeu mais de um milhão de exemplares. Mas Tom Jobim só foi conhecer os Estados Unidos quando embarcou junto com outros brasileiros para o famoso concerto no Carnegie Hall, onde a Bossa Nova foi oficialmente apresentada ao mundo. Em setembro de 1962, a Bossa Nova conquistou definitivamente seu lugar no mundo da música, no histórico espetáculo apresentado no tradicional Carnegie Hall de Nova York. Tudo começou quando Sidney Frey, presidente da gravadora americana Audio Fidelity, resolveu convidar Tom Jobim e João Gilberto para um show em Nova York Frey, que já havia estado no Brasil algumas vezes, passou um telegrama para a Divisão de Difusão Cultural do Itamaraty — cujo chefe era o conselheiro Mário Dias Costa — demonstrando seu interesse e pedindo o apoio do governo brasileiro. Na época a política cultural do Itamaraty estava mais ligada à promoção de músicos, como Nelson Freire e Jacques Klein, e acontecimentos como a Bienal de Veneza. Apesar disso, Mário Dias da Costa, amante da música brasileira e cultura nacional achou que deveria conhecer a bossa nova mais de perto. Arnaldo Carrilho, então terceiro-secretário da Divisão de Difusão Cultural, encarregou-se de fazer o contato entre ele e Chico Feitosa, que por sua vez levou o diplomata a uma reunião na casa de Nara Leão. Dias Costa, encantado com o que viu e ouviu naquela noite, resolveu que o grupo deveria participar do espetáculo em Nova York, com eventual ajuda do governo brasileiro através do Ministério das Relações Exteriores. Com a autorização de seu chefe, o ministro das Relações Exteriores, Hermes Lima, e de seu superior imediato, ministro Lauro Escorel, Mário Dias Costa resolveu usar a verba disponível para eventos de difusão cultural e financiar as passagens do grupo para Nova York. A hospedagem ficaria por conta do Consulado do Brasil em Nova York, o que foi providenciado pela consulesa-geral do Brasil Dora Vasconcellos, uma das mais encantadoras e eficientes personalidades da diplomacia brasileira. Chico Feitosa encarregou-se de elaborar a lista dos músicos que iriam participar. A lista inicial, com dezessete nomes, incluía Ronaldo Bôscoli como apresentador do espetáculo No entanto, Tom Jobim sugeriu que, no lugar de Bôscoli, embarcasse Aloysio de Oliveira, que já tinha morado nos Estados Unidos e tinha bons contatos e ótimas relações por lá. Bôscoli acabou ficando no Rio. (...) Continua na próxima postagem. Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996.
Boa leitura - Namastê