Quase ninguém falou, mas há quarenta e quatro anos, numa quarta-feira, a Bossa Nova era apresentada ao mundo. Era 21 de novembro de 1962, 20:30hs, Carnegie Hall - Nova York, quando uns meninos subiam ao palco para mostrar um tal balançado da New Brazilian Jazz como os americanos gostavam de dizer. Quem eram estes meninos? Ninguém menos do que Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlinhos Lyra, Chico Feitosa, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Normando Santos, Dom Um Romão, Luiz Bonfá, Agostinho dos Santos, João Gilberto e Antonio Carlos Jobim que à época já era famoso nos Estados Unidos como o compositor de “Desafinado”; enfim, o fino da bossa tinha a missão de provar que o Brasil era capaz de produzir música sem pandeiro. É claro, reunir tantas estrelas principiantes geraria muita polêmica. O concerto só foi possível diante de uma parceria entre a gravadora americana Audio-Fidelity e o Itamaraty. Mas foi justamente na escolha do elenco que começou a confusão. Muita gente boa ficou de fora, como João Donato (e sua “Rã”) e Johnny Alf; alguns que se achavam bambas no violão não foram porque eram péssimos; e até apareceu gente ressentida que bateu o pé alegando que Bossa Nova não se misturava com passistas e ritmistas. Por sua vez, a imprensa brasileira fez pouco caso e foi muito cruel nas suas piadas. O fato é que era esperado um verdadeiro desastre na apresentação dos brasileiros, coisa que preocupava principalmente Tom Jobim, João Gilberto e Luiz Bonfá, nomes que já corriam por bocas estrangeiras. Tanto é verdade que Tom Jobim só embarcou depois de ser enfiado à força dentro de um avião pelo amigo cronista Fernando Sabino: “Você vai vencer, Tom”. Muitos deslizes aconteceram de verdade, como Normando Santos cantando com o microfone desligado, Roberto Menescal escorregando na letra de “O barquinho” e o próprio Tom pedindo um minutinho para recomeçar “Corcovado”. Por uma razão apenas as suspeitas de Tom não se transformaram em sua tragédia pessoal: quando “Corcovado” entrou nos eixos, e ele cantou a letra toda, em português e inglês, a platéia só faltou se jogar aos seus pés. E é válido ressaltar que na distinta platéia estavam Tony Bennett, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Gerry Mulligan, Herbie Mann entre outros que também queriam escutar de perto o violão de João Gilberto. Por isso, este foi o escolhido para encerrar o concerto deixando Sérgio Mendes responsável pela abertura. Com certeza ficaram bastante impressionados com “Samba da minha terra”, “Desafinado” e “Outra vez”. Alguns só voltaram para casa muito tempo depois como foi o caso de João Gilberto, Tom Jobim, Sérgio Ricardo e Oscar Castro Neves, só para citar alguns. A partir desta noite, a vida da Bossa Nova mudou completamente. A música “Desafinado”, por exemplo, foi gravada onze vezes nos Estados Unidos no mesmo ano, sendo uma delas de um milhão de discos. Durante anos, o áudio do espetáculo (fita-pirata) permaneceu como moeda rara nas mãos de colecionadores. Hoje em dia já é possível ser encontrado em versões modernas de gravação, com o charme dos aplausos e todo o resto de um show ao vivo, mas a dificuldade de encontrar é a mesma. Qualquer esforço neste sentido vale pois estará lá parte da história da música brasileira, além de “Manhã de Carnaval”, “Zelão”, “Passarinho”, “Influência do Jazz” entre outras pérolas. Como dizia Vinicius de Moraes "a Bossa Nova voltou mais uma vez para ficar por toda a vida”. Que assim seja poeta. Fonte: Jornal O Noroeste - 08/02/2007
Musicos:
Sergio Mendes e Sexteto
Carmem Costa
Bola Sete
Jose Paulo
Sergio Ricardo
Quarteto de Oscar Castro Neves
Luiz Bonfa
Agostinho dos Santos
Joao Gilberto
Milton Banana
Carlos Lyra
Ana Lucia
Caetano Zamma
Normando
Chico Feitosa
Daixas:
01 - Samba de Uma Nota Só - Sergio Mendes e Sexteto
02 - Bossa Nova York - Carmen Costa, Bola Sete & José Paulo
03 - Zelão - Sergio Ricardo
04 - Não Faz Assim - Quarteto de Oscar Castro Neves
05 - Influência do Jazz - Quarteto de Oscar Castro Neves
06 - Manhã de Carnaval - Luis Bonfá
07 - Manhã de Carnaval II - Luis Bonfá, Agostinho dos Santos & Quarteto de Oscar Castro Neves
08 - A Felicidade - Luis Bonfá, Agostinho dos Santos & Quarteto de Oscar Castro Neves
09 - Outra Vez - João Gilberto & Milton Banana
10 - Influência do Jazz - Carlos Lyra & Quarteto de Oscar Castro Neves
11 - Ah Se Eu Pudesse - Ana Lucia & Quarteto de Oscar Castro Neves
12 - Bossa Nova Em Nova York - Caetano Zamma & Quarteto de Oscar Castro Neves
13 - Barquinho - Roberto Menescal & Quarteto de Oscar Castro Neves
14 - Amor no Samba - Normando & Quarteto de Oscar Castro Neves
15 - Passarinho - Chico Feitosa & Quarteto de Oscar Castro Neves
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Boa audição - Namastê.
* Dia 25 de janeiro 2009,
Primeiro Dia Nacional da Bossa Nova no Brasil e
Dia de nascimento do Antonio Carlos Jobim.