apenas o luar entrara, sorrateiramente,
e fora derramar-se no chão.
Solidão. Solidão. Solidão.
E então,
tua voz, minha irmã americana,
veio do ar, do nada nascida da própria escuridão...
Estranha, profunda, quente,
vazada em solidão.
E começava assim a canção:
“Into each heart some rain must fall...”
Começava assim
e era só melancolia
do princípio ao fim,
como se teus dias fossem sem sol
e a tua alma aí, sem alegria...
Tua voz irmã, no seu trágico sentimentalismo,
descendo e subindo,
chorando para logo, ainda trémula, começar rindo,
cantando no teu arrastado inglês crioulo
esses singulares “blues”, dum fatalismo
rácico que faz doer
tua voz, não sei porque estranha magia,
arrastou para longe a minha solidão...
No quarto às escuras, eu já não estava só!
Com a tua voz, irmã americana, veio
todo o meu povo escravizado sem dó
por esse mundo fora, vivendo no medo, no receio
de tudo e de todos...
O meu povo ajudando a erguer impérios
e a ser excluído na vitória...
A viver, segregado, uma vida inglória,
de proscrito, de criminoso...
O meu povo transportando para a música, para a poesia,
os seus complexos, a sua tristeza inata, a sua insatisfação...
Billie Holiday, minha irmã americana,
continua cantando sempre, no teu jeito magoado
os “blues” eternos do nosso povo desgraçado...
Continua cantando, cantando, sempre cantando,
até que a humanidade egoísta ouça em ti a nossa voz,
e se volte enfim para nós,
mas com olhos de fraternidade e compreensão!
Noémia de Sousa - poetisa Moçambicana
One for My Baby (and One More for the Road)
e fora derramar-se no chão.
Solidão. Solidão. Solidão.
E então,
tua voz, minha irmã americana,
veio do ar, do nada nascida da própria escuridão...
Estranha, profunda, quente,
vazada em solidão.
E começava assim a canção:
“Into each heart some rain must fall...”
Começava assim
e era só melancolia
do princípio ao fim,
como se teus dias fossem sem sol
e a tua alma aí, sem alegria...
Tua voz irmã, no seu trágico sentimentalismo,
descendo e subindo,
chorando para logo, ainda trémula, começar rindo,
cantando no teu arrastado inglês crioulo
esses singulares “blues”, dum fatalismo
rácico que faz doer
tua voz, não sei porque estranha magia,
arrastou para longe a minha solidão...
No quarto às escuras, eu já não estava só!
Com a tua voz, irmã americana, veio
todo o meu povo escravizado sem dó
por esse mundo fora, vivendo no medo, no receio
de tudo e de todos...
O meu povo ajudando a erguer impérios
e a ser excluído na vitória...
A viver, segregado, uma vida inglória,
de proscrito, de criminoso...
O meu povo transportando para a música, para a poesia,
os seus complexos, a sua tristeza inata, a sua insatisfação...
Billie Holiday, minha irmã americana,
continua cantando sempre, no teu jeito magoado
os “blues” eternos do nosso povo desgraçado...
Continua cantando, cantando, sempre cantando,
até que a humanidade egoísta ouça em ti a nossa voz,
e se volte enfim para nós,
mas com olhos de fraternidade e compreensão!
Noémia de Sousa - poetisa Moçambicana
One for My Baby (and One More for the Road)
3 comentários:
Que poema extraordinário!
Que página fantástica!
Maravilhoso o seu tributo a Billie Holiday!
Às vezes pergunto-me porque é preciso viver-se na miséria da vida para depois da morte fisica ser-se exaltado como um génio. Porque afinal Billie é dos que não vão morrer nunca!
Saudações nobre amiga e grato por comentar esta postagem. Sua pergunta é um tanto filosofica do que curiosa. Eu acredito por questão pessoal da celebre frase " o homem é o produto do meio" e Billie não fugiria da regra, Criada no meio de tanta desilusão e miséria, sua personalidade madura não lhe daria outra alternativa se não repassasse esta dor por meio de suas músicas.Fato contestado por muitos mas Billie é única e impar na interpretação de suas musicas e performasse de cantora.Sou um admirador desta pequena flor de lírio do jazz já alguns anos e tudo que sei por meio de biografias, recortes e outras fontes são amargas desilusões e mal afetos da vida que Lade Day colheu ao londo de sua existência como pessoal assim que veio a mundo dos mortais. Mais ainda, acredito que Billie transformou a dor,melancolia e momentos de angustia em pérolas agradáveis aos nossos ouvidos assim como é feito no Blues. A similaridade a que vejo esta diva em relação a outras que surgiram até em sua época, era eternamente imprescindível uma substituta a sua altura. Convio-a continuar visitando o Borboletas de Jade e tera grandes surpresas e curiosidades em relação a Billie Hollidaym pois pretendo homenageia-la até a data de seu falecimento, quando completara 57 anos de sua mortes no dia 17 de Julho. Uma vez mais meus sinceros agradecimentos e fico feliz de ter mais uma amiga do outro lado do Atlântico bem como a nobre amiga do blog O Falcão de Jade.
Mr. Butterfly
Namastê.
Primeiramente, gostaria de parabenizar pela ideia do site em tributo à divina dama, Billie Holiday! Ter chegado ao site não foi por simples coincidência, pois estou colhendo todas as informações possíveis sobre a brilhante artista. Chamo-me Tânia Maria, sou atriz e cantora, e me encontro em processo de montagem do monólogo musical, "Billie Holiday, a Canção", texto escrito pelo dramaturgo, poeta e escritor sergipano Hunald Alencar, especialmente para minha interpretação. Durante este processo, que teve seu início em janeiro, muitas coisas inusitadas aconteceram. Uma delas foi a chegada de uma borboleta preta no espaço dos ensaios que, particularmente, é a minha casa, a qual transformei nunca caixa cênica especialmente para a montagem do espetáculo. Percebi a sua chegada no primeiro dia da montagem. Um amigo que estava presente a colocou para fora, mas, por incrível que possa parecer, ela retornou no dia seguinte, e não saiu mais até morrer dias após, bem no centro do espaço cênico. Antes de encontrá-la morta, porém, ela fez um pouso rasante em minha direção me arrepiando da cabeça aos pés, o que me fez ir pesquisar sobre esse tipo de borboleta: a borboleta preta. Na pesquisa, descobri que quando elas aparecem, segundo algumas místicas teorias, “é um indicativo de morte”. E, que, “em alguns cidades da Europa a borboleta preta representa o espírito de uma criança que morreu sem ser batizada. É a encarnação das bruxas”. A estranha experiência, então, me intrigou muito e me deixou bastante curiosa. Foi em meio à pesquisa por mais material para o meu laboratório que encontrei "Borboletas de Jade". E que grata surpresa! Gostaria de saber se o título dado ao site tem a ver com o fato de existir uma relação intrínseca entre Billie Holiday e as borboletas, ou se foi uma escolha puramente particular. (?) Nesse sentido, peço, por favor, um retorno em resposta a minha pergunta. Desde já, agradeço a sua prestimosa atenção. Só informando: a estreia do trabalho será no próximo mês de agosto, ainda sem uma data definida, com o lançamento do projeto a ser realizado no dia 07 de abril, dia em que se comemora o centenário da nossa Dama Negra Jazz. Aproveito o ensejo para fazer um convite para assistir a maior produção de um espetáculo já feito em Sergipe. Até lá! Grande abraço! Tânia Maria
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