terça-feira, 2 de março de 2010

O Jazz e a Filosofia- Parte Dois

Motivado pelo desejo de reconhecimento, centenas de jovens músicos tentam a sorte em Nova York dos anos20, mais conhecida pelos jezzmen como Big Apple a capital das tentações. Essa boa mãe logo tratou de acolher estas novas tendências musicais de origem afro-americanas. O negro mais uma vez partia para o exílio, encontrando nesta cidade morada certa: o Harlem. Desde 1643 quando os primeiros colonos holandeses doaram este terreno aos negros emancipados, o bairro tornou-se um reduto da cultura negra americana. Por todos os cantos do Harlem onde havia um dancing, havia um jovem negro tentando encontrar seu estilo. Mas nem tudo o jazz comercial do Harlem tinha apelo de consumo. No centro da cidade, nos famosos night clubs da Broadway, como o Cotton, o Saratoga e o Savoy, os músicos não tinham muita liberdade para suas experimentações. Ao mesmo tempo em que acolhe todos os filhos, a cidade, por vezes, estranha tamanha inovação. Para o filosofo Jacques Derrida: “A língua dita materna nunca é puramente natural, nem própria e nem habitual”. Alguns jazzmen adaptaram seus improvisos aos ouvidos da turma endinheirada da Broadway, mas no Harlem era diferente. Ali a coisa de fato acontecia. Por isso foi apelidado de guetto (uma referência aos lugares onde os judeus eram confinados em Veneza). Em Nova Iorque o negro ainda continua sendo um estrangeiro. Próximos e distantes do centro, os jazzmans e as jazzwoman nunca seriam plenamente compreendidos pela cidade. Tanto melhor para uma gente, que aprendeu a viver fora dos muros da mesmice. O que tem a filosofia com isso?. Sobre o que discutem os amigos de Miles Davis, Charles Parker, Sartre e Sinome de Beauvoir nos cafés de Paris?. Sabe-se lá. Mas podemos cogitar assuntos comuns, tema interessante abortados na importância do ensaio no jazz, na filosofia e na vida. Foi um Francês do sec. XVI e admirador da vida dos índios americanos – Michel de Montaigne – quem decidiu pela primeira vez escrever um livro na forma de ensaio. Montaigne estava passando Poe um grande aperto quando resolveu escrever “Les Essais”. Tinha perdido seu melhor amigo e já não sabia que sentido dar para sua existência. Foi ai que começou sua investigação sobre si mesmo. Não lhe ocorreu melhor palavra para seu livro, senão ensaios?. E o que mais a filosofia do ensinar?. Que uma pessoa pode fazer em sua vida a não ser ensaiar, tentar, errar, corrigir, interpretar, nascer e morrer?. E isso tem fim?. Quero dizer: encontrar-se uma boa resposta para as grandes indagações sobre a existência. No ultimo capitulo de “Les Essais” Montaigne nada nele sugere uma conclusão. Ao contrario, aquele bem poderia estar no inicio do livro. Como nos textos do jazzista Julio Cortazar , Les Essais sugerem um eterno retorno. Não é necessário complicar muito para entender essa idéia. Um ensaio é como o jogo de amarelinha das crianças: quando se chega ao fim, volta-se para o inicio. Deu certo?. Montaigne encontrou um sentido para sua existência. Ficou mais tranqüilo e superou a perda do amigo. Caímos na mesma lógica: perguntas parecem pedir definições e se possível, definições precisas. É justamente isso que o grande Michel de Montaigne nos oferece: definições. Certa feita um amigo de Sócrates também lhe pediu definições ao que o filosofo respondeu: “Você não percebe. Mênon, que não quero ser didático contigo, que não quero te instruir em coisa alguma? Eu quero mesmo é fazer-te umas perguntas “. Uma filosofia que faz perguntas, mas não oferece definições precisas. Para que serve? Para a pessoa aprender que a vida é ensaio (meléte) para ela aprender a cuidar de si mesmo (epimeleia heautou), a curar a si mesma, respondeu Sócrates. Desde quando ensaiar é cuidar? Desde quando ensaiar é curar? Para responder estas questões precisamos voltar à música, não ao jazz em si, mas especificamente à arte das musas (moukiké). Bem antes da filosofia de Sócrates, antes mesmo de Hesiodo dar sua explicação para a origem dos deuses na sua Teogonia, os gregos acreditavam que a inspiração (enthousiasmos) das musas era fundamental aos cantores. Filhas da memória (mnemsyne) das musas: lembranças (mneme), ensaio (meléte) e canto (aoide), ajudariam o cantor em sua apresentações, uma vez que só elas podem tira-lo da escuridão (melas) e do esquecimento (lethe). Imagine que no meio de um show dê um branco no cantor e ele esquece a letra ou a melodia da música. É preciso estar seguro de suas memórias.

Boa Leitura - Namastê.

Um comentário:

Jazz disse...

Sou um apreciador de Jazz e vasculhando a rede encontrei seu blog... Gostei do conteúdo. Existe algum livro especifico que trata de jazz e filosofia? Grato

Theo

philosophia13@hotmail.com