quarta-feira, 24 de junho de 2009

Interlúdio: Making of Kind of Blue 50th Anniversary Collectors Edition

Freddie Freeloader
(Primeira parte)

"Era a primeira vez que Miles gravava um albúm práticamente de composições suas. Na véspera da sessão, pela manhã fui ao apartamento dele e rabisque "Blue in Green" que era um tema meu e rascunhei a melodia e a harmonia para passar para o pessoal. "Flamenco Sketches" fizemos juntos - eu e Miles". BillEvans.

02 de Março de 1959 às 14:30

Vamos lá: CO 62290, sem titulo, take 1 "Rodando"

Na cabine técnica, Bob Waller colocou um rolo Scotch 190 em cada um dos dois gravadores Ampex, um como fita matriz e o outro como segurança. A fita Scotch era um produto relativamente novo feito com acetato forte e confiável e uma espessura de apenas um milímitro. O resultado eram 45 minutos ininterruptos de gravação com a fita passando pelos cabeçotes a uma velocidade de quase 40 centímentro por segundos. Para a primeira sessão uma fita foi mas que suficiente. Como consequência a escolhas aparentimente trivial da fita acabou por conferir às
gravações uma durabilidade bem maior. Como o isolamento completa dos canais era impossível, o som de cada instrumento - especialmente durante os solos - pode ser ouvido em todos os três canais. Como resultado os metais e o piano ficam ricamente definidos em três campos auriculares, acrescentando ao som profundidade e completude significativas. Durante os solos de trompete, por exemplo, pode-se perceber Miles nos canais esquerdo e direito, bem como ao centro, acrescido de eco. Diminuindo-se gradualmente o som do canal central da matrizé possivel
percebert a dimensão acústica impar proporcinada pelo interior abaulado do 30th Street (estudio).

FREDDIE FREELOADER

"Freddie Freeloader" é uma forma blues de 12 compassos que ganha personalidade nova por meio de uma concreta personalidade melódica e títmica. (Do texto da conta-capa por BillEvans). Jogadores de baisebol sempre fizem alongamento antes de uma partida. Para músicos de jazz a lavada do blues sempe foi o exercício preferido para aquecer mãos e ouvidos. Por essa razão e possivelmente para atenuar o ânimo exaltado de Wynton Kelly e encurtar seu tempo de espera, a primeira música que Miles anunciou foi um número contagiante de blues, único tema em que seu mais novo acompanhate iria tocar. Embora gravada primeiro, "Freeloader" acabaria como segunda faixa de "Kind of Blue". De todas as faixas que iria dotar o álbum de um ar agridoce, "Freddie Freeloader" era a menos melancólica. A essa altura nenhuma das músicas tinha titulo; somente mais tarde Davis seria chamado a nomear suas novas criações. Como complemento ao numero de registro do trabalho, três índices consecutivos "CO" (de Columbia) foram atribuidos à música daquela sessão. Townsend convocou o ínicio da sessão e identificou a faixa. Os microfones captaram os músicos em meio a uma discussão sobre a estrutura da comopsição:

Irving Townsend: Esta rodando...Vamos lá: CO 62290, sem titulo, take 1
Musico não-identificado:...Si bemol no final?
MD: Então, Wynton, depois de Cannonballl você sola de novoe a gente entra e encerra.

O take 1 tem inicio com um ritmo vivo, nitidamente um blues com a abertura de quatro compassos repetida. Descontente com o pulso, Davis assobia no oitavo compasso para cortar o take. Townsend nota imediatamente que Davis se distanciou do microfone e adverte o tompetista de que ele está gravando em um local que segue normas do sincato:

MD: Estava rápido demais
IT: Miles, onde você vai fiacr agora?
MD: Bem aqui
IT:Ok, porque se você for para trás nós não conseguimos captar. Estava bom onde você ficou antes...
MD: Quando eu tocar, vou erguer o trompete um pouco. Posso abaixar isso um pouco? [mexe no microfone]
IT: É contra as normas mexer num microfone...(risos). Vamos lá. Pronto? Número 2....

O take 2 começa num tempo ligeiramente mas lento. No sexto compasso Kelly esbarra uma nota de leve mas de formaperceptível, que até poderia soar como tipica appoggiatura de blues. Embora o take prossiga, na virada ao final do segundo ciclo de 12 compassos, Davis ataca uma nota fora do tom - um "clam" no jargão do jazz - e o take é interrompido. O estilo improvisado de Miles em estúdio já era bem conhecido em 1959. "Gravei com Miles em estudio e sei como ele funciona" declara J.J.Johson, cuja a primeira sessão com Davis remota a 1949. "Quase sempre ele entra em estudio e um take basta!...Essa é a filosofia dele sobra sessão de gravação". Seu esquema de repetição nas sessões de "Kind of Blue" pode parecer ir de encontro à reputação do álbum e do próprio Miles, do primeiro take, do único take. Mas como Evans explica posteriormente: "A primeira execução intera de cada música é o que se ouve. "Kind of Blue" é notável sob esse ponto de vista, nenhum take intero foi deixado de fora. Acho que é isso o que atribui boa parte de seu frescor autêntico. As impressões do primeiro take quando estão no caminho certo, são geralmente as melhores. Se você não aproveita isso, geralmente sofre uma baixa emocional e ai terá de passar por árduo processo profissional para tentar se reerguer". A folisofia de um take d eMiles mudaria diante dsa necessidade de registrar corretamente a cabeça de um arranjo de abertura. Quando Herbie Hancock se juntou a Miles em 1963 para gravar o álbum SevemSteps to Heaven no 30th Street, Miles usou o mesmo método de "Kind of Blue" descrito por Evans. Hancock relembra: Tudo era feito no primeiro take inteiro. Nos cinco anos em eio que esteve com ele foi assim que Miles trabalhou". A fita volta a rodar e captar uma breve passada do tema de "Freddie Freeloader" com sopros e piano para ajustar a frase final, antes que o grupo prossiga para o take3 sem nenhum cometário. Os metais tocam a abertura com suavidaDe. Kelly faz suas respostas e parte para um solo ligeiramente mais fraco se comparado ao seu feito no take final. Antes que o segundo "chorus" Kelly termine, Davis percebe um erro e interrompe o take com um assobio:

MD: Wynton, sem acordes entrando no lá bemol...

Miles tem sido louvado como um bandleader eficaz que faz uso mínimo de palavras. Como Cannonbal recordou em 1972, quando ele falava, era tipicamente para reagir a algo que parecia fora de lugar. "Ele nunca dizia a ninguém o que tocar mas falava 'Cara, você não precisa fazer isso'. Milers realmente dizia NÃO tocar. Eu ouvia e sacava". Quando o gravador é ligado, um vestígio de outro take ou de um ensaio surge de relance. Então precedido por uma leve marcação do tempo com o pé ouve-se o take final (o primeiro por inteiro) de "Freddie Freeloader". O tema
partilha do mesmo inegável atributo de relaxamento do rstante de "Kind of Blue". Mas, se o restante do álbum foi concevido em tomo da sutíl melancolia do piano de Bill Evans, "Freddie Freeloader" se destaca como uma vitrine para o desempenho exuberante e o lema firma de Kelly. Na descrição do trombonista J.J.Johnson, o pianista "sempre projeta uma sensação positiva. Não inporta o andamento". Kelly conclui seu solo com capricho e Davis entra com uma frase de três notas ecoando-o "riff de resposta" da cabeça do tema. Enquanto Miles tece seu solo sem a menor pressa sobre uma harmonia de blues, Kelly mantém a conzinha num acompanhamento inspirado, delineando a progressão do blues e dando embalo ao ritmo. Para Kelly que era masi músico de apoio que lider, o acompanhamento tiha sido o seu primeiro amor. " Parafalara verdade, teve uma época que eu nem gostava de sola' , disse ele à Down Beat. "Eu gostava de manter o grover, solar, nunca". Miles relembrou: "Cara,ele sabia acompanhar um solista bem pra caralho. Cannonball e Trane adoravam o sujeito, eu também". É realmente difi´cil imaginal o tema de "Freddie Freeloader" Sem as notas de blues tocada de maneira relaxada por Kelly, costurando o fim de cada frase. Nesse caso é o a filigrama que determina o desenho geral da melodia. "Acho que o solo de blues de Miles nesse faixa é um dos meus favoritos" declarou Evans anos mais tarde. "Em dois momentos, uma única nota contém tanto significado que mal dá pra acreditar". A improvisação de Miles - mais transbordante que pensativa como em todo álbum - atinge um momento espantoso na terça parte do desenvolvimento. Ele pára e desce a um registro mais grave no trompete, soando como um instrumento de palheta (por um segundo, pode-se pensar que é Coltrane tocando). Simultaneamente, Kelly toca o mesmo riff de três notas que abre e fecha o solo de Daivs. O solo de Coltrane começa com um ponto de exclamação.Por mais preciso que fosseo equilibrio que Plaut conseguiu na disposição da banda em estúdio, ele não estava preparado para a força surpreendente do tenor de Coltrane. "Fred literalmente teve de baixar o volume na mão nesse ponto', comentou Laico ao ouvir a master. Coltrane bem pode ter aturado o microfone na hora do solo, mas mesmo a uma certa distância.
Fonte: Kind of Blue - A Historia da obra-prima de Miles Davis (Ashley Kahn) pp. 105/109.

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