domingo, 27 de setembro de 2009

1959 - Time Out - The Dave Brubeck Quartet

"No seu estilo pedante, a crítica de jazz cita 1959 como um annus mirabilis, um ano premiado. Nele foram gravados os álbuns Kind of Blue e Sketches of Spain, de Miles Da­­vis; Mingus Ah Um de Charles Mingus; e Time Out de Dave Brubeck. Todos numa antiga igreja armênia da Rua 30, em Nova York, convertida em estúdio pela Columbia. Uma faixa do álbum de Bru­beck, Take Five, logo fascinou a todos por sua ginga hipnótica e pelo uso arrojado do tempo 5/4. Lançada em single, se tornaria, em 1961 o primeiro disco de jazz a atingir a marca de um milhão de cópias vendidas. Embora Brubeck fosse o cérebro do quarteto e sua autêntica máquina-de-compor, o sucesso veio de onde menos se esperava: de Paul Desmond, o saxofonista improvisador, basicamente um intérprete de material alheio. O autor da façanha era branco e franzino, com óculos de intelectual, e parecia tudo menos um músico de jazz. Pior ainda, teve a infelicidade de tocar sax alto quando o rei do instrumento era Charlie Parker, que todo mundo tentava igualar e não conseguia. O nome também não era nada jazzístico: Paul Emil Breitenfeld, filho de judeu e irlandesa. Mas herdou o DNA musical do pai, organista que tocava em teatro de variedades e cinemas, na época dos filmes mudos. Paul escolheu o sobrenome artístico de Desmond folheando ao acaso uma lista telefônica. Conheceu o pianista Dave Brubeck numa banda militar em 1944 na Europa. Depois da guerra, formaram um pequeno grupo. Com seu humor típico, Desmond lembra: “Eu ainda guinchava a palheta do sax a maior parte do tempo nos agudos e Dave parecia tocar Bartók com a mão direita e Milhaud com a esquerda. Juntos podíamos esvaziar qualquer clube noturno em poucos minutos sem que ninguém tivesse gritado ‘incêndio!’”. Paul Desmond fi­­cou 17 anos no quarteto de Dave Brubeck e escreveu um livro sobre a experiência, How Many of You Are There in the Quartet?, referindo-se à pergunta que invariavelmente as aeromoças faziam: “E quantos são vocês no quarteto?” Certa vez, um crítico de jazz chato (99% o são) perguntou a Paul onde se encaixava entre a abordagem vertical, ou harmônica e a abordagem horizontal ou melódica. Ele respondeu: “Pode me colocar na abordagem diagonal”. Seu humor sutil traía a vocação de escritor, era o que desejava ser. Tempos depois, frequentando o Elaine’s — QG da Intell­igentsia nova-iorquina — descobriu que todos os grandes escritores sonhavam ser músicos de jazz, entre eles Woody Allen, que tocava uma razoável clarineta Dixieland. Com a ironia costumeira, Desmond dizia que a inspiração de Take Five veio de um caça-níquel num cassino de Reno: “O ritmo da máquina me sugeriu o tema e, além do mais, eu precisava dar um jeito de recuperar o dinheiro perdido naquele caça-níquel”. Às vezes, Paul oferecia outra explicação para Take Five. Fumante compulsivo, dizia que concebeu o tema para que durante o longo solo de bateria de Joe Morello, tivesse tempo de dar umas tragadas. Steve Race nas notas de capa do LP original, disseca Take Five: “Cônscio de quão facilmente o ouvinte pode perder o pé num ritmo quíntuplo, Dave toca uma vamp (figura rítmica e harmônica constante) ao longo dos 5m26s, mantendo-a até mesmo durante o solo de bateria de Joe Morello. É interessante notar como Morello se livra gradualmente da rigidez da pulsação 5/4, criando contrafiguras intricadas e frequentemente inesperadas sobre a figura repetitiva do piano. E, contrário a qualquer expectativa normal — talvez até mesmo do pró­­­­­­­­­prio compositor — Take Five realmente suinga”.

Três leis:

1º - O álbum Time Out quase não foi lançado. Chegou às lojas contra a vontade de todos os executivos da Columbia, menos um: o man­­­­da-chuva Goddard Lie­berson, presidente da companhia. Dave Brubeck relembra: “Quebrei três leis da Columbia. Todas as sete faixas eram composições originais, quando a gravadora gostava de entremear com standards. Queria também músicas que fizessem as pessoas dançar e eu lhes dei todos aqueles compassos esquisitos. Botaram um pintura na capa do LP, coisa que nunca se fazia com um disco de jazz. Obviamente, a companhia não queria lançar o álbum”. Sur­­­­­preendentemente os fãs es­­­tavam mais preparados para os compassos extravagantes de Brubeck do que os executivos da indústria fonográfica e não só compraram o álbum, como dançaram ao som dele. Como intérprete Paul Desmond foi um saxofonista cool por excelência. Avesso aos ruídos fisiológicos subjacentes ao instrumento (arquejos, guinchos e sussurros de palhetas, percussão de teclas), sempre tocou longe do microfone, emitindo um som limpo e cristalino e direto da campanha do seu alto. Definia seu som inconfundível com um gracejo: “Eu sempre quis soar como um martini seco”.

2º - Take Five foi tocada muitas vezes pelo quarteto e dezenas de artistas a gravaram, da cantora sueca Monica Zetterlund em 1962 à versão póstuma de King Tubby em 2002. Em 1961, Car­men McRae gravou uma versão com letra composta por Dave e sua mulher, Iola.

3º - Des­­mond morreu aos 52 anos, em 1977, de câncer do pulmão, sem descendentes. Os royalties de suas composições e interpretações foram destinados, se­­­gundo sua vontade para a Cruz Vermelha norte-americana que recebe cerca de cem mil dólares por ano. Take Five representa grande parte desta receita, e continua fazendo a rapaziada dançar ao compasso de 5/4." Fonte: Roberto Muggiati para o aderno - Especial para a Gazeta do Povo, 16/09/2009.


*Todas as faixas foram compostas por Dave Brubeck, com exceção de Take Five de Paul Desmond. O álbum foi gravado ao longo de três sessões sendo a primeira em 25 de junho, a segunda em 01 º de julho e a terceira em 18 de agosto de 1959. Produção de Teo Macero e Fred Plaut como engenheiro de som. Blue Rondo à la Turk é uma versão de Rondo alla Turca da sonata Piano Nº 11 de Mozart.

03 - Take Five



Faixas:
01 - Blue Rondo à la Turk
02 - Strange Meadow Lark
03 - Take Five
04 - Three to Get Ready 4
05 - Kathy's Waltz
06 - Everybody's Jumpin'
07 - Pick Up Sticks

Músicos:
Dave Brubeck - Piano
Paul Desmond - Sax Alto
Eugene Wright - Baixo Acustico
Joe Morello - Bateria

Download Here - Click Aqui
Boa audição - Namastê.

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho até difícil alguem não conhecer este disco, a não ser q seja um real iniciante no mundo do jazz.
Discoteca básica. Atemporal. Incomparável.
Vale baixar, mas vale mesmo é comprar o original com encarte...

Zezo Maltez

Borboletas de Jade disse...

A temática não só o fato de não conhece-lo mas a maneira como é divulgado. Ainda se encontra uma resistência muito grande por parte das gravadores em divulgar e do publico em degustar um bom álbum de jazz ou outra expressão musical. Veteranos como nos não temos dificuldade em achar ou mesmo trazer a luz fatos que ilustra a dificuldade de um artista até o final da obra. Time Out é um daqueles álbuns de cabeceira para qualquer bom colecionador. Grato por comentar e fica na paz.

ZM-JazzRock disse...

Brubeck é o cara (pois está na ativa do alto de seus 80 e muitos anos). TIME OUT é sensacional e vale a pena conhecer todos os álbuns onde ele trabalha em cima do "tempo": TIME IN, TIME FURTHER OUT, COUNTDOWN (TIME IN OUTER SPACE) e também TIME CHANGES.
Se quiserem posso postar todos.
--zm