Blue In Green
"Blue in Green" é uma forma circular de dez compassos que se segue a uma introdução de quatro compassos e é tocada pelos solistas com variadas figuras de aumentação e diminuição; (Do texto de contra-capa de Bill Evans)
"Blue in Green" é a discreta miniatura em meio a um álbum de meditações mais extensas, cinco minutos e meio de solos calmos e ondulantes sobre um circulo de acordes. Sua breve estrutura de dez compassos - que rompe com os moldes-padrão de 32 ou 12 compassos para composição de jazz - e o andamento amplificam seu efeito de moto-perpétuo. "Você pode dizer onde a música começa mas não onde acaba... adoro esse suspense. Não apenas soa bem - é "imprevisível", declara, Miles com orgulho. Como o blues estruturado de "Freddie Freeloader", esta música quebra as regras estrita do modalismo. Ela segue um padrão tonal, mas, estruturalmente não ofereçe quase nada além disso. "Blue in Green" se baseia num ambiente plácido e numa sensação de suspensão sem nenhuma melodia evidente e se encaixa legantimente no sentimento geral do álbum.
"Blue in Green" é a discreta miniatura em meio a um álbum de meditações mais extensas, cinco minutos e meio de solos calmos e ondulantes sobre um circulo de acordes. Sua breve estrutura de dez compassos - que rompe com os moldes-padrão de 32 ou 12 compassos para composição de jazz - e o andamento amplificam seu efeito de moto-perpétuo. "Você pode dizer onde a música começa mas não onde acaba... adoro esse suspense. Não apenas soa bem - é "imprevisível", declara, Miles com orgulho. Como o blues estruturado de "Freddie Freeloader", esta música quebra as regras estrita do modalismo. Ela segue um padrão tonal, mas, estruturalmente não ofereçe quase nada além disso. "Blue in Green" se baseia num ambiente plácido e numa sensação de suspensão sem nenhuma melodia evidente e se encaixa legantimente no sentimento geral do álbum.
IT: Só vocês quatro nesta, certo, Miles?
MD: Cinco... Não, por que você não toca?
Mal se ouve o convite de última hora de Davis para que Coltrane tocasse nessa música supostamente pensada para quarteto. Como o álbum original atesta, Julian Adderly (sic) fica de fora em "Blue in Green". Em favor da brevidade e talvez para ressaltar o peso lúgubre do registro mas grave da composição (o estilo exuberante dele por certo seria contrário ao clima lento e sombrio da peça), decidiu-se ter apenas três solistas: trompete, piano e sax tenor. Tambem quase inperceptível (e ininteligível) ao fundo está a voz de Bill Evans pela primeira vez na sessão assumindo o comando e a direção do arranjo de uma composição.
IT: CO62292 - Número 3 - Take 1.
Evans com o acompanhamento de Chambers, dá início ao elemento mais conhecido da peça: a vivaz e agridoce introdução de quatro compassos. A história desses acordes introdutórios nos remete novamente à questão da autoria dessa composição. Evans contou ao escritor Brian Hennessey sobre uma visita que fez ao trompetista no final de 1958. "Certo dia no apartamento de Miles, ele escreveu numpapel as cifras se sol menor e lá aumentando. E falou: "O que você faria com isso?". Eu realmente naõ sabia mas voltei para casa e compus "Blue in Green". Evans naõ foi o primeiro músico a quem Miles desafiou com questões musicais por escrito. Davis transformou isso num hábito, conforme diz David Amram: "Eu estava no (Café) Bohemia co ele tarde da noite, dando uma volta pelo Washingtou Square Park e ele não falava nada havia uns vinte minutos. Então disse: 'Tente isso aqui'. Ele tinha escrito uma espécie de escala, umas cinco notas numa caixa de fósforos. 'Veja o que você consegui fazer com isso'.". A idéia em quatro compassos - um exercício de contínua suspensão tonal - que Evans desenvolveu a partir de dois meros acordes de veio à luz pela primeira vez em 30 de Dezembro de 1958, quando o pianista a incorporou em sua vaga sequência introdutória numa sessão com Chet Baker. Compare a abertura do tema "Alone Together" do álbum Chet, com a de "Blue in Green" como observa Peter Pettinger, biografo de Evans, ouvem-se "exatamente aqueles acordes".
No entanto, a introdução que Evans transportou para a sessão de Kind of Blue seria posteriormente modificada e desenvolvida com a intervenção ativa de Miles, captada enquanto as fitas rodavam. Evans interroga Davis quanto à extensão da introdução, Miles decide dobrar sua duração e em última análise, o crédito de composição parece ser devido à parceria de ambos.
BE: É melhor fazermos de novo... começamos dos últimos quatro compassos?
MD: Dos últimos quatro compasso, e ai você repete.
BE: Ah, faço duas vezes.
MD: Ai ficam oito.
BE: Tudo bem...
(estalar de dedos) IT: Take2.
O take 2 prossegue tranguilamente. Terminanda a introdução, soa o trompete com surdinade Miles enquanto Cobb ataca a caixa com escovinhas. A execução mínima de Evans passa para Chembers a tonalidade da estrutura de "Blue in Green". Mais do que em qualquer outra faixa do álbum, o baixista assume a responsabilidade de delinear tanto a estrutura tonal quanto a rítmica. Sua falta de familiaridade com o tema, porém, torna-se um problema. O take é interrompido quando os acidentes musicais de Evans e Chambers aparentimente não batem e o baixista toca uma nota errada. Miles pede que Cobb aumente a sultileza de execução.
(conversa de estúdio ininteligível)
MD: Com as duas mãos, Jimmy.
COBB: Hein?
MD: É só usar as duas mãoes e fazer omelhor que puder, entendeu?. Vai dar certo.
IT: Ok, número 3.
De novo o take 3 chega ao solo de Miles. Quando Cobb marca duas vezes no prato, Davis pára o take. Novamente Chambers esbarra uma nota e parece ter dificuldade com a forma da música. Evans reconfirm a duração da abertura;
MD: Tente de novo, Billy... um, dois, três.
BE: Vamos fazer com quatro?
A segunda tentativa do take 3 dura cerca de três minutos. A introdução conduz a um toque mais suave de Cobb no prato e um incisivo solo de surdina de Miles. Evans se apresenta com uma passagem ligeiramente vacilante, seguido de Coltrane num solo casual e com leve vibrato. Seu ritmo entrecortado quebra um pouco a textura sonhadora e contínua do tema. Novamente Chambers erra uma nota e o take é interrompido, embora Miles esteja feliz com o modo como a música está evoluindo. Evans verifica se ele e Chambers devem fazer a progressão de acordes em uníssono.
MD: Essa é a idéia.
BE: Ele (Paul) continua fazendo igual amim...
O take 4 avança até o solo de Miles, mas ouve-se um estalido causado possivelmente por um cabo de microfone defeituoso ou alguma conexão solta da mesa de som. O take pára. Mais uma vez Miles passa a marcação do tempo para Evans.
IT: Desculpe, pessoal. é culpa nossa.
MD: Não, não é. Não posso acreditar, não posso.
IT: Teve um pouco de estática aqui... Vão em frente.
BE: É um, é dois....
O take 5 preserva o mesmo estado de espírito e rende a única versão completa de "Blue in Green". A introdução de Evans é leve e arejada como inicialmente concebida, criando um ambiente pacífico para a entrada do grupo. O baixo mantém uma batida sitil com o esforço delicado do trabalho de Cobb com duas escovinhas na caixa. O solo com surdina de Miles chega com uma frase intensamente lânguida de três notas que se torna mais longa e ressonante graças ao eco natural do estúdio (aumentando o volume, o teto abobadado fica quase visível). Davis limita seu vocabulário segurando as notas longamente, dividindo o fraseado em uma série de exposições murmuradas em duas partes. A ordem incomum de palindromo dos solos em "Blue in Green" (trompete-piano-tenor-piano-trompete) acentua ainda mais a sensação circular da composição. Em contraste com a parcimônia de Davis a "dobrada" de Evans (como os músicos se referem à marcação dos acordes com subdivisão) cria uma sensação mais leve e com maior movimento. Mesmo num solo breve, ele exibe um impressionante comando de colorido e realce das vozes na execução harmônica. Coltrane encontra um campo rítmico entre Davis e Evans, tocando deliberadamente em andamento lento. Sua antiga adoração pela leveza arejada de Lester Young é invocada com resultado oportuno em seu solo pensativo e fugaz. Evans reapresenta o tema, construindo sua intensidade com uma última escalada de clusters e permite que a música se dissipa e desapareça gradualmente com uma prolongada nota mantida pelo arco de Chambers. "So What" e "Flamenco Sketches" podem ser louvadas poer sua simplicidade, mas "Blue in Green" - tanto em expressão quanto em construção - é a única composição de Kind of Blue que beira o minimalismo* absoluto. Ainda assim, abrange uma totalidade que maravilha tanto apreciadores quanto outros músicos de jazz.
"Se eu fosse compor uma canção, ela teria dez vezes mais coisas do que essa", observa o vibrafonista Gary Burton que acrescenta: " No entanto (Evans) fez uma música memorável praticamente do nada. Sempre fico impressionado com quem consegue compor uma peça minimal que gruda no seu ouvido e que continua interessante de ouvir várias vezes depois".
A música termina com uma abafada manifestação de reverência vinda da cabine técnica. Miles ainda insatisfeito, parte para uma dura em Chambers por ter segurando a nota final.
IT: Lindo.
MD: Se liga, Paul....
Não-identificado: É isso ai....
IT: Lindo....
* repetição (frequentemente de pequenos trechos, com pequenas variações através de grandes períodos de tempo) ou estaticidade (na forma de tons executados durante um longo tempo); ritmos quase hipnóticos. É frequentemente associada (e inseparável) da composição na música eletrônica ou até mesmo no punk rock.
Boa leitura - Namastê.
Um comentário:
Estou abismado com essa análise...
Obrigado por ter tais informações em portugues!
Blues in green é minha favorita, depois de so what, logicamente
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