terça-feira, 21 de julho de 2009

Interlúdio: Making of Kind of Blue 50th Anniversary Collectors Edition

So What
(Segunda Parte)


IT: Param
Não-Identificado: Desculpe
IT: Escutem. Vamos prestar atenção, porque se houver barulho durante essa... é tão baixinho que qualquer minimo ruido... MD: (ininteligivel).
IT: Cuidado co a caixa também - estamos captando as vibrações dela.
MD: Bom, isso faz parte.
IT: Como?
MD: Isso faz parte.
IT: Certo (ri) - mas os outros ruídos, não...Take 2.

Duas outras tentativas do take 2 não vão longe. Aprimeira termina quando a execução de Evans está nitidamente atravessada; a segunda é interrompida assim que Miles assobia e Adderlay pede masi orientações.

MD: Começar de novo
CA: Quando os ´sopros...

A fita pára e recomeça.

IT: Vamos lá, Miles. Take 3. (Toca o telefone da cabinetécnica).

Seguem-se duas tentativas malogradas do take 3, com um chiado audível no baixo e um contínuo ruído de fundo. Miles soa meio frustado.

MD: Tira isso. (ininteligível)

Seguem- mais um começo falso.

MD: Tira.

A fita pára e recomença, desta vez evoluindo "sans interruption" por So What, take afora e até o fim. O andamento do prelúdio está mais rápido e ainda assim solto e errante. A última nota do baixo antes do tema ressoa lomgamente no grave, com vibrato acentuado. Então Chambers toma fôlego e dedilha a conhecida frase de abertura. "Essa é outra coisa", observa Hancock. "A melodia aparece no baixo. Quantas pessoas fizeram isso antes?. Tem algumas músicas - 'Jack the Duke', com Duke Ellington). Mas em poucos casos é o baixista que apresenta bem tradicional no uso do padrão de "chamad-e-resposta", comum a tantos números de blues e gospel (evocado "Freddie Freeloade", até certo ponto). O tema percorre com leveza a forma AABB, construíndo gradual e logicamente, seduzindo suavemente o dedilhado nos primeiros quatro compasso, com Cobb marcando de leve no pratode condução. Então, quando o chimbal começa a suingar e metais se unirem no riff "Soooo What". Na terceira passagem, quando a melodia sobe cinco tom, Miles, Coltrane e Cannonball dão um toque de ênfase ao anunciado. A introdução recua meio tom e os metais retornam ao nivel da batida inicial. Se um único momento condesa a força refreada de todo o album, pode muito bem ser o que vem a seguir. "Quando Miles entra e começa seu solo e Cobb vem e marca o prasto na cabeça do compasso", diz Hancock, "não tem pra ninguém". Com a mais precisa noção de tempo, um simples golpe de Cobb no prato impulsiona a música ao máximo vigor, enquanto Miles faz um dos solos mais inesquecíveis da sua carreira - e do idioma do jazz.
Como um sussurro, a execução de Miles se insinua com sua inconfundível e quieta qualidade vocal. Languidamente "falado" em sucintas frases líricas, o solo de Miles, ao longo de seus quase dois munitos de duração, jamais se afasta do registro médio do trompete, notadamente np mesmo registro especial da voz humana.
Para George Russel, o solo é a música. "É um dos solos mais lindos de todos os tempos. Ela é a melodia". Russel estava tão convencido disto que em 1983, escreveu um arranjo do solo em partitura para sua "Living Time Orchestra", de 21 músicos. "Por que não juntar todo mundo, independente do instrumento, para tocar isso como linha melódica?. É só deixar todo mundo se juntar e ser Miles". (Até a conclusão desta livro, o álbum da Blue Note em que a peça aparece, So What. estava fora de catalogo). O solo de Miles em "So What" também ilustrade forma brilhante outros dois aspectos da sonoridade de seu trompete. O primeiro é seu gênio para a simplicidade. Há quase um exagero de economia em seu método, contornando sons prolongados e silêncios para obter um paçpável senso dramático. A outra característica distinta de Miles é a refereda tendêmcia de adiantar o titmo e jogar com as divisões. Ele avança e atrasa a execução, deslocando-se sobre e em meio ao trabalho impulsor de Cobb no chimbal. Sua influência tem claras características vocais. A descrição de Davis de uma de suas cantoras favoritas reflete com exatidão seu próprio comportamento rítmico: "(Billie Holiday) canta atrasado no pulso e ai se solta - e volta na cabeça exata do tempo". Ele acrescentou: "De vez em quando, você tem que quebrar a batida da seção rítmica e isso mantém todo mundo junto". Em contraste à sensação de descolcamento do tempo em Miles, os solos de Coltrane e Cannonbal em "So What" exploram sem cessar um panorama novo, liberto das funções harmônicas. O solo de Coltrane trabalha por partes, impelido a certa altura por uma evolução de acordes com appoggiatura de Evans. A concentração de Coltrane é audível: ocorre uma pausa antes do encadeamento modal e em seguida, uma linha mais fluida e melódica, injetando um ritmo exuberante que contrasta com a ambiente tranquilo que o precedeu. Sua linha lírica é a menos modal entre os solistas, deslizando mas por intervalos cromáticos do que pelos determinados intervalos da escala modal de "So What". Mas, dada a liberdade inerente ao modalismo, trata-se de uma licença criativa fácil de accitar - e que funciona. "Os únicos que estavam realmente tocando conforme aquelas escalas eram Bill Evans, Miles e um pouco Cannonbal ". A sequência de solos de pouca variação ao longo do álbum, torna fácil ouvir, na perfornance de Adderley, referências ao que viera antes; sax alto claramente faz uso do rumo que ouve de seus colegas de sopro. Como o próprio Adrerley disse certa vez: "Escuto o que Miles fez, já que ele sempre toca antes de mim, e depois repito a mesma técnica - talvez n[ao a mesma idéia, mas a mesma técnica e passo a explorá-la à minha maneira". Evans parece hesitar por um momento antes de iniciar seu solo, como se confirmasse que Cannonbal realmente terminou, desenvolvendo delicadamente até os acordes de resposta quando os metais assumen o papel de acompanhadores soprando com leveza o riff "Soooooooooo What". Habilmente ele anuncia a inicio do solo com um cluster repousante e ligeiramente sincopado e dá o seu melhor. Evans é tipicamente discreto em sua primeira inclusão no álbum. De início, suas frases de notas soltas soam hesitantes. Conforme a linha dos sopros prossegue resolutante, ele faz circular a riqueza e as nuances de uma série de acordes, empregando o pedal tonal' do Steinway, que permite s sustentação precisa de notas em um tempo lento - para dar realce ao seu matiz. Apenas ao término do solo ele se permite relevar um forte instinto dramático. "Fico pensando no fim do solo de Bill em "So What", diz Herbie Hancock. "Ele dobra umas frases de acorde com um intervalo de segunda. O que ele toca são segundas maiores". Tocar duas notas juntas - uma sendo apenas um intervalo de segunda, ou um intervalo maior, acima da outra - surpreende pela dissonância. Evans toca uma sequência delas. "Nunca ouvi ningém fazer isso antes. Ele obedece ao critério modal mais do que aqualquer outro, talvez. Isso me abriu toda uma visão".
Um curto solo de Chambers conduz à reexposição do tema principal. Quando os metais saem, a seção rítmica prossegue, com Evans incitando o encerramento com ligeira ênfase e a música termina cheia de arestas. O público não ouviu esse final: para o álbum lançado, adotou-se uma suave "fade out". Imediatamente os músicos se dispersam da posição de performance, empolgados depois de um take magistral. Cannonball dissolve qualquer estado melancólico que a música possa ter exercido, com seu humor frívolo e uma letra de Rodgers e Hart, enquanto a frase do baixo de "So What" é vocalizada por outro menbro da banda.

CA: (cantando) With a Soong in my Heart
Não-Identificado: Dinga-dinga-dinga-doogong.....

Fonte: Kind of Blue - A Historia da obra-prima de Miles Davis (Ashley Kahn) pp. 116/121.

Boa leitura - Namastê.

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