Se há uma coisa de que faço ou tento fazer é a absoluta questão de ser democrático. Então ai vai uma postagem do site
Morphinne -"
Rudy Van Gelder - O mago do som", sobre
Rudy Van Gelder um dos maiores engenheiro de som na historia do jazz. Sei que tal escolha pode ser até considerada de natureza polêmica, mas como sua contribuição é marcada no jazz e existe uma grandeza escondidas para muitos, creio que tenho bons motivos (é o que não falta) para publicar essa materia. Para mim é até uma obrigação moral, passo que muitos musicos passaram nas maõs de Gelder e sua parafernalhias, nos fundo da casa dos seus pais. Segue Postagem - "
Rudy Van Gelder nasceu em
02 de Novembro de 1924 na cidade de
Jersey City -
Nova Jersey, tornando-se o legendário técnico de som dos anos 50 até os dias de hoje. Rudy participou das mais famosas gravações de jazz dos anos 50 pelo selo
Blue Note Records. Em 52 foi apresentado na gravadora B
lue Note pelo então amigo e saxofonista "
Gil Mellé". Rudy tentou fazer uma carreira paralela na
Blue Note, mas consequentemente acabou associada ao jazz, gênero do qual
Rudy se destacou pelas qualidades sonoras das gravações. Aos 82 anos,
Rudy é o mais famoso engenheiro de som na história da música. Na lendária casa-estúdio em
Englewood Cliffs,
New Jersey, Rudy lembra: “
Nasci aqui e nunca pensei em me mudar, sou privilegiado porque meu trabalho chegou ao mundo todo sem que eu precisasse sair de casa”, comenta o mais importante, famoso e melhor – sim, é possível afirmar sem pestanejar – engenheiro de som na história não apenas do jazz mas da música. Afinal,
Van Gelder criou escola na área clássica (através das gravações para a etiqueta
Vox) e continua ditando padrões também para o mundo pop através do eterno poder de fascinação dos trabalhos para os selos CTI, restige,
Blue Note e
Impulse!, redescobertos (e fartamente sampleados) por DJs, produtores e artistas a geração hip-hop. Tímido, introvertido, de fala mansa e baixa, gestos calmos e olhar atento, permanece um perfeccionista obsessivo. Em uma idade na qual a maioria pensa em se aposentar e desfrutar do remanso do lar, Rudy nem sonha em parar. Continua trabalhando de segunda à sábado, e eventualmente também aos domingos se for para atender a um cliente antigo em situação emergencial. Sua agenda está lotada. Os pedidos para reservas de horários chegam do mundo todo, especialmente do Japão, onde é reverenciado como um “deus do som”, colocado no mesmo patamar de
Miles e
Coltrane, para citar apenas dois gênios com quem muito gravou. Não há astro em ascensão que não ambicione gravar no estúdio de
Van Gelder, a um alto preço que a fama do craque lhe permite cobrar. Mas, além do numerário exigido para bancar tal upgrade, os artistas ainda precisam disputar espaço com as grandes gravadoras que, ininterruptamente, solicitam remixagens e remasterizações de antigos trabalhos. Além da
EMI (detentora do catálogo da
Blue Note), agora também a
Concord, que em novembro de 2004 adquiriu o conglomerado
Fantasy com o acervo da
Prestige por 83 milhões de dólares, onde investiu em uma linha de relançamentos com a grife
RVG. Hoje, mais do que nunca e no mundo todo a “assinatura” de
Van Gelder ajuda a vender um disco tanto quanto o nome do produtor ou do artista. Às vezes, até mais do que o artista, dependendo do caso. O engenheiro de som
Toninho Barbosa cuja fama de “Van Gelder brasileiro” já chegou ao conhecimento do ídolo, é um exemplo típico do fanatismo. “Às vezes eu nem conheço o músico, mas se o disco for gravado pelo
Van Gelder eu compro na hora”, confessa. E os músicos, que não raro enfrentam entreveros com engenheiros, tratam
Rudy como um colega, reverenciando-o. Em uma famosa entrevista ao historiador
Leonard Feather, public
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ada na
DownBeat de
26 de abril de 1973, no auge do estouro de “2001”,
Eumir Deodato deu crédito a
RVG pelo sucesso de sua versão, comparando-a com as outras gravações: "
They didn’t have Rudy Van Gelder!
He made the whole difference”. Vinte e três anos depois, o próprio
Rudy, em entrevista à
Downbeat de f
evereiro de 2006, sem falsa modéstia lembrou ter sido o primeiro engenheiro a receber crédito na ficha de um disco. “
Foi num 78 rotações do Lennie Tristano, com as músicas “JuJu” e “Passing” em 1951, e ele colocou meu nome no selo de tão impressionado que havia ficado com o meu trabalho, porque eu já conseguia fazer overdubbing naquela época”, explica, lembrando que sua estréia profissional aconteceu para o selo
Carousel, em uma gravação de “
We’ll be together again” do organista
Joe Mooney. Mais tarde em 1953 começou sua histórica associação com a
Blue Note, motivada por um LP de 10 polegadas do saxofonista-baritono
Gil Melle, gravado de forma independente e negociado pelo músico com a companhia dirigida por
Alfred Lion e
Francis Wolff. “
Alfred ficou impressionado com a sonoridade, e me procurou perguntando se eu seria capaz de reproduzi-la em outros discos. Eu disse: “OK, nenhum problema, é só marcar”, e ele então começou a mandar todo o cast para gravar comigo”, relembra. As fotos daquele timaço, tiradas por
Francis Wolff durante as sessões, estão reproduzidas no DVD durante o depoimento de Rudy e também na galeria (com 52 fotos) na seção de “extras”. Esta e outras histórias fascinantes são narradas de viva voz pelo próprio
Rudy na entrevista concedida à
Michael Cuscuna para o projeto “
Blue Note perfect takes”, combinando
CD e
DVD.
Van Gelder gravou quase tudo da BN no período
1953-1971, criando o famoso padrão
RVG de qualidade, que logo depois colocaria à serviço de selos como
Savoy,
Vox, P
restige e todos os comandados em diferentes fases pelo produtor
Creed Taylor (
Bethlehem,
Impulse!,
Verve,
A&M e
CTI), até hoje um de seus maiores amigos e fãs. No album “
Perfect takes”, porém, estão apenas faixas da
Blue Note selecionadas por
RVG de acordo com a sua preferência pessoal, “
sem a obrigação de incluir as músicas mais conhecidas”, conforme explicita no texto do livreto. Curiosamente as duas primeiras faixas – “
Four in one”, de
Thelonious Monk e “
Budo” de
Miles Davis – não foram gravadas por
Van Gelder e constituem raras exceções que ele aceitou remasterizar sem ter sido o engenheiro original. “
Já lido com meus próprios problemas, então não quero ter que resolver os problemas dos outros”, justifica. Mas, ao ouvir as primeiras prensagens em CD de “
Birth of Rhe Cool” de
Miles e “
Genius of Modern Music” de
Monk, sentiu que ambos precisavam de sérios ajustes. Pediu para receber as fitas originais de cada uma das faixas de “
Birth of The Cool” e fez uma nova masterização que soava infinitamente superior à do primeiro relançamento em CD, realizada a partir de uma matriz que era de terceira geração, cópia de cópia. As outras oito faixas nasceram com o autoditada
Rudy, fascinado por eletrônica e rádio-amador, paixões que por um tempo conseguiu conciliar com a profissão de
optometrista (ciência que trata da visão e problemas não patológicos sobre o ponto de vista físico). “
See see rider”, nas mãos mágicas de
Jimmy Smith, em 16 de junho de 1959, ainda pertence à fase inicial do estúdio improvisado na sala de estar da casa de seus pais, em
Hackensack, onde nasceu também o antológico “
Blue train”, de
Coltrane em 57. No mês seguinte (julho de 59) nosso herói já estava operando um novo “
Van Gelder Studio”, em
Englewood Cliffs, no mesmo local onde permanece até hoje. “Alguns produtores queriam gravar à noite, e isso começou a incomodar meus pais”, detalha. Orientou os arquitetos, acompanhou todos os passos da construção e deu no que deu: uma acústica fenomenal, com teto em forma de abóbada policêntrica, com fascinante eco natural. Ali atingiu o ponto máximo no equilíbrio de instrumentos, de modo a gravar todas as sessões diretamente para do
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is canais, “ao vivo”, sem deixar de captar um detalhe sonoro sequer por mais baixo ou sutil que fosse. Proeza fartamente demonstrada nas faixas registradas entre 1960 e 1966 por
Hank Mobley (“Remember”),
Freddie Hubbard (“Arietis”, com
McCoy Tyner,
Elvin Jones e o esquecido
Bernard McKinney no euphonium),
Kenny Burrell (a célebre faixa-título de “Midnight blue”, trazendo
Ray Barretto nas congas),
Joe Henderson (“Mode for Joe”),
Donald Byrd somando trompete e coral na peculiar atmosfera contemplativa de “Cristo Redentor”,
Wayne Shorter na modal “Footprints” e
Art Blakey em uma abordagem surpreendentemente incendiária de “Moon river”, com
Hubbard e
Curtis Fuller. “
Quando ouço estas faixas, sabendo a limitação do equipamento daquela época, elas parecem resultar de um milagre”, comenta
Rudy. No DVD apropriadamente intitulado “
A work in progress” – emocionante desde a abertura com a vista panorâmica da Ponte George Washington que liga New York a New Jersey –
RVG, na sala de controle do estúdio, conversa com o produtor
Michael Cuscuna durante filmagem realizada em 22 de abril de 2004. O diretor
Chuck Fishbein passeia com a câmera por quase todos os cantos do estúdio (faltaram apenas a cozinha e a sala dos “discos de ouro”), mostrando os dois Steinways empregados por
Bill Evans na fase da
Verve, o teto, o tratamento acústico nas paredes.
Rudy mostra a máquina
Scully de “corte”, usada para fazer a matriz do vinil, e relembra sua carreira e os trabalhos para todos os selos, não apenas para a
Blue Note. Mostra carinho especial pela prolífica e contínua associação com
Creed Taylor, iniciada no final dos anos 50. Enquanto a gravação de
Eumir para “Zarathustra” soa ao fundo, desfilam pela tela as belas capas da CTI – LPs de
Wes Montgomery (uma rara prensagem de “Road song” rebatizado “Cancion de ruta”),
Milt Jackson,
Hubert Laws,
Joe Farrell e
George Benson. Dá a
Creed Taylor o crédito por tê-lo convencido a adotar o sistema de multi-tracks em meados dos anos 60 (“ele queria fazer discos com grandes formações orquestrais”), mas esquece de comentar que seu ingresso na era digital, em janeiro de 1984, também se deu por insistência de
Taylor. Mais especificamente para o disco “Red on red”, de
Claudio Roditi que, ironicamente, marcou a volta da gravação “ao vivo” no estúdio, captada pelo equipamento
Mitsubishi X-80 com mixagem direta para dois canais. Cinco anos depois, em junho de 1989,
Rudy se converteria definitivamente para o esquema de gravação digital em 24 canais, usando uma máquina
Sony, novamente persuadido por
Creed, que filmaria em alta definição, no
Van Gelder Studio, a gravação do mega-projeto “Rhythmstick”, editado em CD e LaserDisc, juntando
Dizzy Gillespie,
Tito Puente,
Hilton Ruiz,
John Scofield,
Airto, Flora Purim,
Phil Woods e muitos outros. Por fim temos a fantástica “The Rudy Van Gelder editions – The complete collection”, lançada pela Blue Note reunindo
171 CDs à venda pela módica quantia de dois mil e setenta dólares. Mas é preciso correr, pois se trata de uma edição limitada. A sublime clareza, a apurada definição de timbres, o completo equilíbrio, a perfeita reverberação e a sedutora profundidade sonora, traços marcantes do padrão
RVG, podem ser contemplados em discos como “Somethin’ else” (
Cannonball Adderley), “Moanin’” (
Art Blakey), “A new perspective” (
Donald Byrd), “Cool struttin’” (S
onny Clark), “Blue train” (
Coltrane), “Maiden voyage” (
Hancock), “Action” (
Jackie McLean), “Sidewinder” (
Lee Morgan), “Newk’s time” (
Sonny Rollins), “Son
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g for my father” (
Horace Silver), “Speak no evil” (
Wayne Shorter), “Life time” (
Tony Williams) e “The eminent J.J. Johnson”. A coleção – calcada na “
RVG series” iniciada em
1999, quando a
Blue Note convidou
Rudy para remasterizar, com tecnologia de 24bits, estes e outros clássicos – abriga também a compilação “Perfect takes”, vendida separadamente. Ainda resta algum sonho para
Van Gelder? “
Eu gostaria de poder gravar novamente todos esses artistas, usando o equipamento que tenho agora”, devaneia o alquimista sonoro que, vejam só a grande ironia, nunca ganhou um Grammy, embora vários álbuns gravados em seu estúdio, uma das principais catedrais do jazz, tenham faturado a estatueta. Mas, com uma vida dessas quem precisa de Grammy?" Aprecie com moderação!.
Boa audição - Namastê.
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