sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Momentos Miles Davis in Forever

"Uma coisa que eu sei é que no ano depois que nasci um tornado atingiu St. Louis e rasgou tudo. (...) Talvez por isso eu tenho um temperamento ruim, às vezes furacões deixa alguma coisa criativa violenta em mim. Talvez ele deixou alguns de seus ventos fortes. Você sabe, você precisa de vento para tocar trompete. Eu acredito em mistério e sobrenatural, um furacão com certeza é misteriosa e sobrenatural "
Miles Dewey Davis Jr
(1926-1991)

Miles Davis com 8 ou 9 anos

Miles Davis, siter Dorothy Mae, irmão Vermon Davis
e a mãe Cleota Henry H. Davis (Mama-Cleo)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ela é Uma Torch-Singer - Uma Cantora que Queima de Paixão

Ben Webster, Billie Holiday, guitarrista desconhecido e Johnny Russell
pose no Harlem em 1935, em Nova York.
(Foto Arquivo Jazz JP Redferns)

John Hammond, o eterno promotor de Billie convence Irving Mills (1894-1985), o empresário de Duke Ellington (Edward Kennedy "Duke" Ellington 1899-1974) de que ela e a cantora ideal para Simphonny in Black, um curta-metragem de nove minutos de duração que "Duque" está preparando e cuja produção é garantida por Fred Waller (1886-1954) promotor e posteriormente o inventor do Cinerama em 1950. O cenário é simplista. Um triângulo amoroso, duas mulheres e um homem. No papel da mulher desprezada entra Billie, que canta uma peça escolhida por Duke especialmente para ela, “Saddest Tale”, uma soberba canção de blues em que seu fraseado recorda o estilo vocal de Bessie Smith (1894-1937) . Ela se agarra ao homem que a deixou por outra. Ele a joga ao assoalho com um empurrão. Ela continua a cantar no chão, mesmo vencida e machucada. São as queixas de uma amante desprezada, mas também a paixão de uma mulher por seu homem. Duke Ellington demonstrou grande discernimento, ele viu em Billie aquela que não tinha qualquer chance, uma mulher a quem se mente e a quem se nega amor. Perfeitamente normal que ele tenha escolhido para o papel de vitima. Quanto ao ator, o dançarino EarlSnakehipsTucker (1905-1937), chamado de boa constrictor (jibóia) por seu contorcionismo por inventar o estilo de dança “Snakehips” (quadril de cobra) em 1930. De uma elegância arrastadora, faz o tipo perfeito do cafetão. Ela só tinha dezoito anos. Seu corpo desabrocha, seu rosto é encantador sobe os cabelos curtos. Suas bochechas arredondadas lhe dão certo aspecto de ingenuidade e candura. O timbre rouco de sua voz comunica perceptivelmente a mágoa pungente. É como se fosse à primeira ferida causada à inocência. Desde seu primeiro aparecimento no cinema, Billie alcança total sucesso em criar um personagem cuja vida e canções se confundem. Essa osmose imediata acrescenta a seu desempenho uma força singular, a sensação de que ela revela ao cantar uma verdade que se encontra a ponto de aflorar. Mas aquela de quem se fala muito então é uma nova cantora de dezoito anos, que faz dançarem as multidões que acorrem ao Savoy Ballroom, uma garota que saiu do nada e que se produziu com uma das melhores orquestras do momento, do percursionista Chick Webb (William Henry Webb 1905-1939). Essa garota sem a menor experiência hipnotiza as multidões que vão ao Savoy. Billie precisa ver por si mesmo. Ao chegar ao grande salão de baile, ela sobe a majestosa escadaria de pilares de mármore, iluminada por lustres de vidro laminado. Imensa sala de dança está abarrotada de gente. Ela se enfia discretamente em um canto sem sequer tirar o casaco. Mas essa Ella Fitzgerald de fato é excelente... Que energia! Ela estala os dedos enquanto canta, martela o chão com os pés para marcar o ritmo. Tem um embalo dos infernos, essa peste. Como ela gostaria de estar em seu lugar, a estrela do Savoy, cantando com a grande orquestra de Chick Webb, em vez de estar escondida em um restaurante, cantando no meio de barulho dos talheres contra os pratos, meio abafada pelas conversas! Ela não imaginava que dois anos mais tarde em 1937 iria enfrentar Ella Fitzgerald nesse mesmo Savoy Ballroom, acompanhada por Count Basie (William "Count" Basie 1904-1984) e sua orquestra, e seus admiradores respectivos discutindo durante anos qual duplas, Holiday/Basie ou Frizgerald/Webb, estivesse conseguido superar a outras. Mas por agora essa concorrente expansiva, de dinamismo irresistível a deixou inquieta. A carreira de Ella esta deslanchando como impulsionada pela roda da fortuna. É um reconhecimento imediato, enquanto Billie tem o sentimento de que sua está patinando. Todavia em abril de 1925, Billie é beneficiada por um golpe de sorte na pessoa de Ralph Cooper (1908- 1992), apresentador famoso e estrela no Apollo Theater e uma celebridade no Harlem. Acaba de montar sua orquestra. Um dia em que está jantando no Hot-Cha, uma jovem cantora sobe à pequena plataforma no canto do restaurante. Não lhe chama nenhuma atenção em particular, está habituado com todo tipo de gente envolvida no show business. Entretanto, no momento em que escuta sua voz, ele esquece seu espaguete. (“Foi nesse momento que eu observei que ela era linda, que tinha um sorriso encantador e sobretudo que cantava de um jeito como jamais escutara antes. Dava a impressão de que chorava ao cantar...Eu nunca havia escutado uma voz assim, descansada, tranqüila, ao mesmo tempo lânguida e sensual. Aquilo não era blues, eu nem sequer sabia do que se tratava”). Depois de haver organizado numerosas “noites” de calouros no Apollo, Ralph Cooper sabia perfeitamente detectar um talento quando cruzava com um. Pede logo para falar com o gerente do Hot-Cha. Ele promete citar seu restaurante durante a transmissão de rádio difundida diretamente do palco do Apolo, se ele concordar em emprestar-lhe Billie. Tão logo acabou de apresentar seus números, ele já lhe propôs ser a cantora de sua orquestra. Billie esta no céu. Ralph Cooper é conhecido por seu bom gosto em matéria de artista e é, além disso, um personagem muito influente. Sua grande orquestra vai alcançar o maior sucesso. Com o coração batendo forte no peito, Billie chega ao Apolo para seu primeiro ensaio com a orquestra. Na hora mandam que volte pra casa a fim de escolher um vestido adequado para o palco. De fato, ela não tem nada à altura, e Cooper lhe compra um vestido e um par de sapatos. O ensaio não chega a um resultado definitivo. A orquestra não tem muita fé em sua futura apresentação. Mas Cooper tem confiança em sua intuição. Billie canta algumas canções de amor que não comovem muito o difícil publico do Apolo, mas é notada pela imprensa que a menciona como ”uma cantora fértil de encanto”, e também a chama de Torch Singer, “uma cantora que queima de paixão”. Seja com for Cooper propõe que fique uma segunda semana. Por precaução também contrata um cantor de Chicago, Herb Jeffries (Herbert "Herb" Jeffries 1911-), o primeiro cowboy negro a desempenhar o papel de um filme de faroeste. Ele pede a Billie que cante algumas peças mais arrojadas. A idéia é boa. Billie interpreta “Them There Eyes” e “If the Moon Turns Green”. Essas canções estão mais de acordo com o gosto do público do Apollo que aplaude e pede bis muitas vezes. Infelizmente, Ralph Cooper desiste de sua experiência com a grande orquestra e se torna em vez disso um dos mais famosos disc Jockeys. Billie retorna decepcionada para o Hot-Cha. Mais uma oportunidade que se perdeu. Existe uma fotografia dela com os músicos, nos fundos do Apollo Theater, usando seu vestido quadriculado de meninazinha. Bem ao lado dela esta Bem Webster (Benjamin Francis Webster 1909-1973) como sax debaixo do braço, mas virando os grandes olhos para o outro lado. Ela era vista sempre em sua companhia. Bem é um saxofonista da orquestra de Fletcher Henderson (James Fletcher Hamilton Henderson, Jr. 1897-1952), um homem bem do jeito que ela gosta um rapaz bonito com caráter explosivo. Tem igualmente uma boa inclinação para a garrafa e a partir do momento em que bebe um copo ou dois a mais, se torna violento. Billie esconde as manchas roxas no rosto sob uma espessa maquiagem. A impressão que se tem é a de que Billie gosta de ser desenferrujada a pancada. Será essa a única forma de se sentir prazer físico depois que foi estuprada? Recria circunstancial similar e paradoxal, até mesmo incompreensível. Todavia, é assim com Billie. Com seus homens ela nunca para de produzir metaforicamente a violação de sua infância. Exorcizar o medo, negar a violência do acontecimento revivendo suas circunstâncias vezes sem contas? Ou então quer ser castigar a força de golpes para ser perdoada pela imundície de seu corpo? Esforça-se para ser espancada, provoca uma briga após outra, dar pancada para que o adversário retribua e depois se entregar ao lavar um ultimo soco ou bofetada, sem ter mais força sequer as coxas. Era assim que ela sentia prazer? Sadie (Sadie Fagan) fica profundamente inquieta por esse amor de cadela. É difícil esconder da mãe os olhos roxos ou a cara inchada. Mas difícil ainda é lhe confessar até que ponto ela gosta disso. E voltam de novos as mesmas queixas da mãe sobre os homens, são todos uns salafrários, não prestam para nada, são uns exploradores. Os queixumes da mãe a exasperam. Sadie, que foi deixada por todos os homens de sua vida, sente por eles um ressentimento violento. Cada homem que aparece diante dela é um perigo em potencial e ela se esforça ao máximo para denegri-los. O único que jamais caiu em sua graças foi Lester Young (Lester Willis Young 1909-1959). Infelizmente, ainda que Billie amasse Lester, ele são lhe agrada. É doce demais, frágil demais. Não é viril o bastante perante seus olhos. Jamais teria sido capaz de levantar a mão para ela. E depois, ele sabia fazê-la sorrir, ele a deixava feliz, despertava nela o entusiasmo por seu próprio talento. Billie jamais poderia escolher um homem assim. Seria bonito demais. Sadie resolve fechar sua porta a Bem Webster. Uma noite em que ele vem de carro buscar Billie, ela se atira sobre a filha, armada de um guarda-chuva. E chega mesmo a ataca-lo. Billie lhe agarra os braços e chega até a empurrá-la para um lado. Se fosse preciso, teria até mesmo passado por cima do corpo dela. Fonte: Billie Holiday - Biografia, Sylvia Fol.

Saddest Tale

Them There Eyes

If The Moon Turns Green

Boa Leitura - Namastê.

Grand Show Wednesday

Cartaz publicitário do show de Billie Holiday no Apollo Theater,
em 24 de maio de 1944 - NY.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

U2 - Angel of Harlem



"Angel of Harlem" é uma homenagem à cantora Billie Holiday da banda irlandesa U2. É a décima faixa e segundo single do álbum Rattle and Hum, lançado em 01 de dezembro de 1988. A canção chegou na posição nº 9 no UK Singles Chart (Reino Unido), nº 8 no "Dutch Top 40" (Países Baixos), e nº 14 lugar na Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, além da primeira posição na Mainstream Rock Tracks.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Mr. Sarah Vaughan


Sarah Vaughan - Sometimes I'm Happy (1954)

Billie Holiday - Travelin´Light


Billie Holiday - Sessão ao vivo, television broadcast, Paris, France, 18 Novembro de 1958Billie Holiday, (vocal ) Mal Waldron (piano), Michel Gaudry (baixo), desconhecido (bateria)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ladies of Jazz - As Novas e Belas Faces do Jazz

O jazz, assim como a ópera, sempre teve suas divas. Foi ao microfone que as mulheres deram sua principal contribuição a esse gênero musical. O exército das grandes cantoras supera em muito o dos cantores que se destacaram. Para cada Frank Sinatra há uma Billie Holliday, uma Ella Fitzgerald, uma Sarah Vaughan. Presença constante no jazz, a diva foi mudando de perfil ao longo do tempo . A sua mais nova encarnação surgiu no fim da década passada. Seus principais atributos: a sensualidade (devidamente ressaltada pelas gravadoras, que sabem que homens de meia-idade compõem uma fatia respeitável do público interessado nesse tipo de música) e o fato de emprestarem um tratamento pop ao jazz – em vez de dar um tratamento jazzístico ao popular. É essa receita que tem garantido o sucesso de intérpretes como Diana Krall, Norah Jones e Jane Monheit. O caso da americana Norah Jones é emblemático. Ela é filha do citarista indiano Ravi Shankar e de uma enfermeira americana. Só ficou sabendo que tinha pai famoso na adolescência. Recusa-se a falar sobre ele e diz que seu interesse por música jamais esteve relacionado à profissão paterna. Seus estudos de piano e saxofone deram-se por indicação de um psicólogo: ela era uma criança hiperativa e a música fazia parte de uma terapia. Foi tiete do roqueiro Bon Jovi antes de se interessar por Louis Armstrong ou Miles Davis. Mas foi um selo de jazz que resolveu lançá-la: o Blue Note, que gravou vários grandes nomes do gênero e resolveu dar tratamento de grande estrela à novata. Compensou. Gravado em 2002, seu primeiro CD - Come Away with Me, vendeu 3 milhões de cópias nos Estados Unidos. No Brasil, foram cerca de 30.000 unidades, valor significativo para um artista internacional. A crítica também gostou. Norah é uma das principais figuras ao Grammy, o Oscar da indústria fonográfica. "O jazz é essencial no meu trabalho, mas tenho muitas outras influências, como o country", explica . A pioneira nessa seara foi a canadense Diana Krall. No início da carreira, ela preferia tocar piano a cantar. No fim dos anos 90, resolveu fazer algumas experiências para ver se ampliava seu público. Aprendeu alguns standards da Bossa Nova, uma ou outra balada célebre e deu-se um banho de loja. A loiríssima sempre foi uma mulher bonita, mas quem a viu tocar antes da metamorfose diz que seu visual era mais relaxado. Atualmente, ela não sobe ao palco sem estar impecavelmente produzida. Seus três últimos discos venderam juntos mais de 3 milhões de cópias. When I Look in Your Eyes, que ela lançou em 1999, tornou-se o primeiro álbum de jazz a concorrer ao Grammy na categoria principal em 25 anos. Seu álbum seguinte, The Look of Love (2001), entrou na nona colocação da parada americana. Até veteranas do jazz mudaram seu comportamento por causa do fenômeno Diana Krall. Por exemplo, a pianista brasileira Eliane Elias. Ela se notabilizou pela destreza ao instrumento. Vez ou outra adicionava vocais a seus álbuns. No entanto, seu CD - Kissed by Nature, traz canto em nove das treze faixas. "Fiz um disco para o fã de jazz que anseia por ouvir canções suaves após um dia de trabalho", afirma Eliane. O ecletismo e o flerte com gêneros mais populares não são uma novidade no jazz. Nos anos 50 e 60, Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald já subiam ao palco para cantar um sucesso dos Beatles ou uma versão da Bossa-Nova Águas de Março. Ao fazerem isso, freqüentemente reinventavam a música, seja pelo virtuosismo técnico, que as levava a quebrar um fraseado, seja pela pura força de sua interpretação. Diana Krall e companhia não vão tão longe. Elas dão um verniz refinado ao pop – ao mesmo tempo que revisitam clássicos da tradição do jazz. Talvez lhes falte algo da profundidade emocional de suas antecessoras. Mas ninguém vai negar que é gostoso ouvi-las. Graças a elas o jazz está saindo do nicho em que se encontrava, para tornar-se novamente um gênero grande e rentável. Entre os fãs das novas divas, há tanto senhores de meia-idade que conhecem as interpretações de Bessie Smith de trás para a frente quanto uma garotada que até pouco tempo atrás estava feliz com Alanis Morissette.

Font: Sérgio Martins, Veja On-Line Ed. 1789 (12/02/2003)